O mercado musical brasileiro vem numa crescente constante nos últimos dez anos. Em 2024, alcançou R$ 116,06 bilhões em arrecadação, segundo o estudo PIB da Música no Brasil, realizado pela Associação Nacional da Indústria da Música (Anafima). Mas menos de 1% do total arrecadado chegou aos artistas pelos streamings.
De acordo com o estudo, o setor de shows segue como a maior fonte de renda para os músicos. Com uma arrecadação de R$ 94 bilhões, os shows e apresentações ao vivo geram não apenas lucros com bilheteiras, patrocínios e venda de produtos como camisetas e outros itens, como também geram um impacto econômico significativo nas cidades onde acontecem.
Na outra ponta, o cenário muda quando a comercialização é feita pela música gravada — aquela mesmo que você escuta em um streaming de música ou no YouTube. O mercado fonográfico, que inclui a produção, gravação e distribuição de músicas, gerou apenas R$ 3,484 bilhões, o equivalente a 3% faturamento total da indústria. E a maior parte desse montante foi gerada no Sudeste — onde 53% das empresas estão, 30% delas em São Paulo.
Para onde vai o dinheiro da música no Brasil?
Quando o assunto é escutar música, o brasileiro prova que prefere ouvir a própria língua. O estudo mostras que 93,5% das 200 músicas mais ouvidas no país em 2024 foram produções nacionais.
O mercado de streaming detém 87,6% da receita total da indústria brasileira, com destaque para o Spotify, hoje o maior streaming de música do mercado (60% do total no Brasil). Segundo o relatório Loud and Clear, feito pela plataforma, artistas brasileiros geraram mais de R$ 1,6 bilhão em royalties em 2024.
O dinheiro, no entanto, é dividido entre gravadoras, editoras e compositores — o que torna o montante destinado aos artistas em uma fração muito menor. Segundo o “PIB da Música”, dos R$ 3,484 bilhões arrecadados, R$ 2,07 bilhões foram de assinaturas (68%) e apenas R$ 700 milhões chegaram aos músicos, menos de 1% do montante total da indústria. Compositores receberam cerca de R$ 250 milhões.
Os segmentos de fomento público (R$ 2,4 bilhões) e direitos autorais (R$ 1,8 milhões), que cresceram 12% no comparativo anual, são os de menor arrecadação. 375 mil titulares receberam o montante de R$ 1,5 bilhão pelos direitos autorais — 78% para editores e compositores, como dita a lei.
Música ao vivo: o ouro da indústria brasileira
Os dados são claros: para ser artista no Brasil, é preciso investir em apresentações ao vivo. A boa notícia é que a quantidade de eventos vem crescendo ano após ano — e as pessoas estão dispostas a investir nos ingressos.
Foram mais de 100 mil datas de eventos em 2024, crescimento de 31% em comparação com 2023, com tíquete médio de R$ 432. Festivais internacionais e megaeventos foram os que mais contribuíram para a receita, dado que os ingressos variaram entre R$ 795 a R$ 1,1 mil na pista e passaram dos R$ 3 mil em áreas VIP ou premium. Eventos regionais e independentes tiveram variação de R$ 30 a R$ 250.
No caso de megaeventos, o potencial econômico é significativo. O Carnaval do Rio sozinho movimentou R$ 5 bilhões, seguido pelo de Minas Gerais (R$ 4,7 bilhões), São Paulo (R$ 3,4 bilhões) e Salvador (R$ 2 bilhões). O Lollapalooza Brasil trouxe R$ 500 milhões e o show de Madonna em Copacabana R$ 469 milhões.
Hoje, segundo a Anafima, 19,53 mil CNPJs prestam serviço para o mercado de música brasileiro — 88,4% deles são microempresas e 47,3% operam como microempreendedores individuais. Em 2024, o setor gerou 13,3 mil empregos formais.
Dependência do mercado externo
O segmento de áudio e instrumentos é o segundo que mais arrecada, com receita R$ 14,6 bilhões em 2024. No entanto, sofre com a dependência de equipamentos do exterior: 99,1% do valor transacionado no setor vem de produtos importados. Foram US$ 577 milhões em importações neste ano e US$ 10,4 milhões em exportações — déficit de US$ 566,6 milhões.
Fonte: Exame