Um dia depois de entregar o cargo da presidência da federação espanhola e da vice-presidente da Uefa, Luis Rubiales revelou que opiniões das três filhas foram determinantes para que ele tomasse a decisão. De acordo com o dirigente espanhol, Lucía, Ana e Elena pressionaram o pai a “se concentrar na minha dignidade e na minha vida” em meio à reação global contra o ato dele de beijar à força uma jogadora da seleção espanhola durante a premiação da Copa do Mundo Feminina.
O cartola anunciou, neste domingo, sua renúncia após ter sido denunciado pela atacante Jenni Hermoso por agressão sexual.
— Falei com minhas filhas e elas sabem que não é uma questão sobre mim. Dizem que tenho que me concentrar na minha dignidade e na minha vida. Nesta situação agora, é isso que tenho que fazer — disse ele, em entrevista ao jornalista Piers Morgan. — Alguns amigos muito próximos de mim disseram: ‘Luis, você tem que se concentrar na sua dignidade e continuar sua vida, porque senão você vai prejudicar as pessoas que você ama e o esporte que você ama’.
Na entrevista, ele voltou a dizer que o desejo pelo beijo em Hermoso era “exatamente o mesmo que poderia ter sido dar um beijo em uma de minhas filhas”. Ele teria pedido que a jogadora aparecesse num vídeo de desculpas, gravado após a repercussão do caso. “Faça isso pelas minhas filhas”, teria dito o cartola, que teve a presença das três durante o discurso em que culpou o suposto “falso feminismo” pela repercussão do beijo e se recusou a renunciar.
Rubiales renuncia
O dirigente publicou neste domingo uma carta nas redes sociais, na qual afirma que defenderá sua inocência e garante ter fé na verdade.
“Hoje, às 21h30 [19h30 GMT], transmiti ao presidente em exercício, Sr. Pedro Rocha, a minha renúncia ao cargo de presidente da RFEF o meu cargo na UEFA, para que o meu cargo na vice-presidência possa ser substituído”, começa Rubiales nesse texto.
“Depois da rápida suspensão levada a cabo pela FIFA, mais os restantes procedimentos abertos contra mim, é evidente que não poderei regressar ao meu cargo. , nem à Federação ou ao futebol espanhol. Entre outras coisas porque existem poderes de facto que impedirão o meu regresso”, continua.
Rubiales insiste que com a sua saída quer contribuir para a tranquilidade do futebol espanhol e para a força da candidatura de Espanha, Portugal e Marrocos ao Mundial de 2030.
“Não quero que o futebol espanhol seja prejudicado por toda esta campanha desproporcional e, acima de tudo, tomo esta decisão depois de ter a certeza de que a minha saída contribuirá para a estabilidade que permitirá à Europa e à África permanecerem unidas no sonho de 2030, o que nos permitirá trazer para o nosso país o maior evento do mundo”, garante.
Rubiales estava suspenso de seu cargo de presidente da Federação Espanhola pela Fifa. Na última terça-feira, a RFEF, sob comando interino, anunciou a demissão do técnico da seleção, Jorge Vilda, apoiador de Rubiales.
Recentemente, Jenni Hermoso denunciou Luis Rubiales pelo beijo forçado durante a cerimônia de premiação da Copa do Mundo Feminina para o Ministério Público da Espanha, que não perdeu tempo e acatou o pedido. O processo, então, foi aberto contra o Rubiales pelos crimes de agressão sexual e de coação.
Entenda o caso
No dia 20 de agosto, a Espanha foi campeã da Copa do Mundo Feminina ao vencer a Inglaterra por 1 a 0. Na cerimônia de entrega das medalhas, o presidente da RFEF, Luis Rubiales, abraçou a atacante Jenni Hermoso e deu um beijo na boca da jogadora, sem que ela pudesse consentir com a ação. Horas depois, no vestiário, ela foi perguntada sobre a situação e declarou “não gostei”, além de afirmar que não havia o que fazer no momento.
O ato gerou repercussão nas redes sociais e mobilizou políticos e personalidades do esporte. A imprensa espanhola noticiou que o dirigente tentou convencer Hermoso a aparecer em um vídeo com ele para minimizar a seriedade das acusações, usando até o nome das filhas na súplica, mas ela negou. Inicialmente, ele havia tentado colocar o beijo à força como uma “brincadeira entre amigos”, em um momento de celebração, mas depois das críticas, mudou a estratégia.
Na gravação, ele afirmou: “Seguramente, errei, tenho que reconhecer. Num momento de máxima efusividade, sem qualquer má intenção ou má-fé, ocorreu o que ocorreu, de maneira muito espontânea.”
Através de uma nota emitida pelo Futpro, sindicato que representa jogadoras de futebol na Espanha, Hermoso declarou que sua equipe jurídica estava cuidando do assunto. A nota da entidade também deixava uma mensagem pedindo que atos como esse não fiquem impunes.
Fonte: O Globo