Sergipe é considerado pelo Ministério da Agricultura como sendo um estado em expansão com o cultivo de cacau na região nordeste do Brasil. Por meio de iniciativas do Governo de Sergipe, o fruto vem despertando interesse crescente dos pequenos agricultores rurais do estado, impulsionado pelo potencial econômico da promissora cultura. O incentivo e assistência técnica à produção cacaueira é promovido pela Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Pesca (Seagri), por meio da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro).
O cultivo do cacau em Sergipe é relativamente recente. Os primeiros plantios de cacaueiro em Sergipe foram experimentados por pequenos agricultores familiares da região citrícola nas regiões do sul e centro sul do estado e detectados por técnicos da Emdagro no ano de 2008. Em 2012, a empresa deu início ao suporte técnico e à distribuição de mudas nessas regiões.
Por meio do convênio de cooperação técnica com pesquisadores da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Emdagro vem desenvolvendo a iniciativa que visa oferecer novas alternativas para a agricultura familiar.
De acordo com o assessor técnico da Emdagro, o engenheiro agrônomo Luiz Carlos Nunes, o cacau foi identificado como uma cultura promissora devido à capacidade de adaptação ao clima e solo da região, além do alto valor agregado.
“A assistência técnica incentiva os produtores e mostra as possibilidades de cultivo de cacau em Sergipe. Testamos diferentes espaçamentos, clones de alta produtividade e o uso de sombreamento com outras culturas. O objetivo é que esses pequenos produtores possam adotar as melhores práticas e aumentar a produtividade”, ressaltou.
O plantio de cacau na região sul de Sergipe tem sido feito com sombreamento de diferentes culturas, como banana e cajá, o que favorece o desenvolvimento das plantas jovens. O assessor técnico da Emdagro destacou que o acordo de cooperação técnica com a Ceplac tem duração de quatro anos e prevê transferência de tecnologia, capacitação dos técnicos da Emdagro e implantação de Jardim Clonal com os principais clones de Cacau de alta produtividade.
A escolha das regiões do centro-sul e sul de Sergipe para o cultivo de cacau foi feita devido às semelhanças com as condições da região produtora de cacau no sul da Bahia, como a precipitação, que varia entre 1200 e 1400 milímetros, solos profundos e topografia suavemente ondulada. Essas características permitem que o cacau seja uma alternativa viável para os pequenos produtores da região.
A safra de 2024 já começou, a expectativa é de que Sergipe produza cerca de 9,5 toneladas de amêndoas de cacau, que serão comercializadas principalmente em Santo Antônio de Jesus, na Bahia. A tendência é que mais produtores invistam no cacau, aproveitando as condições favoráveis e o suporte técnico oferecido pelo governo. “Hoje, temos 26 produtores e esperamos ampliar esse número em 30% até 2026, alcançando 50 hectares de plantio de cacau em Sergipe”, informou Luiz Carlos.
Pioneirismo
Seu Manoel da Conceição, de 68 anos, é um dos pioneiros no cultivo do cacau no município de Arauá, no sul sergipano. Há mais de 45 anos, ele cultiva na propriedade de 10 hectares diversas culturas, como laranja, macaxeira, mamão, maracujá, banana, abacaxi e, mais recentemente, cacau. Em 2012, ele foi selecionado pela Emdagro para implantar uma Unidade de Observação, visando testar diferentes clones de cacau e práticas de manejo. Foram plantados 600 mudas dos clones PS 13 19, CCN 51 e PH 16, consorciados com bananeiras e cajazeiras, que proporcionam sombra às plantas jovens.
A iniciativa deu tão certo que, nos anos seguintes, seu Manoel ampliou a área plantada, chegando a quatro hectares de cacau em diferentes fases de desenvolvimento. Em 2021, em parceria com a Emdagro, duas novas áreas de observação foram implantadas, utilizando novos clones de alta produtividade, consorciados com culturas como mamão e banana, que ajudam no sombreamento do cacau.
