ARACAJU/SE, 23 de agosto de 2025 , 10:05:52

Maria do Carmo do Nascimento Alves: um legado que transcende fronteiras

Neste 23 de agosto de 2025, a ex-senadora Maria do Carmo do Nascimento Alves completaria 84 anos de vida. Ela faleceu em 31 de agosto de 2024. Quase um ano após sua morte, ela permanece viva na memória dos familiares, amigos e dos sergipanos. Deixou seu nome cravado na história de Sergipe e do Brasil. Forte, humilde, determinada, forjada para o trabalho e vocacionada a servir ao próximo, ela desenvolveu um enorme trabalho social, deixando um legado de bem servir, sobretudo aos mais necessitados.

 

Maria do Carmo do Nascimento Alves nasceu em Cedro de São João, SE, no dia 23 de agosto de 1941, filha de João Batista do Nascimento e de Marinete Alves do Nascimento. Formou-se em direito pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 1966.  Casada com o ex-governador João Alves Filho (1941-2020), deixou três filhos: João Alves Neto, Ana Maria e Maria Cristina, e quatro netos.

Mulher forte e determinada, Maria do Carmo, até mesmo por ser casada com o ex-governador Joao Alves Filho, um dos mais brilhantes políticos do Brasil, acabou por também ingressar na política, inclusive pelo reconhecido trabalho social que já desenvolvia ao lado do marido que, dentre outros cargos foi prefeito de Aracaju e governador do Estado. Assim, nas eleições de outubro de 1998, elegeu-se senadora por Sergipe na legenda do PFL. Tomou posse em fevereiro de 1999. Foi a primeira mulher eleita senadora pelo estado de Sergipe e a primeira mulher no Senado Federal a cumprir três mandatos consecutivos de 1999 a 2023. Antes, em 1996, ela obteve o terceiro lugar na disputa pela prefeitura de Aracaju, em sua primeira disputa eleitoral. Durante sua passagem pelo Senado, Maria do Carmo Alves se licenciou três vezes para chefiar secretarias em governos do marido.

Junto ao esposo João Alves Filho, Maria do Carmo acolhia e era acolhida pelo povo

 

Maria do Povo – Aclamada carinhosamente como Dona Maria pelo povo sergipano, no estado, o nome de Maria do Carmo evoca imediatamente, dentre outros feitos, o carinho e a eficácia do ‘Pró-Mulher’. Este programa, trouxe uma revolução de esperança e cuidado, com uma unidade móvel que viajava pelos recantos mais isolados do estado, levando consultas preventivas de saúde e atenção às mulheres que mais precisavam.

Idealizado e realizado pela ex-senadora durante o primeiro mandato de João Alves Filho, o ‘Pró-Mulher’ não foi apenas uma inovação; foi um verdadeiro ato de amor e compromisso. O projeto começou a transformar vidas e, com o tempo, estendeu seu abraço para incluir a saúde do homem, evoluindo para o “Pró-Mulher…Pró-Família”.

O legado de Maria do Carmo transcende fronteiras, mostrando que seu amor e dedicação à causa da saúde e do bem-estar continuam a inspirar e a tocar vidas ao redor do mundo.

 

Maria do Carmo levou o Pró-Mulher e outros programas assistenciais a todos os cantos de Sergipe

 

Senado – Maria do Carmo se tornou a mulher com mais mandatos da história do Senado. Foram três eleições consecutivas, em 1998, 2006 e 2014, somando 24 anos ininterruptos como senadora. Quando chegou ao Senado, era a primeira senadora a representar o estado de Sergipe e uma das duas primeiras da região Nordeste.

Em seu primeiro pronunciamento como senadora, em fevereiro de 1999, Maria do Carmo prometeu representar as queixas da população sergipana em face da crise econômica que o país vivia na época. Apesar de filiada a uma bancada que integrava a base do governo de Fernando Henrique Cardoso, a senadora fez severas críticas às medidas econômicas do governo federal, como a abertura comercial, as privatizações e a condução da política monetária.

Sou, acima de tudo, a política, cujo principal dever é auscultar e procurar transmitir as angústias, o inconformismo e as aspirações da nossa gente. Venho de um estado ainda pobre, cuja gente sofrida me confiou um mandato que farei questão de honrar acima de todos os interesses. Essa mesma gente é a vítima maior desses aprendizes de feiticeiros que estão levando a nossa economia ao impasse.

