Procedimentos estéticos melhoram a autoestima e promovem a saúde e o bem-estar, porém, é preciso ficar alerta para complicações oculares que podem surgir em situações em que o paciente é atendido por profissionais sem qualificação. Esse é o alerta do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) diante do aumento da procura por esse tipo de serviço que tem gerado uma maior procura de pessoas por cuidados especializados.
De acordo com o Conselho, a realização de sessões de ultrassom microfocado, laser CO2, peeling de ATA (Ácido Tricloroacético) ou peeling de fenol estão entre os procedimentos estéticos mais comuns que podem gerar problemas para a visão. Entre as complicações que podem surgir estão queimaduras, levando a danos na córnea, retina, aparecimento de catarata e até glaucoma. A Revista Oftalmologia em Foco, em setembro/outubro de 2020, trouxe o relato de um caso no qual, após uma aplicação incorreta de ultrassom microfocado, o paciente evoluiu com baixa de visão, dor, sensibilidade à luz e aumento da pressão intraocular, levando a glaucoma secundário e catarata.
A discussão desse tema também fará parte das atividades da 68ª edição do Congresso Brasileiro de Oftalmologia, organizado pelo CBO, que acontece entre os dias 4 e 7 de setembro, em Brasília (DF). “Ao longo de sua história, esse evento tem sido palco para que a especialidade se articule pela proteção da saúde e do bem-estar coletivos”, afirmou a presidente do CBO, Wilma Lelis.
Sintomas – Geralmente, os problemas oculares relacionados a tratamentos estéticos exigem uma avaliação oftalmológica de urgência quando surgem sintomas, como dor na região ocular, fotofobia (sensibilidade excessiva à luz), fotopsias (sensação de pontos de luz no campo de visão) e hiperemia conjuntival (vermelhidão dos olhos).
Diante desses quadros, o CBO aponta uma série de cuidados para evitar problemas nos olhos. Os pontos importantes para a prevenção de complicações oculares incluem: ser atendido por profissional adequadamente treinado no uso de práticas de segurança específicas para a área periorbital, com a compreensão da anatomia dessa região e dos limites de segurança.
Para fazer essa verificação, o paciente pode checar se o profissional que se apresenta para fazer o procedimento possui certificações válidas e está licenciado. Também é relevante avaliar a experiência e os treinamentos específicos aos quais ele foi submetido para o uso das diferentes tecnologias e abordagens, assim como se pertence a sociedades médicas reconhecidas pela atuação na área estética.
Plano de tratamento – No checklist de segurança, também surgem medidas como assegurar-se de que os equipamentos utilizados nos procedimentos estejam bem configurados e calibrados para os tratamentos pretendidos, além de evitar a aplicação de substâncias que causam desconforto e agridem a região dos olhos. Outro ponto é a montagem de um plano de tratamento, buscando personalizá-lo às necessidades de saúde ocular do paciente, o que reduz o risco de complicações.
Neste combo, também está a necessidade de uma avaliação oftalmológica prévia. “Ela é crucial para identificar condições pré-existentes, como olho seco, glaucoma ou infecções que possam ser exacerbadas pelo procedimento”, apontou a professora Carolina P.B. Gracitelli, especialista em plástica ocular e glaucoma pela UNIFESP, e que é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Plástica Ocular (SBCPO) e da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).
Com experiência no atendimento de pacientes com complicações geradas em atendimentos estéticos, a médica alertou para os problemas causados pela invasão de competência promovida por profissionais não médicos.
Ato Médico – No caso dos procedimentos estéticos invasivos, ela ressalta que, ao se desrespeitar a Lei do Ato Médico (12.842/13), que indica que apenas profissionais graduados em medicina podem realizar esse tipo de procedimento, o paciente é exposto a uma situação de risco. “Muitas vezes, quem se aventura nesse campo sem o preparo devido incorre em erro e não sabe conduzir as complicações ou não conta com uma rede de apoio para tratar possíveis complicações”, ressaltou.
De qualquer modo, Carolina P.B. Gracitelli reiterou a necessidade de encaminhar para um oftalmologista as situações de urgência, coma a ocorrência de baixa visão após o procedimento. “Nestes casos, o paciente deve ser imediatamente avaliado por um especialista, para determinar a extensão do dano e iniciar tratamento apropriado, que pode incluir medicamentos anti-inflamatórios ou procedimentos cirúrgicos, se necessários”, disse.