A guerra comercial entre Estados Unidos e China está redefinindo o mercado global de soja, com o Brasil emergindo como grande beneficiário às custas dos produtores americanos. A American Soybean Association (ASA), principal entidade representativa do setor nos EUA, enviou uma carta urgente ao presidente Donald Trump nesta terça-feira (19) alertando que os agricultores americanos estão “à beira de um precipício comercial e financeiro”.
O documento, assinado pelo presidente da ASA, Caleb Ragland, revela que a China substituiu sistematicamente a soja americana pela brasileira. Isso devido às tarifas de retaliação de 20% impostas por Pequim aos produtos agrícolas americanos. Segundo dados atualizados, o Brasil já representa mais de 70% das exportações de soja para a China. Assim, consolidando sua posição dominante no maior mercado consumidor mundial do grão.
Mercado perdido para o Brasil
A situação é ainda mais dramática quando analisados os números específicos. Os estados americanos de Iowa, Illinois e Minnesota – principais produtores de soja – venderam coletivamente cerca de US$ 12,8 bilhões em soja para a China em 2024. Valor que agora está em risco devido às medidas de retaliação de Pequim.
Na carta enviada a Trump, a ASA é categórica ao afirmar que “historicamente, os Estados Unidos eram o fornecedor de preferência dos clientes chineses. No entanto, devido à retaliação tarifária em curso, nossos clientes de longa data na China têm recorrido — e continuarão recorrendo — aos nossos concorrentes na América do Sul para atender sua demanda”.
A entidade destaca que a China foi responsável, em média, por 61% de todas as importações globais de soja nos últimos cinco anos e está evitando compras nos EUA para os próximos meses, tendo contratado os volumes necessários com o Brasil.
Brasil fortalece parceria com China
Do outro lado do Atlântico, o Brasil não apenas mantém sua vantagem competitiva como a expande. A parceria sino-brasileira se fortaleceu ainda mais em 2025 com o lançamento da iniciativa “Soy China”, que visa impulsionar cadeias de suprimento sustentáveis de soja.
Uma força-tarefa recentemente facilitou um acordo inovador para entregar 1,5 milhão de toneladas de soja sustentável certificada do Brasil para a China. Portanto, demonstrando que a relação comercial vai além da simples substituição de fornecedores e inclui aspectos de sustentabilidade que podem ser decisivos no futuro.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta que o Brasil produzirá 169 milhões de toneladas de soja para o ano comercial 2024/2025. Com exportações alcançando 109 milhões de toneladas, números que evidenciam a capacidade brasileira de atender à crescente demanda chinesa.
Agricultores americanos em crise
A carta da ASA descreve um quadro preocupante para os produtores americanos. Qu e já enfrentam uma combinação letal de preços em queda e custos crescentes de insumos e equipamentos. “Os sojicultores dos EUA não podem sobreviver a uma disputa prolongada com o nosso maior cliente”, alerta o documento.
“As tarifas sobre a China podem nos tirar do negócio até 2027. Todo o nosso sangue, suor e trabalho pode desaparecer com o traço de uma caneta”, declarou um produtor de soja que votou em Trump, ilustrando o desespero do setor.
O timing da carta é especialmente crítico, considerando que os EUA se aproximam rapidamente da época de colheita no Hemisfério Norte. Um estudo de 2024 da National Corn Growers Association descobriu que, se as tarifas da China se expandirem para milho e soja americanos, os agricultores americanos podem arcar com os custos.
Impactos econômicos duradouros
A situação atual representa uma inversão dramática na balança comercial agrícola. O Brasil já ultrapassou os EUA como maior fornecedor de soja da China. Uma mudança que tem causado preocupação entre os agricultores americanos que temem perder seu maior mercado.
A American Soybean Association enfatiza que “a China não adquiriu nenhuma soja dos EUA para os próximos meses, enquanto nos aproximamos rapidamente da colheita. Quanto mais avançarmos no outono sem chegar a um acordo com a China sobre a soja, piores serão os impactos para os produtores norte-americanos”.
O documento alerta que a guerra comercial criou uma “desvantagem competitiva” permanente para os americanos. Com consequências que podem se estender muito além do setor agrícola. Portanto, afetando comunidades rurais inteiras que dependem da agricultura como principal atividade econômica.
Com o Brasil consolidando sua posição no mercado chinês e estabelecendo parcerias estratégicas de longo prazo, a recuperação da participação americana no mercado de soja chinês pode se tornar cada vez mais desafiadora. Mesmo após uma eventual resolução da guerra comercial.
A carta da ASA representa um apelo direto para que a Casa Branca priorize o tema nas negociações com Pequim. Mas os especialistas alertam que, uma vez perdidas, as relações comerciais estabelecidas podem ser difíceis de reconquistar. Especialmente quando os concorrentes demonstram capacidade de fornecimento sustentável e competitivo.
Fonte: Agroemcampo