 

— Pronunciamento, 23.02.1999

Nos meses seguintes, também falou contra a proposta de transposição do rio São Francisco, manifestando preocupação com a conservação das áreas próximas à foz. Ela defendeu um esforço de revitalização do rio e propôs a formação de uma comissão do Senado para tratar do assunto.

Há muito tempo o Baixo São Francisco evidencia sinais preocupantes devido ao reduzido volume de suas águas. Não vem suportando o avanço do mar. Não consegue alimentar adequadamente as lagoas marginais, deixando de promover condições básicas para a pesca, a navegação, a agricultura das várzeas. São deficiências que denunciam de forma insofismável a debilidade do rio. É o pedido de socorro. A proposta de revitalização do São Francisco deve ser uma aspiração nacional.

 

— Pronunciamento, 13.12.1999

Em 2001, Maria do Carmo classificou como “afronta” uma medida provisória que pretendia extinguir as superintendências de desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da Amazônia (Sudam). Para ela, a decisão agravaria desigualdades regionais do país. Após várias reedições, a MP foi aprovada no mesmo ano, mas revogada em 2007 e as superintendências foram restabelecidas.

Talvez, no fundo, seja a intenção do governo agravar o fosso de desenvolvimento que separa o Nordeste do Centro-Sul industrializado. Refiro-me a uma visão preconceituosa que uma influente minoria da intelligentsia do Sul-Sudeste tem sobre o papel das regiões pobres para o futuro do desenvolvimento socioeconômico do país, teimando em ignorar os riscos geopolíticos que advirão se a atual desigualdade regional brasileira, a maior do mundo moderno, se agravar ainda mais.

 

— Pronunciamento, 07.05.2001

A maior parte dos mandatos da senadora foi dedicada à causa social, com atenção especial a temas como os serviços de saúde, a assistência social e o atendimento médico e policial às mulheres. Também insistiu na defesa do desenvolvimento econômico do Nordeste. Como relatora, trabalhou para aprovar leis como:

  • Lei 9.965, de 2000, que restringiu a venda de esteroides anabolizantes
  • Lei 10.244, de 2001, que revogou a proibição de que mulheres fizessem hora-extra no trabalho
  • Lei 12.398, de 2011, que garante aos avós o direito de visita aos netos
  • Lei 13.931, de 2019, determinando que profissionais de saúde registrem em prontuário indícios de violência contra a mulher atendida

A senadora também foi a autora da Lei 14.326, de 2022, que assegurou assistência integral à saúde das mulheres presas durante a gestação e o puerpério. O projeto original, de 2012, também inovava ao proibir o uso de algemas durante o trabalho de parto. Essa medida foi incluída em outra lei antes da aprovação do texto de Maria do Carmo.

A mulher nessa situação merece cuidados especiais para que o parto não traga riscos à sua saúde ou à do filho. Situações de violência ou de constrangimento podem precipitar o parto, o que certamente implica sérios riscos para a mãe e para o bebê.

 

— Justificativa, 29.03.2012

Em 2019, ela participou da fundação da bancada feminina, como uma das signatárias do projeto de resolução que estabeleceu o grupo no Regimento Interno do Senado. Em seus dois últimos anos de mandato, Maria do Carmo foi a decana (membro mais idoso) do Senado. Ela não concorreu à reeleição em 2022, preferindo se aposentar da vida pública. No seu último discurso como senadora, recordou sua atuação social e sua dedicação à inclusão das mulheres na pauta pública.

Trabalhei continuamente para enfrentar a violência contra a mulher e garantir o espaço feminino no mercado de trabalho, na ciência e na política. Acredito que pensar em políticas públicas de gênero é pensar também em desenvolvimento econômico. Desejo serenidade e equilíbrio a todos que ficam e aos novos eleitos, pedindo que nunca esqueçam que a política é a luta pela felicidade humana.

 

— Pronunciamento, 13.12.2022

Mandatos de Maria do Carmo do Nascimento Alves

  • 1999-2007
  • 2007-2015
  • 2015-2013

Participação no Senado

  • Bancadas
    • PFL/DEM/União (1999-2022)
    • PP (2022)
  • Cargos
    • 3ª Suplente da Mesa (2001-2002, 2011-2012)

Outros cargos

  • Primeira-dama Aracaju (1975-1979, 2013-2017)
  • Primeira-dama SE (1983-1987, 1991-1995, 2003-2007)
  • Secretária de Combate à Pobreza de Sergipe (fev.2003 – set.2003)
  • Secretária de Governo de Sergipe (jun.2004 – dez.2004)
  • Secretária da Família e Assistência Social Aracaju (nov.2015 – dez.2016)

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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