Uma febre mundial, que chamou a atenção do público pelas redes sociais e mobilizou muitos adultos e crianças para dedicar algumas horas do seu dia para testar as suas habilidades na pintura, aliviar o estresse, ocupar o tempo e desenvolver outras habilidades, como concentração e criatividade. Trata-se dos livros de colorir, com figuras em preto e branco que podem ser pintadas livremente em quaisquer cores, seja com lápis de cor, tinta guache, giz de cera ou caneta hidrográfica.
A série que inspirou a febre foi Bobbie Goods, criada em 2021 pela designer e ilustradora norte-americana Abbie Goveia, como uma estratégia de passatempo para pessoas que ficavam em casa durante a vigência das medidas de isolamento social contra a Covid-19. Ela foi trazida ao Brasil em 2025 pela editora Harper & Collins, que já contabilizou mais de 2,5 milhões de exemplares vendidos, segundo dados publicados pelo site Exame. Com quatro edições tradicionais e oito personagens, os livros trazem elementos lúdicos, sobretudo ursinhos e outros bichos em paisagens e momentos bucólicos do cotidiano.
Inicialmente voltados inicialmente para o público infantil, ela rapidamente conquistou os adultos que enxergaram naquelas figuras uma terapia, que além de remeter à infância, proporciona diversas sensações de paz, tranquilidade, relaxamento e em alguns casos, foco exclusivo em uma determinada tarefa, que o ajuda a “desligar-se” do mundo à sua volta, além de estimular a pessoa através da liberdade de combinação de cores. Em alguns casos, as pinturas acabam contribuindo com apoio emocional para pessoas que se recuperam de alguma cirurgia ou doença. E igualmente proporcionam aprendizado, assim como acontece com as crianças.
“A gente tem um aprendizado, que é o exercício da atenção plena e da criatividade, o que com o passar do tempo, muitas vezes, as crianças acabam não conseguindo mais trazer tanto, pelo excesso de telas. Já os adultos usam como uma ferramenta de hobby, para poder extravasar e poder tirar um pouco o foco do dia do trabalho. Para as crianças, a gente os usa muito para trabalhar com a atenção, a criatividade, a imaginação e vários outros processos psicológicos básicos”, explica a psicóloga Catiele dos Reis Santos, professora do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit) e especializada em Psicologia da Infância.
Isso acontece porque, ao pintar, a pessoa fica concentrada em terminar a pintura com o máximo de capricho e de atenção, mesmo sem a pressão de ter um tempo, objetivo ou resultado definido. É o chamado ‘efeito de flow’. “Trata-se de uma concentração a longo tempo fazendo uma coisa que você não precisa pensar tanto. E isso daí traz esse relaxamento porque a pessoa está em concentração e atenção plena durante esse tempo”, diz Catiele.
A popularidade dos livros de colorir se propagou através de vídeos nas redes sociais, nos quais muitos adultos mostravam os momentos de pintura e os resultados deles, com muitos trabalhos bem caprichados (e outros nem tanto). Ela deu origem a outras séries para crianças e também mais voltadas aos adultos, trazendo flores, paisagens mais elaboradas e até mesmo sátiras como a “Pobre Goods”, criada pela empreendedora fluminense Evelini Araújo. Ela também desenhou situações do cotidiano, mas substituiu o idílico pela crítica, e os ursinhos fofos por trabalhadores exaustos perdendo o ônibus, enfrentando filas ou fazendo as contas do mês com pouco dinheiro.
Apesar dos temas e dos públicos diferentes, os livros de colorir são, à luz da Psicologia, um elemento benéfico e positivo para adultos e crianças, que sentem o mesmo efeito flow. “Tanto um quanto o outro fazem o mesmo efeito, porque na verdade é um exercício projetivo, de você colocar para fora cores e situações que você tem no seu dia a dia. A gente para pra prestar atenção em uma única coisa, sai um pouco das telas, exercita a criatividade, etc. Não gera uma infantilização, como estão pensando”, considera a professora.
Fonte: Asscom Unit





