ARACAJU/SE, 18 de agosto de 2025 , 12:53:46

Protestos em Aracaju marcaram episódio da Segunda Guerra Mundial

 

Hoje completa 83 anos de um dos episódios mais marcantes da história de Aracaju. Em 18 de agosto de 1942, dois dias após o afundamento do navio Aníbal Benévolo, atacado pelo submarino alemão U-507 na costa sergipana, a população tomou as ruas em protesto contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Corpos e destroços das embarcações começaram a surgir nas praias, trazendo o horror da guerra para o cotidiano dos aracajuanos.

Naquele dia, estudantes organizaram um grande “Comício de Desagravo” no centro da capital. O jornal Folha da Manhã relatou que a cidade “ficou profundamente consternada” e que “o povo grita e pede desforra”. A multidão tomou as ruas em protesto, obrigando a polícia a intervir para conter os manifestantes e evitar distúrbios.

Os atos em Aracaju se somaram a manifestações em várias partes do país, alimentadas pelo impacto da tragédia. Entre 15 e 17 de agosto, o submarino U-507 havia afundado cinco embarcações brasileiras — Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará — deixando centenas de mortos, entre eles civis, mulheres e crianças. Foi a primeira vez que os ataques ocorreram em águas territoriais brasileiras, contra navios de cabotagem que transportavam passageiros, o que agravou ainda mais a revolta popular.

O clima na capital sergipana refletia o sentimento nacional. Em diversas cidades, propriedades de estrangeiros de origem alemã, italiana e japonesa foram atacadas. Em Aracaju, a residência do comerciante italiano Nicola Mandarino foi invadida e incendiada sob acusação de espionagem. O governo federal tentou conter os ânimos: o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) obrigou jornais e rádios a divulgar notas oficiais, mas não conseguiu deter o avanço da indignação.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, Getúlio Vargas soube capitalizar politicamente. Permitiu que manifestantes entrassem no Palácio da Guanabara e, diante da massa que queimava bandeiras nazistas e empunhava faixas com os dizeres “Queremos a Guerra”, fez um discurso que consolidou sua imagem de líder disposto a atender ao clamor popular.

A pressão foi decisiva. Em 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália e, no dia 31 de agosto, Vargas decretou o Estado de Guerra em todo o território nacional.

Em Aracaju, os reflexos daquele período permanecem na memória coletiva. Corpos não identificados foram sepultados às pressas às margens da praia, originando o Cemitério dos Náufragos, hoje preservado como monumento histórico. O 18 de agosto de 1942 ficou marcado não apenas como o dia em que Aracaju se levantou contra a barbárie da guerra, mas também como o momento em que a pressão popular ajudou a empurrar o Brasil para o front da Segunda Guerra Mundial.

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