Hoje completa 83 anos de um dos episódios mais marcantes da história de Aracaju. Em 18 de agosto de 1942, dois dias após o afundamento do navio Aníbal Benévolo, atacado pelo submarino alemão U-507 na costa sergipana, a população tomou as ruas em protesto contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Corpos e destroços das embarcações começaram a surgir nas praias, trazendo o horror da guerra para o cotidiano dos aracajuanos.
Naquele dia, estudantes organizaram um grande “Comício de Desagravo” no centro da capital. O jornal Folha da Manhã relatou que a cidade “ficou profundamente consternada” e que “o povo grita e pede desforra”. A multidão tomou as ruas em protesto, obrigando a polícia a intervir para conter os manifestantes e evitar distúrbios.
Os atos em Aracaju se somaram a manifestações em várias partes do país, alimentadas pelo impacto da tragédia. Entre 15 e 17 de agosto, o submarino U-507 havia afundado cinco embarcações brasileiras — Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará — deixando centenas de mortos, entre eles civis, mulheres e crianças. Foi a primeira vez que os ataques ocorreram em águas territoriais brasileiras, contra navios de cabotagem que transportavam passageiros, o que agravou ainda mais a revolta popular.
O clima na capital sergipana refletia o sentimento nacional. Em diversas cidades, propriedades de estrangeiros de origem alemã, italiana e japonesa foram atacadas. Em Aracaju, a residência do comerciante italiano Nicola Mandarino foi invadida e incendiada sob acusação de espionagem. O governo federal tentou conter os ânimos: o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) obrigou jornais e rádios a divulgar notas oficiais, mas não conseguiu deter o avanço da indignação.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, Getúlio Vargas soube capitalizar politicamente. Permitiu que manifestantes entrassem no Palácio da Guanabara e, diante da massa que queimava bandeiras nazistas e empunhava faixas com os dizeres “Queremos a Guerra”, fez um discurso que consolidou sua imagem de líder disposto a atender ao clamor popular.
A pressão foi decisiva. Em 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália e, no dia 31 de agosto, Vargas decretou o Estado de Guerra em todo o território nacional.
Em Aracaju, os reflexos daquele período permanecem na memória coletiva. Corpos não identificados foram sepultados às pressas às margens da praia, originando o Cemitério dos Náufragos, hoje preservado como monumento histórico. O 18 de agosto de 1942 ficou marcado não apenas como o dia em que Aracaju se levantou contra a barbárie da guerra, mas também como o momento em que a pressão popular ajudou a empurrar o Brasil para o front da Segunda Guerra Mundial.