A BYD, gigante chinesa do ramo de carros elétricos, revelou que investirá R$ 3 bilhões na instalação de três fábricas na Bahia, gerando 5 mil empregos. Com isso, o nome do cofundador, Wang Chuanfu, deve se tornar cada vez mais popular no Brasil.
Figurando entre os 100 mais ricos do mundo, Wang recebeu o apelido de “Elon Musk chinês”. No entanto, o empresário tem uma trajetória bem diferente da do bilionário do Vale do Silício.
Wang, de 57 anos, nasceu em Anhui, vila agrícola em uma das províncias mais pobres da China. Na adolescência, ficou órfão e foi criado pelos irmãos mais velhos.
O destaque veio na faculdade, enquanto treinava sua visão na tecnologia de baterias. Ele é formado em Química e Física Metalúrgica pela Central South University of Technology e concluiu um mestrado na Beijing Nonferrous Metals Research Institute, estatal na qual chegou a vice-presidente.
“Após a morte de seus pais, as esperanças de ascensão social de seus irmãos recaíram na promessa de Wang como estudante. Ele conseguiu uma vaga em um instituto de pesquisa de metais não ferrosos em Pequim, primeiro para estudar, depois para ensinar”, conta o “Financial Times”, em um perfil que chama o executivo de “professor maluco.”
Porém, Wang abandonou a carreira acadêmica para apostar na onda empreendedora da época: a ideia de criar baterias elétricas para competir com o Japão.
Para isso, Wang se uniu ao seu primo Lu Xiangyang e arrecadou US$ 300 mil para criação da fábrica na zona econômica especial de Shenzhen, na China, e início da produção. Nascia ali a BYD (Build Your Dreams, Construa Seus Sonhos, em tradução literal), como uma empresa de baterias recarregáveis para celulares e câmeras digitais nos anos 1990.
“A migração em massa das áreas rurais deu às fábricas da cidade a mão de obra barata de que precisavam para competir com rivais no Japão, Coreia do Sul e Taiwan”, lembra o “Financial Times”. Com isso, a BYD se tornou a maior fabricante chinês de itens de tecnologia, com contratos assinados com a Motorola e a Nokia.
Entrada no setor de veículos elétricos
O rumo da empresa começou a mudar em 2002, quando a BYD abriu capital em Hong Kong. Um ano depois, com o caixa cheio, a empresa mãe criou a BYD Auto, seu braço automobilístico.
Wang planejava que, em alguns anos, os carros fossem movidos não mais por combustíveis fósseis, mas sim por baterias elétricas — sua especialidade. Apesar do setor estar, naquela época, apenas dando seus primeiros passos, o executivo viu como uma chance de desenvolver um novo mercado consumidor para as baterias feitas pela BYD.
Como lembra o “Financial Times”, Wang alinhou-se cuidadosamente com as ambições políticas de longo prazo de Pequim sob o presidente Xi Jinping. “Acredito que as empresas chinesas podem se tornar líderes no negócio de carros alternativos porque fabricamos boas baterias”, afirmou Wang em uma entrevista ao jornal britânico.
A empreitada atraiu o investidor Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, que comprou 10% da companhia em 2008 por meio da MidAmerican Energy Holdings Company.
Parceiro de Buffett, Charlie Munger, vice-presidente da Berkshire Hathaway, afirmou que nunca tinha visto nada igual como Wang, uma mistura entre dois nomes conhecidíssimos do mundo dos negócios.
“Esse cara é uma combinação de Thomas Edison e Jack Welch – algo como Edison na solução de problemas técnicos e algo como Welch em fazer o que precisa fazer”, disse Munger em uma entrevista à “Fortune”.
Pouco tempo depois, em 2008 a empresa já colocava os primeiros automóveis híbridos no mercado chinês. O objetivo de Wang é tornar a BYD a principal facilitadora mundial de mobilidade elétrica.
Hoje, a montadora ampliou seu leque de atuação e está presente em mais de 50 países. Além dos automóveis, a empresa também fabrica diferentes modelos de ônibus, caminhões e até bicicletas elétricas.
Com patrimônio líquido de US$ 19,5 bilhões (cerca de R$ 94,9 bi no câmbio atual) segundo dados da revista “Forbes”, Wang ocupa o 85º lugar na lista dos mais ricos do mundo atualmente. A maior parte da fortuna de Wang vem da participação de 19% dele na BYD. Wang detém as ações diretamente e por meio de um plano de gestão de ativos, de acordo com a “Bloomberg”.
Fonte: Valor