Na safra de 2023, seu Manoel comercializou 1.555 kg de amêndoas de cacau para a Bahia. Para 2024, a expectativa é ainda maior, com previsão de colher 2.300 kg de amêndoas. Além da produção em larga escala, o produtor também se dedica à fabricação artesanal de derivados do cacau, como mel de cacau, licor e pó de cacau.
Crescimento da cultura
Atualmente, o município de Arauá conta com oito produtores de cacau, que juntos somam uma área plantada de 14,8 hectares. No total, Sergipe tem 26 produtores de cacau, distribuídos em 30,8 hectares, concentrados principalmente nos municípios de Arauá, Estância, Lagarto, Indiaroba, Itabaianinha, Santa Luzia e Umbaúba.
A produção de cacau no estado tem se mostrado atraente, o preço da arroba de cacau no ano de 2024 está com uma variação de preços entre R$ 830,00 para R$ 755,00 considerando altamente rentável e que tem animado os produtores. Além disso, o solo e o clima da região sul de Sergipe têm se mostrado ideais para o cultivo. O coordenador de agricultura da Emdagro ressaltou o potencial da cultura. “O cacau é uma cultura de alto valor agregado e, com o estímulo certo, pode se tornar uma importante fonte de renda para os produtores sergipanos. O governo tem oferecido suporte com distribuição de mudas, adubos e assistência técnica para garantir que a produção seja cada vez mais eficiente”, disse.
Com o bom resultado da produção, seu Manoel da Conceição compartilhou a satisfação com o crescimento da cultura cacaueira no estado. “Achei o cacau muito rentável e decidi ampliar a área plantada. O cacau se adaptou muito bem ao clima da região, e com irrigação, a produção tem sido excelente”. Ele também destacou a importância do apoio governamental. “O produtor sozinho não vai longe, precisa da ajuda do governo. Comecei a plantar e achei interessante. Agora, a cada ano, a área plantada só cresce,” relatou o agricultor.
Incentivo e assistência
Para compartilhar inovações e novas práticas no cultivo e manejo do cacau, a Emdagro realizou na quarta-feira, 18, no povoado Sucupira, em Arauá, sul sergipano, o Dia de Campo voltado para a cultura do fruto, reunindo produtores locais e técnicos. O evento faz parte do Programa de Estímulo à Cultura do Cacau, que busca incentivar a cultura do produto no estado.
Segundo o coordenador de Agricultura da Emdagro, Eduardo Cabral de Vasconcelos Barreto, o Dia de Campo é uma metodologia da extensão rural que serve para despertar e transferir tecnologias aos produtores.
“Sabemos que o cacau é uma cultura de alto valor agregado, com um futuro extremamente rentável. O nome científico do cacau é Theobroma cacao, o que significa ‘fruto dos deuses’. Isso reflete tanto no aspecto agrícola quanto no financeiro. Por meio desse programa, o Governo do Estado tem estimulado os produtores locais com a distribuição de mudas, assistência técnica, distribuição de adubos e a instalação de unidades demonstrativas”, explicou Eduardo.
Na oportunidade, foram apresentados novas tecnologias e práticas de manejo do cacau, como irrigação, adubação e a aplicação foliar de soluções aditivas para melhorar a produtividade.Presente no Dia de Campo voltado ao cacau, José Manoel Nascimento dos Santos, produtor do assentamento Mangabeira, em Umbaúba, relatou que planta cacau há dois anos em uma área de aproximadamente 1,5 hectares. Segundo o produtor, o plantio tem sido muito positivo, com o apoio técnico da Emdagro.
“Eu plantava sempre bananeiras e hortaliças por dentro da bananeira, e buscava alguma planta que pudesse se adaptar ali dentro, até que chegou o plantio do cacau. Com o apoio da Emdagro, tudo tem corrido perfeitamente. A expectativa é aumentar ainda mais a produção nos próximos anos. Eu espero que mais produtores se interessem e que o plantio continue crescendo”, finalizou o produtor que comercializa as amêndoas do cacau na Bahia.