ARACAJU/SE, 10 de agosto de 2025 , 20:21:07

Montadoras chinesas investem R$ 22 bi no Brasil e prometem mais de 20 mil empregos

 

Nas próximas semanas, os primeiros carros de montadoras chinesas produzidos no Brasil vão sair das linhas de produção, dando início a uma nova fase da indústria automotiva no país. A montadora GWM vai iniciar as operações na próxima semana, no interior de São Paulo, numa fábrica originalmente construída pela Mercedes. A alemã desistiu da produção local em 2020. Até o final do ano, a BYD deve fazer o mesmo em Camaçari, na Bahia, onde antes a Ford produzia.

A fábrica da GWM foi originalmente estruturada para produzir 20 mil carros por ano, mas os planos já forçaram uma expansão para 50 mil.

A chegada das montadoras chinesas ao Brasil, porém, não representa a conclusão de um objetivo. Essa etapa é, na verdade, uma ponte para outros mercados ainda fechados para elas.

Inicialmente, a GWM pretende exportar os carros brasileiros para países da América Latina, como México e Argentina. Mas, Ricardo Bastos, diretor de relações institucionais e governamentais da empresa, reconhece que os olhos dos chineses também miram a União Europeia.

“A operação brasileira é, hoje, a operação mais importante dentro do grupo. Por enquanto, nós estamos falando de uma estratégia para a América Latina, até o México. Agora, não custa lembrar que o Mercosul está prestes a concluir, já assinou, mas prestes a concluir o acordo com a União Europeia. A GWM ainda tem uma presença muito tímida na Europa, um pouquinho ali na Alemanha, no Reino Unido. O Brasil, futuramente, pode também se candidatar a ser uma base para a exportação para a União Europeia”, afirma.

A estratégia de longo prazo passa pela aprovação do acordo Mercosul-União Europeia, que ainda está em negociação. E é semelhante à da BYD, como explica o vice-presidente sênior da montadora no Brasil, Alexandre Baldy.

“Com a oportunidade eventual de acordo bilateral entre Brasil e União Europeia, a BYD cresce fortemente em países do continente Europeu. Reiterando que (a empresa) ainda constrói duas fábricas naquele continente – uma na Hungria e outra na Turquia -, mas certamente o Brasil se tornando competitivo com acordo bilateral com a União Europeia a BYD produzirá, desenvolverá e certamente fornecerá carros para a União Europeia a partir do Brasil”, explica.

Nos últimos anos, a União Europeia adotou regras tarifárias para desestimular a importação de carros chineses. Como a China produz em enorme escala para atender a um mercado de quase 30 milhões de carros, o receio dos europeus é que o grande volume chinês dizime as montadoras locais. O acordo Mercosul-União Europeia representaria, na prática, uma forma de os carros chineses produzidos no Brasil desembarcarem em solo europeu em melhores condições.

Diferentes estratégias

Somados, os investimentos das montadoras BYD, GWM e GAC ultrapassam 22 bilhões de reais e prometem gerar mais de 20 mil empregos diretos e indiretos.

Além de BYD e GWM que vão produzir localmente, outras chonesas pretendem apenas importa. Também há até parcerias para que a Renault produza para a novata Geely, sem precisar abrir novas fábricas.

Outra que está chegando é a GAC, que começou a vender carros importados no mês passado. Leonardo Lukacs, diretor de engenharia e manufatura, conta que a empresa vai ter produção local até o final de 2026, mas ainda estuda qual modelo será adota. Ele explica por que o Brasil é tão estatégico para a China.

“O mercado brasileiro tem mais de 25 montadoras, a gente tem uma indústria que está beirando os 2,5 milhões, temos capacidade instalada de mais de 3 milhões. Então você sempre tem essa dúvida se vale a pena investir no Brasil. Será que você vai ter mercado? Como é que a gente tem que atender eficiência energética e emissões em níveis europeu e americano? Se você consegue vencer aqui, você consegue vencer em qualquer lugar. Então, por que o Brasil? Um: pela dificuldade. Dois: pelo potencial”, diz.

A chegada de novas montadoras tem gerado, por outro lado, preocupação entre as empresas que já produzem por aqui há décadas. Até julho, foram vendidos mais de 88 mil carros chineses, uma quantidade 41% maior do que no mesmo período do ano passado, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

O presidente da Anfavea, Igor Calvet, diz que a associação estimula a chegada de novos competidores, até porque isso pode contribuir com melhores preços para os consumidores. Mas, cobra que as novas empresas não tenham mais benefícios tributários.

“Acho que a competição sempre gera uma equalização maior nos preços no mercado. Por quê? Porque pressiona-se o preço de um lado, pressiona-se o preço do outro, mas quando você tem condições iguais de produção. E aí você tem uma pressão que ela é justa, ela é equilibrada e ela é dentro das regras do mercado. Então essa tem sido a nossa luta”, explica.

Já Cassio Pagliarini, sócio da Bright Consulting, avalia que a chegada das montadoras chinesas vai estimular as veteranas a desenvolverem novas tecnologias. Mas, pondera que algumas montadoras poderão ter prejuízos.

“⁠As empresas que fizerem esse caminho tecnológico, se tiverem fazendo isso, vão chegar lá. As empresas que não fizerem, elas não vão sobreviver. ⁠Eu não sei se elas vão sair do Brasil, mas você já vê empresas que estão encolhendo de uma forma significativa”, alerta.

Recentemente, o governo federal adotou uma política de isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados que beneficiou apenas os carros das montadoras já instaladas no Brasil, e não os modelos das novas chinesas. Ricardo Bastos, da GWM, faz um alerta: para que os carros produzidos no Brasil possam ser exportados para mercados mais maduros, como o europeu, será preciso estabelecer políticas públicas com foco no estímulo a novas tecnologias, não apenas o incentivo aos carros populares – que não teriam mercado na Europa.

Fonte: CBN

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