David Baker, Demis Hassabis e John M. Jumper são os ganhadores do Prêmio Nobel 2024 em Química, anunciou a Academia Real das Ciências da Suécia nesta quarta-feira (9).
Baker e Jumper são americanos. Já Hassabis, que ajudou a fundar a empresa de pesquisa em inteligência artificial que mais tarde se transformou no Google DeepMind (onde Jumper também trabalha), é britânico. Eles dividirão o prêmio que totaliza 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 5,8 milhões).
Eles levam a láurea deste ano por decifrarem os segredos das proteínas (moléculas fundamentais para as nossas células e, consequentemente, para a vida) por meio da inteligência artificial (IA) e da computação.
Na última terça (8), o Nobel de Física também premiou pesquisas sobre aprendizado de máquina e redes neurais artificiais, estudos fundamentais para o desenvolvimento da IA.
“Os químicos há muito sonham em entender e dominar completamente as ferramentas químicas da vida – as proteínas. E esse sonho agora está ao nosso alcance”, afirmou o comitê do Nobel, em um comunicado.
Hassabis e Jumper usaram inteligência artificial para mapear quase todas as estruturas de proteínas já conhecidas pela ciência. Já Baker conseguiu criar proteínas inéditas.
“As implicações dessas descobertas são enormes”, acrescentou o comitê.
No ano passado, o prêmio de Química foi para três cientistas pela descoberta e pelo desenvolvimento de pontos quânticos, nanopartículas tão pequenas que o seu tamanho determina as suas propriedades.
Desde 1901, mais de cem prêmios foram concedidos. A distinção científica só não foi realizada em oito ocasiões: em 1916, 1917, 1919, 1924, 1933, 1940, 1941 e 1942.
Das 194 pessoas agraciadas com o Nobel em Química, apenas 8 eram mulheres. Entre elas, a cientista polonesa Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um Nobel. Até agora, o Nobel não premiou nenhuma mulher este ano.
Os vencedores
David Baker, nasceu em 1962 em Seattle, Washington (EUA), e é professor na Universidade de Washington. Ele foi premiado com o Nobel de Química de 2024 por suas contribuições na área de design computacional de proteínas, processo que cria essas macromoléculas através da manipulação de uma sequência de aminoácidos.
Segundo a Academia Real das Ciências da Suécia, suas inovações abriram caminhos para a rápida criação de várias proteínas, com aplicações em medicamentos e vacinas, por exemplo.
Já Demis Hassabis, nasceu em 27 de julho de 1976, em Londres (Reino Unido), é o CEO da Google DeepMind, uma subsidiária de pesquisa em inteligência artificial do Google.
Sua pesquisa permitiu a previsão da estrutura de praticamente todas as 200 milhões de proteínas identificadas até hoje.
Por fim, John Jumper, nasceu em 1985 em Little Rock, Arkansas (EUA), e também trabalha na Google DeepMind como cientista de pesquisa sênior.
Junto com Hassabis, ele apresentou o modelo de inteligência artificial AlphaFold2 em 2020, que revolucionou a forma como os cientistas entendem as estruturas proteicas.
Os laureados dividirão as 11 milhões de coroas suecas conforme suas contribuições. Baker receberá metade do valor, enquanto Hassabis e Jumper dividirão a outra metade, com cada um recebendo um quarto (1/4).
“Estou realmente empolgado com todas as maneiras pelas quais o design de proteínas pode tornar o mundo um lugar melhor na saúde e na medicina, e realmente, fora da tecnologia”, afirmou Baker, na coletiva de imprensa sobre o prêmio.
Curiosidades sobre o Nobel de Química
O vencedor mais jovem foi Frédéric Joliot, que tinha 35 anos quando, ao lado de sua esposa Irène Joliot-Curie, recebeu o prêmio em 1935. Já o mais velho foi John B. Goodenough, premiado em 2019 aos 97 anos, sendo também o mais idoso a receber qualquer Nobel.
