Com a indicação formalizada para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado-geral da União Jorge Messias vai iniciar nos próximos dias uma corrida para consolidar apoios no Senado, onde precisará do voto favorável de ao menos 41 parlamentares. O plano traçado pelo governo combina articulação política conduzida por Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo na Casa. Para conquistar votos da oposição, Messias, que é evangélico, deve contar com o apelo religioso para ampliar a adesão ao seu nome.
Messias já indicou a aliados que vai procurar o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que demonstrou incômodo com a escolha, e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que era o preferido de Alcolumbre e foi preterido por Lula.
A preocupação com a votação cresceu depois que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi reconduzido na semana passada por margem estreita — apenas quatro votos acima do mínimo necessário. Nos bastidores, líderes da base admitem que só evitaram uma derrota inédita graças a uma operação emergencial que arrancou dois votos da oposição e contou com a articulação direta de Davi Alcolumbre para manter o quórum alto em uma semana de esvaziamento.
Caberá a Wagner — um dos quadros mais experientes do PT e aliado de primeira hora de Lula — coordenar o convencimento entre os senadores. Ele será o ponto de apoio institucional de Messias no Senado, responsável por administrar resistências e aproximar o indicado de bancadas que tradicionalmente se colocam em posição crítica ao governo.
O líder petista tem trânsito consolidado entre parlamentares de centro e da oposição moderada, o que o torna peça essencial para evitar desgastes durante a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a votação em plenário. Interlocutores no Planalto afirmam que Wagner já começou a organizar o roteiro de encontros individuais e coletivos com senadores, no tradicional “beija-mão” dos indicados.
A expectativa é que Messias faça um corpo a corpo intenso, repetindo o modelo de outros indicados bem-sucedidos, com visitas a gabinetes e reuniões reservadas com lideranças partidárias. Até a oficialização da escolha, ele não tinha um cronograma definido de conversas, mas a agenda deve se tornar prioridade imediata.
Aproximação com bancada evangélica
Outro eixo de sustentação da candidatura de Messias é a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que deverá atuar como articuladora junto à bancada feminina e ao grupo de senadores evangélicos. Relatora da CPI do 8 de Janeiro e conhecida por sua atuação firme em defesa da democracia, Eliziane tem trânsito entre parlamentares de diferentes campos ideológicos e mantém interlocução direta com pastores influentes.
Aliada próxima do indicado, ela deve ser a responsável por apresentar Messias às senadoras e às lideranças religiosas, reforçando o perfil de fé e moderação que o governo quer associar ao futuro ministro. Evangélica e integrante da Igreja Assembleia de Deus, Eliziane é considerada no Planalto uma ponte natural entre Messias e o segmento cristão, num esforço para reduzir resistências entre parlamentares que enxergam o PT com desconfiança.
“Ele é um jurista de trajetória limpa, tecnicamente preparado e profundo compromisso com a justiça e o interesse público. É também um grande gesto do presidente para o segmento evangélico. O Messias é um cristão evangélico genuíno e tem sido, como AGU, um parceiro de primeira hora das causas do evangelho junto ao presidente Lula. A democracia brasileira e a igreja ganham com ele”, disse Eliziane ao Globo.
Integrante da Igreja Batista, Messias é descrito por aliados como um homem de fé. Costuma citar passagens bíblicas em conversas e manter uma rotina de leituras devocionais. Desde 2023, representa Lula nas edições da Marcha para Jesus, evento organizado pelo bispo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo.
A simpatia de parte da bancada evangélica é vista pelo governo como uma oportunidade para aproximar Lula de um eleitorado historicamente hostil ao PT — movimento iniciado com as indicações de Cristiano Zanin e Flávio Dino ao STF.
Além de obter maioria simples na CCJ, o indicado precisará conquistar 41 votos favoráveis em plenário. A votação é secreta, o que abre margem para surpresas e faz com que o governo trate a operação com cautela.
A estratégia central de Wagner e Eliziane é apresentar Messias como um perfil conciliador, capaz de preservar a independência do Supremo sem romper os canais institucionais com o Executivo. A combinação de solidez jurídica, discurso cristão e moderação política é vista como o caminho para vencer a sabatina.
A indicação de Messias marca a terceira escolha de Lula para o Supremo desde o início do mandato. O governo enxerga na aprovação do nome uma oportunidade de consolidar influência na Corte e, ao mesmo tempo, enviar um sinal de aproximação ao eleitorado evangélico.
Os últimos indicados por Lula sofreram resistência da direita no Senado, mas acabaram sendo aprovados. Flávio Dino teve 47 votos favoráveis e 31 contrários no plenário da Casa, já o ex-advogado de Lula, Cristiano Zanin, teve uma margem maior, com 58 votos favoráveis e 18 contrários.
Fonte: InfoMoney





