Da redação, Joangelo Custódio
Entre 2019 e 2021, a faixa da população sergipana que vive na linha da pobreza aumentou de 42,4% para 46,8%, um triste avanço de mais de 4,4% num período de 24 meses. Nesse sentido, do total de 2,3 milhões de habitantes, cerca de 1.085.208 vivem em condições de pobreza e têm renda familiar equivalente a R$450 por mês, ou R$ 15 por dia. O Banco Mundial considera que quem tem uma renda per capita menor que R$499 por mês vive em condições de pobreza.
É o que revela levantamento feito pelo pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e nos parâmetros do Banco Mundial na definição de linha de pobreza.
A crise sanitária provocada pela pandemia da covid-19, conforme o pesquisador, levou a um aumento generalizado da pobreza no país, com altas mais fortes nos Estados do Nordeste e nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro. Entre o primeiro trimestre de 2019 e janeiro deste ano, o nível de pobreza cresceu em 24 das 27 unidades da federação.
A nível nacional, de acordo com a pesquisa, Sergipe tem o quinto maior índice de pobreza do país, perdendo apenas para o Amapá (55,9%), Maranhão (54,9%), Amazonas (49,7%) e Alagoas (47,5%).
Retrato das ruas
Do ponto de vista social e econômico, os números citados acima pelo pesquisador Daniel Duque evidenciam o retrato atual da sociedade brasileira e também sergipana, ainda combalida economicamente pelos reflexos da covid-19, levando mais pessoas às ruas para pedir algum tipo de ajuda, prostradas com as mãos de esmolas em esquinas de semáforos, nas portas de igrejas, supermercados, shoppings e restaurantes, ensejando o feio retrato da transmutação da fome.
Para o coordenador do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/SE), economista Luís Moura, os dados são assustadores e necessitam de uma atenção maior dos governantes, no tocante a políticas de assistencialismo.
“O que você percebe nas ruas, nos supermercados, de pessoas pedindo alimentos, enfim, os dados mostram que a pobreza cresceu no Brasil. Nós tínhamos 25% da população brasileira considerada pobre e, agora, em 2021, passou para 29%. O estado de Sergipe é o que tem a 5ª maior proporção de pobres em relação à sua população, 46%, superado apenas pela população do Amapá, Maranhão, Amazonas e Alagoas. Esses dados mostram o quanto é necessário a manutenção dos auxílios (emergenciais). A população da pobreza não consegue se alimentar ou não consegue ter as três refeições diárias e, com o aumento dos preços dos alimentos, fica muito difícil para garantir a integridade alimentar dessa população. 46% dos sergipanos são considerados pobres, e isso mostra que o auxílio deveria ser uma reivindicação de uma política pública. Todos os governadores de todos os estados deveriam reivindicar a manutenção desse auxílio, até que você tivesse os dados de emprego, da renda do brasileiro recuperando, porque alta dos preços dos alimentos, com queda na renda ou empobrecimento da população, vai significar dificuldade de sobrevivência”, contextualiza Luiz Moura.
Ainda segundo Moura, o rápido avanço do quadro da pobreza no estado também foi agravado, além da pandemia, pala alta dos preços dos produtos agrícolas e alimentícios. Como medida paliativa, orienta, o auxílio emergencial.
“Isso significa, que essa política de redução do auxílio emergencial que aconteceu em 2020 em relação a 2021, onde em 2020 eram pagos R$ 600 e passou a ser pagos em média R$250, ela precisa, de alguma maneira, ser revista sob pena de a população continuar atravessando dificuldades”, pondera o economista.