Entre os prêmios de química, 63 foram concedidos a um único laureado, enquanto 25 foram compartilhados por dois vencedores e 27 por três.
Os estatutos da premiação determinam que o prêmio pode ser dividido entre até três pessoas, caso tenham colaborado em uma mesma obra ou duas obras distintas de igual importância.
Ao todo, 194 pessoas já receberam o Nobel de Química entre 1901 e 2023. No entanto, como Frederick Sanger e Barry Sharpless foram premiados duas vezes, o número total de laureados únicos é 192.
Além disso, até o momento, apenas oito mulheres receberam o Nobel de Química. Entre elas, Marie Curie e Dorothy Crowfoot Hodgkin são as únicas a terem conquistado o prêmio sozinhas.
Nobel 2024
A láurea em Medicina foi a primeira a ser anunciada, na segunda (7). A de Física foi divulgada na terça (8).
Os prêmios em Literatura e Paz serão entregues ainda nesta semana; já a láurea em Economia será divulgada na próxima segunda (14). Veja o cronograma:
- Literatura: quinta-feira, 10 de outubro
- Paz: sexta-feira, 11 de outubro
- Economia: segunda-feira, 14 de outubro
O que é o Prêmio Nobel?
A láurea foi criada pelo químico e empresário Alfred Nobel. Inventor da dinamite em 1867, o sueco doou a maior parte de sua fortuna em testamento para a criação de prêmios de física, química, medicina, literatura e paz (o prêmio de economia foi criado anos mais tarde).
O documento dizia que os prêmios deveriam ser concedidos “àqueles que, durante o ano anterior, tenham conferido o maior benefício à humanidade”.
Contudo, hoje em dia, conforme explica Juleen Zierath, membro do Instituto Karolinska -o júri do Nobel de Medicina-, essa regra não é mais tão levada à risca.
“Você pode ter feito essa descoberta em um estágio muito inicial de sua carreira de pesquisa, ou pode ter feito essa descoberta em um estágio muito avançado de sua carreira de pesquisador”, ressalta a pesquisadora.
Como o prêmio é escolhido?
Todos os anos, o Comitê do Nobel envia um pedido de nomeação para membros da comunidade científica.
Isso significa que alguns candidatos elegíveis recebem um convite especial para enviar seus nomes. Sem esse convite, nenhum postulante pode concorrer ao prêmio.
“Você não pode se nomear, mas membros de comunidades científicas, reitores de faculdades de Medicina [no caso do prêmio na área], ex-laureados com o Prêmio Nobel e outros que trabalham no ramo científico mais amplo e que receberam esse pedido podem fazer uma indicação”, diz Zierath.
Quantas pessoas podem compartilhar o mesmo prêmio?
Até três pessoas podem compartilhar um Prêmio Nobel, ou uma organização pode ganhar a láurea da Paz.
A Fundação Nobel, responsável por realizar os desejos do seu fundador, ressalta que essa regra está descrita no testamento de Alfred Nobel.
“Em nenhum caso o valor do prêmio pode ser dividido entre mais de três pessoas”, destaca um trecho do documento. Alguns pesquisadores, porém, criticam essa escolha e afirmam que as descobertas científicas de hoje em dia são muito mais coletivas: um trabalho de vários pesquisadores.
A láurea pode ser concedida postumamente? Tem limite de idade?
Não, um Prêmio Nobel não pode ser concedido postumamente.
Apesar, disso, a Fundação ressalta que, desde 1974, se o destinatário do prêmio falecer após o anúncio, a láurea ainda poderá ser concedida.
Sobre o limite de idade, o prêmio também não tem uma regra a respeito.
“O que eu diria é que, na maioria das vezes, levamos muitos anos até que o campo científico reconheça que a descoberta que você fez é uma distinção que deveria ser considerada para um Prêmio Nobel. Então, às vezes você tem que ser bastante paciente”, ressalta Zierath.
Fonte: G1