A saúde mental no trabalho é, sem dúvida, uma das grandes questões do nosso tempo. Vivemos em um mundo cada vez mais veloz, hiperconectado e com exigências crescentes em todas as esferas da vida. O impacto desse cenário é sentido, de maneira diversa, por diferentes gerações que compartilham o mesmo espaço profissional. Em um ambiente corporativo onde baby boomers, gerações X, Y (millennials) e Z convivem, como cada uma delas lida com o equilíbrio entre saúde mental e produtividade?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que transtornos mentais, como depressão e ansiedade, já são a principal causa de incapacidade no mundo, afetando mais de 300 milhões de pessoas globalmente. No Brasil, a situação é preocupante: o país tem a maior taxa de transtornos de ansiedade do mundo, atingindo 9,3% da população adulta, e é o segundo em casos de depressão, com 5,8% dos brasileiros sofrendo com a doença, segundo o mesmo estudo. Esse cenário se agrava no ambiente corporativo, onde a pressão por produtividade e resultados pode ser uma armadilha perigosa.
O impacto geracional na saúde mental
Cada geração tem sua própria forma de enxergar o trabalho, e isso afeta diretamente a maneira como lida com o estresse e a saúde mental. A geração baby boomer, por exemplo, cresceu em uma cultura que valoriza a resiliência e a estabilidade no emprego. Para muitos, discutir saúde mental no ambiente de trabalho ainda é um tabu. Pesquisa da Deloitte mostra que apenas 31% dos baby boomers estão confortáveis em discutir sua saúde mental no trabalho, o que pode levar ao silêncio sobre o tema e ao acúmulo de problemas.
A geração X, que hoje ocupa muitos dos cargos de liderança, herdou parte dessa visão, mas está mais aberta ao diálogo sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. No entanto, por estarem em posições de comando, enfrentam a pressão de manter a produtividade das equipes, o que muitas vezes resulta em sobrecarga de responsabilidades. Para eles, a saúde mental se torna um desafio entre manter o desempenho e a preocupação com o bem-estar de suas equipes.
Já os millennials (geração Y) cresceram em um mundo mais conectado e com maior acesso à informação, incluindo questões de saúde mental. Para essa geração, o trabalho precisa ter um significado maior do que simplesmente pagar as contas. Uma pesquisa da McKinsey mostra que 53% dos millennials consideram sair de um emprego se sentirem que o ambiente de trabalho afeta negativamente sua saúde mental. Eles têm expectativas de flexibilidade e suporte, e priorizam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, algo que foi amplificado pela pandemia de Covid-19.
Por fim, a geração Z, que está começando a entrar no mercado de trabalho, traz consigo um olhar ainda mais crítico sobre o tema. Segundo uma pesquisa da FM2S Educação, 68% dos jovens dessa geração esperam que as empresas forneçam suporte psicológico e ambientes de trabalho saudáveis. São pessoas que têm uma visão pragmática sobre a importância do bem-estar mental e não hesitam em colocar sua saúde acima das expectativas corporativas. Não à toa, são os que mais têm se recusado a aceitar promoções que possam comprometer seu equilíbrio pessoal.
O desafio das empresas: se adaptar ou perder talentos
Diante dessas diferenças geracionais, o grande desafio para as empresas é encontrar formas de adaptar seus processos e culturas internas para oferecer um ambiente de trabalho que respeite as necessidades de cada geração. De acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), empresas que implementam programas robustos de apoio à saúde mental registram até 25% de aumento na produtividade e uma redução significativa de 35% no absenteísmo.
Isso nos leva a uma conclusão clara: o futuro das relações de trabalho deve ser construído em torno do equilíbrio entre a produtividade e o bem-estar. Empresas que ignoram essa realidade correm o risco de perder seus melhores talentos.
Programas de saúde mental e qualidade de vida são mais do que simples benefícios corporativos — são uma necessidade urgente. Nossa empresa, por exemplo, tem investido em cursos de desenvolvimento emocional e resiliência para ajudar tanto empresas quanto profissionais a encontrar esse equilíbrio. Afinal, um ambiente de trabalho saudável e que respeita as diferenças geracionais promove não apenas um aumento na satisfação, mas também no desempenho.
Portanto, a discussão sobre saúde mental no trabalho não é mais opcional – é um imperativo. Para que as empresas prosperem e seus colaboradores tenham uma carreira longa e saudável, é fundamental criar um ambiente que promova o bem-estar de todos, independente de qual geração pertençam. Entender as diferenças e adaptar-se a elas é um dos grandes desafios da liderança moderna.
E, se olharmos para frente, a questão é: qual será o próximo passo? Continuaremos a insistir em antigos modelos que não servem mais ou adotaremos uma abordagem inclusiva e inovadora para lidar com a saúde mental no trabalho? O tempo dirá, mas a urgência do tema já não pode ser ignorada.
*Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, gestor de carreiras