ARACAJU/SE, 9 de março de 2025 , 10:03:06

Poder feminino e superação: 9 livros para ler no mês da mulher

O Dia Internacional das Mulheres é celebrado neste sábado (8). A data, oficializada em 1975 pela ONU, foi uma ideia inicialmente do Partido Socialista da América, que a consagrou nos EUA em 1909. A inspiração veio ano antes, quando 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York, exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto.

Desde então, março se tornou um mês simbólico para para refletir sobre as lutas e as conquistas das mulheres ao longo da história. Na “Sua Estante” deste mês, convidamos você a comemorar a data através da leitura.

No livro O Canto da Estrela Dalva, de Carla Paiva, as homenageadas são as mulheres sertanejas. Já em Estou com câncer e daí?, de Clélia Bessa, conhecemos a força inspiradora de uma autora que encarou o câncer de mama. Por último, em A nova menopausa, aprendemos sobre a fase de mudança hormonal feminina pelo olhar da ginecologista americana Mary Claire Haver.

Veja as indicações a seguir:

1. Na voz dela, de Alba de Céspedes

"Na voz dela", de Alba de Céspedes — Foto: Companhia das Letras

“Tenho uma pequena lista com os livros que me encorajaram. Este é um deles”, diz a escritora italiana Elena Ferrante sobre Na voz dela. A obra é uma crônica devastadora da vida de uma mulher na Itália do século 20.

O livro, de autoria de Alba de Céspedes, explora questões femininas que permanecem atuais desde aquela época, quando a Itália foi contaminada pelo fascismo e pela guerra. A protagonista é Alessandra Corteggiani, uma mulher que percebe que não deseja ocupar o lugar de esposa subserviente e calada.

Após o suicídio da mãe, ela é enviada para Abruzzo determinada a seguir o tradicional roteiro reservado às mulheres da época. Mas, a personagem toma consciência das injustiças de gênero e passa a buscar o mesmo respeito normalmente dispensado aos homens. Apaixona-se por Francesco, um professor antifascista, e é lançada numa espiral de acontecimentos que mudará sua vida para sempre.

2. O Canto da Estrela Dalva, de Carla Paiva

"O canto da Estrela Dalva", por Carla de Paiva — Foto: Patuá

Um tributo às mulheres do sertão e uma celebração da resiliência feminina, O Canto da Estrela Dalva, de Carla Paiva, conta a história de Aparecida, uma mulher que enfrenta as amarras da sociedade patriarcal na cidade de Iracema, no Ceará, vale do Jaguaribe.

A narrativa, que demorou quatro anos para ser escrita, se passa entre os anos de 1922 e 1924 — época de uma das maiores secas da região. “A história ganhou corpo aos poucos, e escrevê-la foi uma jornada de descobertas e conexões com minhas próprias raízes”, conta a autora cearense, natural de Iracema, segundo comunicado da editora Patuá.

Paiva, que é graduada em Letras e cursa atualmente Filosofia, inspirou-se em grandes escritores para escrever a obra, incluindo Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Albert Camus e Fernando Pessoa. Outra inspiração destacada por ela são as mulheres com quem conviveu: “através deste livro, consegui trazer ao mundo uma personagem que se assemelha às minhas ancestrais; vejo muito da minha mãe, da minha avó e também um pouco de mim”, reflete.

3. Estou com câncer e daí?, de Clélia Bessa

"Estou com câncer e daí", de Clélia Bessa — Foto: Cobogó

Estou com câncer e daí? , de Clélia Bessa, é o livro que originou o filme Câncer com ascendente em virgem, que estreia no próximo dia 27 de março nos cinemas brasileiros. O drama é dirigido por Rosane Svartman e conta um grande elenco: Suzana Pires, Marieta Severo e Fabiana Karla.

O enredo do livro retrata a jornada de cura da autora, diagnosticada com câncer de mama. São textos curtos, contendo muita sinceridade e bom-humor. Entre os temas abordados, estão a autoestima e a vida amorosa de quem enfrenta a doença, além das emoções em torno da mastectomia, a temida cirurgia de remoção de mama.

4. A nova menopausa, de Mary Claire

"A nova menopausa: Viva a fase da mudança hormonal com informação e autonomia", de Mary Claire Haver — Foto: Intrínseca

Em A Nova menopausa, a ginecologista e obstetra americana Mary Claire Haver traz recursos com base científica para lidar com mais de 70 sintomas da menopausa. A médica defende que essa fase de mudança hormonal é inevitável; contudo, sofrer com ela não.

Além disso, mesmo que o processo seja natural, nem sempre ele é saudável, com sintomas desconfortantes. Por isso, a especialista montou este completo guia, rico em experiências reais vividas por mulheres reais.

Haver destaca a importância de as mulheres que passam ou irão passar pela perimenopausa, menopausa e pós-menopausa estarem totalmente informadas sobre as opções de intervenção, oferecendo-lhes autonomia e conhecimento em uma etapa tão relevante para a mulher.

