ARACAJU/SE, 17 de outubro de 2024 , 23:11:36

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PCC, ‘Ndrangheta e Máfia dos Bálcãs: mafioso italiano descreve elos entre facções do tráfico de cocaína

 

O mafioso italiano Vincenzo Pasquino, apontado como um dos maiores intermediários do tráfico de cocaína da América do Sul, detalhou o caminho percorrido pela cocaína ao passar por facções brasileiras e chegar até o Mar Mediterrâneo. Em depoimento, o integrante da ‘Ndrangheta, grupo criminoso da Calábria, descreveu a sua ida a diferentes capitais brasileiras, reuniões com as ‘cúpulas’ do Primeiro Comando da Capital (PCC) e a estratégia usada para o transporte da droga de portos nacionais para o exterior.

O mafioso foi ouvido pela primeira vez em maio deste ano no Tribunal de Locri, na Itália. No entanto, suas declarações foram tornadas públicas somente neste mês, quando começaram a ser noticiadas pela imprensa do país europeu.

Segundo o jornal Estado de S. Paulo, Pasquino revelou nessa ocasião que seu primeiro contato com o crime organizado aconteceu na província italiana de Piemonte, onde ele se ligou ao clã mafioso Ndrina Agresta de Volpiano. Na região, ele também criou vínculos com líderes de facções albanesas associadas ao tráfico internacional de drogas.

Ele foi enviado para o Brasil pela primeira vez em 2017 para integrar o esquema de envio de cocaína da ‘Ndrangheta para a Europa. Ele se estabeleceu no Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo, onde desenvolveu conexões com lideranças do PCC. Aliado ao grupo italiano de Pasquino e à máfia dos Balcãs, a facção brasileira lucrou mais de US$ 1 bilhão por ano com o tráfico transatlântico de drogas.

Caminho percorrido pela droga no Brasil

Em outro trecho do depoimento, Pasquino descreveu como funciona o crime organizado no Brasil. O documento divulgado pela Justiça italiana omite nomes, mas reconstitui o modus operandi do tráfico internacional de drogas em solo brasileiro.

Em 2020, (nome omitido) saiu de Brasília (onde vivia) e veio visitar-me em Aracaju (onde eu vivia na época), com escala em Salvador e destino em Fortaleza. Ele tomou essas precauções porque eu era um fugitivo. Veio visitar-me porque tínhamos algumas importações em curso, incluindo uma em Roterdã”, afirmou Pasquino.

Ele mencionou uma conversa com um grupo de traficantes na qual foi negociado o envio de meia tonelada de cocaína para Gioia Tauro, na Itália. “Combinamos então dividir os 500 kg 50-50 entre nós e os brasileiros”, disse.

Durante sua fala, Pasquino também informou que o início das relações da ‘Ndrangheta com outro grupo criminoso italiano, o da família Nirta, de San Luca, ocorreu pela necessidade de uma “escalada” no tráfico a partir dos portos brasileiros.

Prisão no Brasil

Preso em maio de 2021 em João Pessoa, na Paraíba, ao lado de Rocco Morabito, o “rei da cocaína”, Pasquino era considerado um dos 30 foragidos mais procurados pela polícia italiana. Ele foi deportado em fevereiro deste ano após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinar a notificação do Ministério da Justiça sobre a decisão da Corte que autorizou a extradição do italiano.

O Supremo deu o sinal verde para a entrega do detento à Itália em dezembro de 2022, mas o procedimento ficou suspenso à espera da análise de um pedido de refúgio de Pasquino. Com a recusa do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Moraes deu andamento à extradição.

Ao comentar a detenção de Pasquino, a então ministra do Interior da Itália, Luciana Lamorgese, elogiou o trabalho dos investigadores e ressaltou a captura de quem chamou de “figura de destaque no tráfico internacional de drogas e incluído na lista dos fugitivos mais perigosos” da pasta.

Em setembro passado, o mafioso foi condenado, na segunda instância de Turim, a 14 anos e meio de prisão por tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro. No entanto, Pasquino era procurado desde 2019, quando a Justiça de sua terra natal expediu mandado de prisão contra ele.

“Vincenzo Pasquino é um traficante internacional. Alvo de um procedimento penal da direção setorial antimáfia de Torino, porque pertence ao clã da ‘Ndrangheta chefiado por Nicola e Patrick Assisi”, explicou o procurador Giovanni Bombardieri.

Nicola e Patrick Assisi, pai e filho, foram presos num apartamento de luxo em Praia Grande, na Baixada Santista, em julho de 2019. Na cobertura, foi encontrado um passaporte em nome de Vicenzo Pasquino.

Depois da captura dos dois, Pasquino tomou o lugar deles e passou a negociar em nome das principais famílias mafiosas o transporte de carregamentos de drogas com destino ao Piemonte e à Calábria, segundo documentos citados pelo diário local.

Fonte: O Globo

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