ARACAJU/SE, 25 de julho de 2025 , 17:40:53

Quando o silêncio grita, é o afeto que nos segura

 

Às vezes, a vida desmorona sem aviso. A dor chega sem bater na porta, e o que nos resta é tentar manter o pouco que ainda está de pé. Nessas horas, ter alguém por perto faz toda a diferença. Alguém que nos olhe nos olhos sem pressa, que nos escute sem querer consertar nada, que apenas esteja ali com presença real, com afeto, com cuidado. Isso se chama apoio social. E eu, como psicóloga e como alguém que também já se sentiu frágil, posso afirmar: é ele que sustenta quando tudo parece desabar.

Recentemente, a história da cantora Preta Gil tocou o coração de muita gente. Uma mulher de brilho intenso, que enfrentou o adoecimento com coragem e dignidade, mas, principalmente, com uma rede de amigos que não a deixou sozinha em nenhum momento. Ver aquelas imagens, os relatos, a presença fiel das pessoas ao lado dela até o fim e mesmo depois me fez refletir profundamente sobre o quanto precisamos uns dos outros. Porque a doença assusta, paralisa, enfraquece. Mas o amor, a amizade, a solidariedade sincera têm o poder de nos manter vivos por dentro, mesmo quando o corpo já não responde como antes.

O apoio social, no entanto, não deve ser lembrado só nos momentos de perda ou dor. Ele precisa estar presente no cotidiano, na rotina dura do trabalho, nos dias de silêncio, nos instantes em que o cansaço é mais alto que a nossa voz. Durante o meu mestrado em Psicologia da Saúde, entrevistei profissionais da linha de frente da pandemia da Covid-19: médicos, enfermeiros, técnicos. Gente que enfrentou o caos de perto. Gente que teve medo de morrer, de contaminar a família, de não dar conta. E todos eles me disseram que só conseguiram atravessar aquele tempo sombrio por causa do apoio que recebiam dos colegas. Era um olhar de incentivo no plantão, um abraço apertado depois de um turno exaustivo, uma mensagem rápida dizendo “tô contigo”. Não foi a técnica que os manteve firmes. Foi o afeto, a união, o cuidado mútuo.

Não fomos feitos para suportar tudo sozinhos. A ideia de que precisamos ser fortes o tempo todo é cruel, desumana e falsa. Há forças que só surgem quando alguém segura a nossa mão. Há dores que só se aliviam quando partilhadas. Há caminhos que só conseguimos trilhar porque alguém caminhou ao nosso lado, mesmo em silêncio. A vida não é feita só de conquistas e vitórias. Ela também é feita de quedas, de fracassos, de perdas que nos cortam fundo. E, nesses momentos, mais do que qualquer conselho, a presença de alguém pode ser o que nos salva.

Eu penso que precisamos cultivar nossas redes com o mesmo cuidado com que regamos uma planta. Amizade verdadeira, apoio sincero, relações que acolhem. Tudo isso precisa de tempo, de atenção, de entrega. E não apenas para quando o pior acontecer, mas para a vida como ela é: cheia de altos e baixos, de manhãs claras e noites pesadas.

Se eu pudesse deixar uma mensagem hoje, seria essa. Cuide das suas pessoas. Esteja presente. Ligue, pergunte, abrace. Porque o que nos sustenta não é o sucesso, o dinheiro, a aparência. É o afeto. E que sorte tem quem não precisa esperar a dor chegar para saber disso.

Por Adriana Meneses — Psicóloga (CRP 19/4184), Jornalista e Pesquisadora

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