ARACAJU/SE, 3 de novembro de 2025 , 19:42:08

Montadoras têm resultados positivos, apesar de tarifas de Trump; entenda

 

Quando o presidente Donald Trump introduziu sua política tarifária no início deste ano, parecia um desastre para as montadoras.

No entanto, mesmo com as tarifas americanas sobre carros e peças importadas, o momento acabou se mostrando bastante favorável para as empresas automobilísticas.

A maioria das montadoras, inclusive as americanas, importa alguns carros e grande parte das peças. Porém, as estimativas de custos alarmantes das empresas diminuíram à medida que as tarifas foram sendo gradualmente reduzidas.

Mais importante para o resultado financeiro das montadoras é que as penalidades por não cumprir as regras de eficiência de combustível praticamente desapareceram. Essas economias regulatórias podem eventualmente compensar o custo das tarifas.

No geral, pode-se argumentar que os lucros da indústria automobilística podem acabar maiores do que eram antes de Trump assumir o cargo em janeiro.

Um resultado surpreendente, já que os enormes investimentos das montadoras em veículos elétricos nos últimos anos também estavam sendo prejudicados pela decisão de Trump de cancelar o apoio federal a esse tipo de veículo com o qual elas contavam ao fazer essa aposta massiva.

“É definitivamente favorável”, disse Jeff Schuster, um analista automotivo independente, sobre as mudanças desde que as tarifas automotivas foram anunciadas em março.

“Há tantos elementos em movimento que é difícil isolar. Mas as coisas estão certamente melhores do que qualquer um esperava”, disse.

Custos tarifários não são tão ruins quanto se temia

As montadoras estavam próximas ao pânico quando Trump anunciou planos para uma tarifa de 25% sobre todos os veículos importados, incluindo aqueles do México e Canadá, já que todas as empresas dependem de peças importadas para construir em fábricas americanas e quase todas importam desses países vizinhos.

O CEO da Ford, Jim Farley, disse que as tarifas “abririam um buraco na indústria americana como nunca vimos.”

Mas não foi tão ruim quanto temiam, já que Trump continuou a reduzir o pior impacto das tarifas quase imediatamente.

General Motors e Ford, que haviam previsto bilhões em custos anuais, reduziram suas avaliações.

Enquanto a GM cortou sua estimativa de US$ 5 bilhões em US$ 500 milhões no mês passado, a Ford reduziu pela metade seu custo tarifário estimado para 2025, de US$ 2 bilhões para US$ 1 bilhão.

A montadora Volkswagen reportou prejuízo de 1 bilhão de euros (US$ 1,3 bilhão) no terceiro trimestre e disse que as tarifas custariam até US$ 5,8 bilhões este ano.

Parte das perdas, no entanto, foi devido a outros problemas com seus veículos elétricos europeus e uma reorganização na Porsche.

Embora os custos tarifários tenham reduzido os lucros das montadoras, as empresas conseguiram superar as expectativas.

Por exemplo, previa-se uma queda de 23% nos lucros por ação ajustados da GM no terceiro trimestre. Em vez disso, caiu apenas 5%.

Até mesmo o prejuízo da Volkswagen foi menos de um quarto do previsto.

Mesmo as montadoras da Ásia e Europa conseguiram enfrentar a turbulência, já que fabricam uma parcela significativa de seus veículos vendidos nos EUA em território americano.

O CEO da Hyundai, José Muñoz, disse a jornalistas em Nova York em setembro que, mesmo com as tarifas americanas, os Estados Unidos, e não a Coreia do Sul, é o mercado mais lucrativo da Hyundai.

Ele espera que isso continue.

“As tarifas ainda são um obstáculo”, afirmou Dan Ives, analista da Wedbush Securities. “Mas até agora foram bem absorvidas.”

E novas reduções tarifárias são prováveis se a administração alcançar um novo acordo comercial com Canadá e México — duas das maiores fontes de carros importados e autopeças.

Trump recentemente interrompeu as negociações comerciais com o Canadá após um anúncio financiado pela província de Ontário apresentar um discurso anti-tarifário de 1987 do ex-presidente Ronald Reagan.

Mas especialistas acreditam que haverá algum tipo de acordo comercial no futuro.

Um acordo de livre comércio com a Coreia do Sul, outra fonte de veículos importados, também ajudaria a reduzir os custos tarifários não apenas para Hyundai e Kia, mas também para a General Motors, que fabrica alguns dos carros mais econômicos vendidos em suas concessionárias americanas na Coreia do Sul.

O impacto atenuado das tarifas também beneficiou os compradores de carros.

As empresas não repassaram os aumentos dos custos tarifários aos consumidores, pelo menos não diretamente.

No entanto, as montadoras têm feito algumas movimentações discretas para recuperar parte dos custos das tarifas, como cobrar por equipamentos que antes estavam incluídos no preço ou encerrar a produção de modelos menos lucrativos.

Como resultado, o preço médio de um carro novo está em torno de US$ 50.000, de acordo com estimativas da Edmunds e Kelley Blue Book, um aumento de cerca de 4% em relação ao ano anterior.

Grandes economias com mudanças regulatórias

Enquanto as tarifas dominam as manchetes sobre ações governamentais, existe um benefício menos divulgado para as montadoras: o fim das penalidades financeiras por violação dos padrões de emissões.

Anteriormente, as montadoras evitavam multas por vender muitos veículos a gasolina comprando os chamados créditos regulatórios de empresas que ficavam abaixo dos padrões de emissão, como a fabricante de veículos elétricos Tesla.

Mas essas penalidades foram eliminadas na lei de impostos e gastos de julho, economizando bilhões para as montadoras.

A diretora financeira da Ford, Sherry House, disse a jornalistas no mês passado que a empresa não comprará mais os US$ 2,5 bilhões em créditos regulatórios que havia planejado adquirir no futuro.

Ives afirmou que não ter mais que comprar créditos deve reduzir o custo de fabricação de um veículo em 3% a 5%.

As montadoras também podem aumentar as vendas de caminhões grandes e SUVs mais lucrativos, que antes eram limitados pelos níveis de emissões.

De fato, a Ford anunciou que aumentará a produção de suas F-150 e F-Series Super Duty em 2026 em mais de 50.000 caminhões para atender à demanda.

A GM também revelou planos para mudar a produção de uma de suas fábricas em Michigan de veículos elétricos, que estavam dando prejuízo, para veículos a gasolina lucrativos.

“À medida que os custos regulatórios desaparecem, isso apresenta um cenário muito melhor para a saúde da indústria do que qualquer um pensava que seria aprovado”, disse Schuster.

“As perspectivas de curto prazo são muito mais favoráveis do que em abril”, complementou.

Fonte: CNN Brasil

Você pode querer ler também