5. Freshwater, de Virginia Woolf

"Freshwater", de Virginia Woolf — Foto: Nós

Único texto teatral de Virginia Woolf, Freshwater gira em torno das tentativas da jovem atriz Ellen Terry de escapar de seu casamento com o pintor George Frederick Watts, homem muito mais velho, e explorar novas possibilidades de vida e arte.

Inspirada na fotógrafa e escultora Julia Margaret Cameron, tia-avó de Woolf, esta comédia ocorre em 1870, em uma casa de campo na Ilha de Wight, onde Cameron morava. A peça zomba da Era Vitoriana com personagens excêntricos, criticando as convenções sociais e artísticas do século 19.

A obra teatral foi escrita como uma brincadeira para entreter amigos nas noites do grupo de intelectuais de Bloomsbury, da qual a autora fazia parte. A história, que ganha uma tradução inédita em português, foi montada ela primeira vez no teatro em 1935 no ateliê de Vanessa Bell, em Londres, e, mais tarde, em Nova York.

6. Atos humanos, por Han Kang

"Atos humanos", por Han Kang — Foto: Todavia

Atos humanos mostra todo o talento da sul-coreana Han Kang, vencedora do Nobel da Literatura em 2024. A história traz os pontos de vistas dos sobreviventes afetados pela repressão do exército a um levante estudantil em maio de 1980, na cidade sul-coreana Gwangju.

O episódio resulta em milhares de mortes, mas um menino de apenas 15 anos, chamado Dongho, sobrevive e busca seu melhor amigo em meio às vítimas num ginásio onde estão os cadáveres não identificados. Com isso, há um entrelace das trajetórias das vítimas e dos enlutados ao longo dos capítulos do livro, marcando uma ficção violenta e sensível.

7. As sementes que o fogo germina, de Sumaya Lima

"As sementes que o fogo germina", de Sumaya Lima — Foto: Mondru Editora

Este livro de estreia da paulistana Sumaya Lima reúne 26 contos cotidianos sobre frustrações e emoções destrutivas. Em uma das histórias de As sementes que o fogo germina, uma senhora de 94 anos é lançada de uma ponte em direção ao mar sem motivação aparente. Em outra, um menino busca nos elementos da natureza a cura para sua incapacidade de falar.

A autora começou a escrever a obra em 2020, mesmo ano em que foi contemplada no edital Itaú Cultural Arte como Respiro na categoria de Poesia. Entre os temas explorados estão a solidão dos idosos, do bullying na infância e da natureza das relações abusivas.

“Acho que a literatura, como todas as artes, não deve se furtar à exploração de nenhum aspecto da condição humana, por mais sombrio que seja”, afirma Lima, em comunicado da editora Mondru, responsável pelo livro.

8. O céu da selva, de Elaine Vilar Madruga

"O céu da selva", de Elaine Vilar Madruga — Foto: Instante

A cubana Elaine Vilar Madruga, finalista do prêmio Finestres de Narrativa em Castelhano 2024, retrata em O céu da selva a condição feminina, a maternidade, a violência e a degradação humana que assolam a América Latina.

“Este romance é um golpe, o sangue que não conseguimos deixar de enxergar, uma história sobre a selva e a voracidade da violência. A maternidade e a morte, o que nos torna humanos e o que nos torna cruéis”, considera a escritora e jornalista argentina Mariana Enriquez, em comentário sobre a obra.

O livro cria uma realidade na qual nenhuma mulher pode decidir não ser mãe e nenhuma mãe pode colocar o amor acima de suas obrigações com a selva. Nós somos apresentados a uma velha, suas duas filhas adultas, a um homem e a dezenas de “crias” humanas em uma fazenda inóspita. Mas algo está prestes a desequilibrar o funcionamento dessa família.

9. O que os psiquiatras não te contam, de Juliana Belo Diniz

"O que os psiquiatras não te contam", por Juliana Belo Diniz — Foto: Fósforo

Em O que os psiquiatras não te contam, Juliana Belo Diniz, especialista em pesquisa clínica por Harvard e doutora em psiquiatria pela USP, propõe uma psiquiatria humanizada e questiona a ideia de que os transtornos mentais seriam resultados do mau funcionamento do cérebro.

Diniz mescla neste livro a história da psiquiatra com sua própria experiência em consultório. Nessa jornada, você vai conhecer as primeiras descobertas clínicas do século 18, as polêmicas do efeito placebo, e ainda entenderá a origem dos antidepressivos e do boom da geração Prozac.

Discutindo também problemas atuais, como a ultraprodutividade e a hipermedicalização, a obra faz refletir sobre a origem do sofrimento humano. “Há pesquisas em neurociências que estudam os efeitos cerebrais das vivências de racismo, desigualdade social e privações. O que elas mostram é que isso altera o funcionamento do cérebro. Então, se você não consegue ser uma pessoa paciente e tranquila porque viveu em um contexto muito difícil, não foi uma escolha sua ser instável, mas sim uma consequência desse contexto”, comenta Diniz.

Fonte: Revista Galileu

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