Por Ivo Jeremias
No dia 12 de agosto de 2014 um fato chocou a sociedade sergipana. O professor de biologia Carlos Cristian de Almeida Gomes foi atingido por cinco tiros nas dependências da escola estadual Olga Benário. Os disparos foram feitos por um aluno que teria ficado insatisfeito com a correção de uma prova. O professor foi submetido a cirurgia e, felizmente, sobreviveu.
Ontem, dia 2 de julho de 2015, mais uma data funesta para a educação em Sergipe. A educadora e diretora da escola estadual Senador Lourival Fontes, Carla Valéria, foi agredida covardemente a socos e golpes de caneta por um aluno que tinha sido suspenso após explodir uma bomba em um dos banheiros da escola. As agressões só pararam quando o estudante julgou que Carla estava morta. Ao se afastar da vítima teria dito aos colegas: “A diretora está morta”. Ele foi apreendido pela polícia militar enquanto deixava a escola.
Estes são apenas dois casos recentes de uma dura realidade que os professores têm enfrentado nas salas de aula. O professor, figura que impunha respeito, agora corre risco de morte em seu ambiente de trabalho. Uma pesquisa feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2014, revelou que 12,5% dos professores ouvidos no Brasil se disseram vítimas de agressões verbais ou intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana.
Em 2013, outra pesquisa, desta vez realizada pelo Instituto Data Popular e pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo mostrou que a cada dez professores daquele estado, pelo menos quatro já sofreram agressões físicas ou verbais por parte de alunos. O mesmo relatório mostra ainda que 42% dos docentes já viram alunos sob efeito de drogas, e 29% testemunharam tráfico dentro da escola.
A diretora Carla Valéria, em fala à imprensa, corroborou os dados apresentados pelas pesquisas. Segundo a diretora as ameaças a professores são constantes e os banheiros da escola costumam servir como local para que alunos consumam drogas. Abalada, a diretora afirmou que já tinha sofrido outras agressões e colocou o cargo à disposição da Secretária Estadual de Educação, justificando que sua vida era mais importante.
Valores
Para a socióloga Sônia Barreto a violência nas escolas tem raízes profundas e tem parte de sua origem na influência social da mídia e do modelo politico vigente.
“Nas últimas décadas passamos por severas mudanças nas relações sociais estimuladas pela mídia, as novelas, por exemplo, invariavelmente ensinam o desrespeito ao ser humano, o modelo capitalista também exerce mudanças profundas nas relações entre os homens, que passam a se isolar e deturpar os valores que deveriam permeiar a vida em sociedade,as pessoas não pertencem a grupos sociais, vivem em ilhas e o outro pouco importa”.
A socióloga foi além. No entendimento dela outro fator colabora para a violência contra o professor: O exemplo dado pela sociedade.
“O aluno sabe que o professor é desrespeitado pelo governo e em todas as esferas, eles sabem que o professor é massacrado, absorvem isso e passam a não respeitar o professor também, já não existe hierarquia no ambiente da sala de aula. O professor é visto como uma figura que não merece deferência, estamos passando por uma crise muito séria de valores na sociedade, consequentemente isto acaba afetando a educação”.
Seed
A Secretaria Estadual de Educação(Seed) informou que não existem dados sobre a violência contra professores em Sergipe, mas que providências já estão sendo tomadas para amenizar o problema. De acordo com o assessor de comunicação da Seed, Elton Coelho, a escola Senador Lourival Fontes conta com seguranças terceirizados e que mais 30 escolas da rede estadual contarão com este serviço em breve, mas em sua opinião, só isto não seria o suficiente.
“Uma equipe da Secretaria está neste momento na escola onde a diretora foi agredida estudando as medidas necessárias a serem tomadas. Não é só um problema de número de seguranças, é preciso ser feito um trabalho de conscientização, serão realizadas palestras sobre violência e acompanhamentos psicológicos”, disse Elton.