O papa Francisco negou rumores de que planeja renunciar em um futuro próximo, dizendo que está a caminho de visitar o Canadá este mês e que espera poder ir a Moscou e Kiev o mais rápido possível depois disso.
O pontífice concedeu entrevista exclusiva à agência Reuters, no Vaticano, no último sábado (2) e o conteúdo foi divulgado nesta segunda-feira (4).
Francisco também negou rumores de que estaria com câncer, brincando que seus médicos “não disseram nada sobre isso”, e pela primeira vez deu detalhes sobre a condição do joelho que o impediu de realizar alguns deveres.
Na conversa, o papa também repetiu sua condenação ao aborto após a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos no mês passado.
Renúncia
Rumores surgiram na mídia de que uma série de eventos no final de agosto, incluindo reuniões com cardeais do mundo para discutir uma nova constituição do Vaticano, uma cerimônia para empossar novos cardeais e uma visita à cidade italiana de L’Aquila, poderiam prenunciar um anúncio de renúncia.
L’Aquila está associada ao Papa Celestino V, que renunciou ao papado em 1294. O Papa Bento XVI visitou a cidade quatro anos antes de renunciar em 2013, o primeiro papa a fazê-lo em cerca de 600 anos.
“Todas essas coincidências fizeram alguns pensarem que a mesma ‘liturgia’ aconteceria. Mas nunca passou pela minha cabeça. Por enquanto não, por enquanto não. Realmente!”, disse o papa.
Francisco, no entanto, repetiu sua posição muitas vezes declarada de que ele poderia renunciar algum dia se a saúde debilitada tornasse impossível dirigir a Igreja – algo que era quase impensável antes de Bento XVI.
Questionado sobre quando achava que isso poderia acontecer, ele disse: “Não sabemos. Deus dirá”.
Estado de saúde
Francisco também deu detalhes de sua doença pela primeira vez em público, dizendo que havia sofrido “uma pequena fratura” no joelho quando deu um passo em falso enquanto um ligamento estava inflamado.
“Estou bem, estou melhorando lentamente”, disse ele, acrescentando que a fratura foi tratada com terapia a laser e magnética.
Francisco também descartou rumores de que um câncer foi encontrado há um ano, quando ele passou por uma operação de seis horas para remover parte de seu cólon por causa de diverticulite, uma condição comum em idosos.
“Ela (a operação) foi um grande sucesso”, disse ele, acrescentando com uma risada que “eles não me contaram nada” sobre o suposto câncer, que ele descartou como “fofoca”.
Mas ele disse que não queria uma operação no joelho, porque a anestesia geral na cirurgia do ano passado teve efeitos colaterais negativos.
Aborto nos EUA
Questionado sobre a decisão da Suprema Corte dos EUA que anula a histórica decisão Roe vs. Wade, que estabelece o direito da mulher ao aborto, Francisco disse que respeita a decisão, mas não tem informações suficientes para falar sobre isso do ponto de vista jurídico.
Mas ele condenou veementemente o aborto, comparando-o a “contratar um assassino de aluguel”. A Igreja Católica ensina que a vida começa no momento da concepção.
“Eu pergunto: é legítimo, é certo, eliminar uma vida humana para resolver um problema?”, disse.
Guerra da Ucrânia
Falando da situação na Ucrânia, Francisco observou que houve contatos entre o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, sobre uma possível viagem a Moscou.
Os sinais iniciais não eram bons. Nenhum papa jamais visitou Moscou, e Francisco condenou repetidamente a invasão da Ucrânia pela Rússia. Na quinta-feira passada, o pontífice acusou implicitamente a Rússia de travar uma “guerra de agressão cruel e sem sentido”.
Quando o Vaticano perguntou pela primeira vez sobre uma viagem há vários meses, Francisco disse que Moscou respondeu que não era o momento certo.
Mas ele deu a entender que algo pode ter mudado agora. “Eu gostaria de ir (para a Ucrânia), e queria ir para Moscou primeiro. A primeira coisa é ir à Rússia para tentar ajudar de alguma forma, mas gostaria de ir às duas capitais.”
Fonte: G1