ARACAJU/SE, 16 de abril de 2025 , 7:41:02

Romantização do excesso de trabalho preocupa especialistas e afeta saúde mental de profissionais

 

A ideia de que estar sobrecarregado é sinônimo de sucesso vem ganhando força, especialmente nas redes sociais, onde frases como “trabalhando no terceiro turno” ou “só na força do café e da ansiedade” têm se tornado frequentes. Especialistas alertam que essa romantização do cansaço pode ter consequências sérias para a saúde mental e física dos trabalhadores.

A chamada “cultura da produtividade” — em que se valoriza o excesso de trabalho como um traço de competência — está diretamente ligada ao aumento de casos de esgotamento, ansiedade e depressão. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 264 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade no mundo, muitos dos quais estão relacionados a fatores laborais.

A psicóloga e pesquisadora em saúde do trabalhador, Adriana Meneses, explica que o excesso de dedicação ao trabalho, sem pausas adequadas, tem sido naturalizado como um padrão de comportamento admirável. “Vivemos uma era em que o sofrimento psíquico virou performance. O corpo exausto virou símbolo de comprometimento. Isso é preocupante”, afirma.

Outro ponto que chama atenção é o modo como essa exaustão vem sendo exposta. As redes sociais funcionam como vitrines em que a superprodução é frequentemente celebrada e recompensada com curtidas e comentários positivos. “Há um certo glamour em dizer que está adoecendo, como se isso provasse dedicação. Mas o que está por trás disso é uma lógica perversa que precisa ser questionada”, complementa a psicóloga.

A OMS já reconhece oficialmente a Síndrome de Burnout como um fenômeno ocupacional. Ela é caracterizada por exaustão extrema, estresse crônico e sentimentos de ineficácia e insatisfação no ambiente de trabalho. A síndrome foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como um problema ligado exclusivamente ao contexto profissional.

Para Adriana, o primeiro passo para mudar esse cenário é desmistificar a ideia de que descansar é sinal de fraqueza. “É preciso entender que somos totalmente substituíveis nos nossos trabalhos. Se adoecermos ou morrermos, a vaga será preenchida. Por isso, descansar é um ato de autocuidado e também de resistência frente a uma lógica que desumaniza”, diz.

Ela defende que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal deve ser uma prioridade, tanto para indivíduos quanto para empresas. “Descansar não precisa de justificativa. É necessário não apenas para recuperar a energia, mas também para manter a saúde mental em dia. Precisamos parar de nos sentir culpados por isso.”

O alerta vale, inclusive, para quem consome esse tipo de conteúdo na internet. “Ao invés de exaltar o excesso, que tal normalizar o equilíbrio? Valorizar a pausa, o lazer e o tempo de qualidade com quem se ama? Isso também é produtividade, mas uma produtividade que não nos adoece”, conclui.

Por Assessoria de imprensa

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