ARACAJU/SE, 27 de novembro de 2024 , 5:43:48

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Passageiros enfrentam caos em grandes aeroportos da Europa

 

As “férias infernais” de Marivi Wrights começaram quando os sistemas de computadores da Air France caíram e os funcionários tiveram de fazer check-in dos passageiros manualmente em seu voo de Nova York à Europa. Ela perdeu dois voos de conexão quando voou de Paris à Espanha para visitar sua mãe, de 83 anos, ao aterrissar em Málaga com 12 horas de atraso. Sua bagagem não foi encontrada.

“Minha mãe sofre de demência e essa era a minha vez de estar com ela e ver algumas fotos”, disse Wright, explicando que essas fotos estavam na mala que se extraviou. “Gastei muito tempo comprando roupas no aeroporto ou protocolando reclamações. É um tempo com a minha mãe que eu nunca vou recuperar. Estou emocionalmente esgotada”, acrescentou.

Wright é um dos milhões de passageiros que suportaram uma viagem em um verão caótico, em vista dos cancelamentos e suspensões de voos que se espalharam pela Europa.

Os problemas provêm da crônica escassez de pessoal em várias áreas do setor de aviação, entre as quais companhias aéreas, aeroportos e empresas de manejo em terra, que são terceirizadas para prover serviços como check-in e manuseio de bagagem.

Com a suspensão das restrições às viagens e com os planos, de muitas pessoas, de viajar pela primeira vez em dois anos, a demanda se recuperou mais rapidamente do que a capacidade do setor de contratar novas equipes.

Surtos de mobilizações no setor agravaram os problemas, entre os quais uma greve de pilotos na companhia aérea escandinava SAS que contribuiu para que a empresa pedisse recuperação judicial neste mês.

“Há problemas em todos os aeroportos da Europa”, disse Akbar al-Baker, CEO da Qatar Airways. “Enfrentamos os mesmos problemas na França… Bélgica, Holanda, Alemanha. Na verdade, é uma epidemia.”

Os passageiros também passaram por um sem-número de atrasos, filas e perdas de bagagem, diante da incapacidade do setor de lidar com o puro e simples número de passageiros.

Nikolas Syrimis, passou 12 horas no aeroporto Schiphol, de Amsterdã, nesta semana, entre as quais duas horas e meia em filas “extraordinariamente compridas”, após seu voo com a EasyJet ter sido cancelado devido a danos na pista causados pelas temperaturas extremamente elevadas no aeroporto de Luton, em Londres.

“Mesmo com todas as manchetes, ver tudo isso com os próprios olhos não tem a menor semelhança com o que eu já vivenciei”, disse ele.

Companhias aéreas e aeroportos americanos também sofreram episódios de desestruturação com sua expansão ao longo do ano passado, mas a Europa despontou como o epicentro dos distúrbios no setor de viagens neste verão.

E, mesmo quando as operações não sofrem colapso, as esperas, de várias horas, para se deslocar entre os aeroportos europeus se tornaram comuns.

Na sexta-feira, as filas iam até a área externa do aeroporto de Manchester e atravessavam o estacionamento, onde passageiros à espera do embarque descreviam o “caos organizado”, além da surpresa de terem de ficar ao relento, tomando chuva.

Os principais aeroportos que funcionam como centros de conexões, como Heathrow, de Londres, e o de Frankfurt, obrigaram as companhias aéreas a cancelar horários a fim de coibir a superlotação, e a companhia aérea holandesa KLM orientou os passageiros, na quinta-feira, em transferência em Schiphol, a não tentar fazer o embarque de malas e volumes após um colapso dos sistemas de bagagem.

A vasta maioria dos passageiros acabará chegando ao seu destino. Mas aeroportos muito movimentados, com operações complexas e pouca área de manobra para remarcar voos em atraso sofreram alguns dos transtornos mais significativos.

O Aeroporto de Bruxelas foi o pior da Europa em termos de atrasos, ao registrar 73% dos adiamentos de voos neste mês, segundo dados reunidos pela empresa de reservas on-line Hopper. Heathrow, de Londres, Charles de Gaulle, de Paris, e Frankfurt estavam entre os 10 piores, com mais de metade dos voos em atraso.

Um de cada 50 voos foi cancelado na Europa nos últimos sete dias, entre os quais 680 voos originários de Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Espanha — o que corresponde ao triplo do registrado no mesmo período de 2019, segundo a provedora de dados Cirium.

Aeroportos europeus de menor porte se revelaram mais resilientes, em parte devido à relativa simplicidade de suas operações. Os de Grã Canária, Alicante e Málaga, na Espanha, estavam entre os 10 aeroportos de melhor desempenho, com menos de 20% dos voos tendo sofrido atrasos.

A aposentada Pauline Kennedy, contrapôs sua experiência “incrível” de chegar ao aeroporto de Manchester ao seu embarque de Amsterdã, onde, segundo ela, havia fila para tudo. “Acho, que finalmente, Manchester se organizou”, disse ela.

Os aeroportos de economias dependentes do turismo, onde manter o fluxo das viagens é prioridade nacional, também tiveram um desempenho melhor.

No Aeroporto Internacional de Atenas, Elisabet Chousiades disse ter tido facilidade em se deslocar pelo terminal e ter apanhado suas malas sem atraso após ter chegado dos EUA.

O turismo é vital para a economia grega, ao gerar 25% do Produto Interno Bruto (PIB) com a inclusão de contribuições indiretas. Não por acaso, a administração do aeroporto de Atenas recorreu a um programa de apoio governamental para manter todos os 800 de seus funcionários empregados durante a pandemia, bem como a maioria dos 8 mil funcionários terceirizados que trabalho em manejo e segurança de terra.

“Não demitidos ninguém, reduzimos as operações gradualmente e mantivemos 50% das pessoas trabalhando”, disse o CEO, Yiannis Paraschis.

Com o início da temporada de pico das viagens de verão diante do término do período letivo nas escolas e a saída das famílias para suas férias anuais, o setor de aviação se prepara para as pressões aumentarem ainda mais. A Ryanair, a maior companhia aérea europeia, disse que planeja transportar mais passageiros neste ano do que em 2019.

Também há sinais de que as operações estão se recuperando e que os transtornos diminuíram, na medida em que as companhias aéreas e aeroportos aumentam suas operações e reforçam a linha de frente com mais pessoal.

As taxas de cancelamento no Reino Unido caíram a partir dos 3% computados na primeira semana de junho para 1,2% no mesmo período deste mês, enquanto na França diminuíram de 2,5% para 1,4%, segundo a empresa de dados OAG.

Mas isso não serve de consolo para os passageiros que suportaram longos atrasos, cancelamentos frustrantes, ao mesmo tempo em que tiveram parte de sua bagagem extraviada.

Marilou Le Lann disse que suas malas desapareceram em uma curta parada em Paris, em viagem da Turquia a Montreal no último fim de semana. “Tenho cerca de US$ 30.000 em produtos na minha bagagem – bolsas e sapatos de grife, coisas desse tipo”, disse ela.

E continuou: “O motivo para irmos para a Turquia é que meu companheiro passou por cirurgia de transplante de cabelos, e estava com os remédios do tratamento na bagagem. Isso corre risco agora, porque não temos todos os produtos que ele precisa.”

Fonte: Valor Econômico

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