ARACAJU/SE, 17 de agosto de 2025 , 16:19:22

Risco de pessoa negra ser morta é 2,6 vezes maior no País, diz Ipea

Por Felipe Resk

São Paulo, 31 – Um negro tem 2,6 vezes mais risco de ser assassinado no Brasil do que as outras pessoas. Na maior parte dos casos de homicídio, a vítima também é jovem. Os dados, divulgados ontem, constam do Atlas da Violência 2021, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

A análise foi feita com base em registros reunidos pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Por ter metodologia e abrangência nacional, o banco de dados é historicamente considerado a principal fonte para medir indicadores de violência no País e avaliar o perfil das vítimas. Como a pesquisa retroage dois anos, os resultados trazidos nesta edição do Atlas são referentes aos dados de 2019. A discrepância entre o risco de morte de negros e brancos vem em um patamar elevado ao menos desde 2008, segundo os dados. Em 2018, por exemplo, esse indicador estava em 2,7.

Naquele ano, o SIM apontou 45.503 assassinatos praticados no Brasil, o equivalente a uma taxa geral de 21,7 mortes por 100 mil habitantes. O índice representa um recuo de 21,4% em relação às 57.956 ocorrências do ano anterior. Pesquisadores alertam, no entanto, sobre a queda na qualidade desse banco a partir de 2018, quando começou a haver aumento importante de mortes violentas registradas com “causa indeterminada”.

Na prática, isso pode reduzir artificialmente o número de homicídios e prejudicar comparações com a série histórica. Foi a primeira vez, por exemplo, que o índice da Saúde ficou abaixo do total de casos registrados pelas polícias – a outra forma de medir homicídios. Em 2019, as delegacias notificaram 47.742 mortes violentas.

Ainda assim, os assassinatos continuam como a principal causa de mortalidade entre jovens, sendo responsável por 39 de cada 100 óbitos notificados. Ao todo, 23.327 vítimas da violência tinham entre 15 e 29 anos (51,3% dos registros), ou 64 casos por dia, de acordo com o balanço.

“Nos últimos 11 anos, 333 mil adolescentes e jovens foram assassinados. É uma geração inteira que a gente está jogando fora. Além do custo emocional, da tragédia humana que representa, há o impacto econômico para o País”, diz Samira Bueno, uma das coordenadoras do estudo. O Atlas indica, ainda, que 75,7% das vítimas de homicídio em 2019 eram negras (a soma de pretas e pardas, de acordo com a definição do IBGE).

Índios

O Atlas aponta ainda que os assassinatos de indígenas aumentaram ao longo da última década, mesmo com o recuo geral de homicídios no País. Foram 2.074 relatos entre 2009 e 2019 – um aumento de 22% na taxa de letalidade violenta praticada contra os grupos étnicos. Ao todo, o Brasil notificou 186 assassinatos em 2019. Dados do IBGE apontam 896,9 mil indígenas no Brasil – e é a primeira vez que o Ipea realiza esse estudo.

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