Segundo o Institute of Medicine – IOM, a recomendação de vitamina K para mulheres é de 90 mg/dia e para homens é de 120 mg/dia. Porém a falta de informação leva pessoas à suplementação inadequada, o que pode trazer riscos à saúde. Por isso, a Dra. Iana Mizumukai de Araújo, nutricionista da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo – ABRASSO, vem esclarecer pontos importantes e respaldados na ciência sobre a vitamina K2.
1.Qual é a principal função da vitamina K2 no organismo?
A vitamina K2, também conhecida como menaquinona, é um dos três tipos de vitamina K, além da filoquinona (K1) e menadiona (K3). A principal função da vitamina K no organismo é atuar na coagulação sanguínea, ajudando na ativação de proteínas que são essenciais para o processo de coagulação. Além disso, ela também desempenha papel na saúde óssea. A osteocalcina, envolvida no processo de mineralização óssea, é dependente de vitamina K, assim como a proteína GLA da matriz (uma proteína que fica na cartilagem).
- Quais são as principais fontes alimentares de vitamina K2?
Especificamente a vitamina K2 é produzida durante o processo de fermentação, como no natto, soja fermentada muito consumida no Japão. Também podemos encontrar essa vitamina em derivados do leite e vísceras, como no fígado. Em geral, as principais fontes alimentares de vitamina K incluem vegetais verde-escuros (couve, brócolis, espinafre), alface, repolho, aspargo, quiabo, pepino, couve-flor, queijos, óleos vegetais (soja, canola, azeite), margarina, lentilha, soja, gema do ovo, leite e, como já dito anteriormente, em alimentos fermentados.
- De que maneira a vitamina K2 atua na saúde óssea?
A vitamina K desempenha papel fundamental na saúde óssea ao ativar a proteína Gla da matriz, presente na cartilagem, sua importância se deve à regulação do cálcio, garantindo que ele seja direcionado para os ossos e não para os tecidos moles, como artérias. Um trabalho com camundongos que não possuíam essa proteína mostrou que esses animais apresentavam calcificação espontânea de artérias e cartilagem (Luo G, Ducy P, McKee MD, et al. Spontaneous calcification of arteries and cartilage in mice lacking matrix GLA protein. Nature. 1997;386(6620):78–81). Ela também ativa a osteocalcina, a principal proteína não colágena do osso e que garante que ocorra a adequada mineralização óssea.
Alguns estudos relacionam a vitamina K com a manutenção e melhora da densidade mineral óssea em mulheres na pós-menopausa com osteoporose, como mostrou a meta-análise de Zhou M e colaboradores (J Bone Miner Metab. 2022 Sep;40(5):763-772.). Por outro lado, um trabalho de revisão apontou que a suplementação de vitamina K parece ter pouco efeito na densidade mineral óssea para mulheres na pós-menopausa ou com osteoporose (Osteoporos Int. 2019 Aug;30(8):1543-1559). Considerando esses dados conflitantes, os estudos são promissores, porém ainda precisamos de estudos mais aprofundados para considerar a suplementação de vitamina K.
- Existe relação entre a vitamina K2 e a absorção de cálcio no organismo?
Não existe uma relação direta da vitamina K com a absorção de cálcio. Mas como dito anteriormente, a vitamina K tem papel importante na ativação da osteocalcina, fazendo com que o cálcio seja direcionado para os ossos e não se acumule em outros tecidos, diminuindo, por exemplo, o risco de calcificações arteriais.
- Existe algum grupo específico que deveria ter maior atenção quanto à suplementação de vitamina K2?
Pessoas com dieta pobre em vitamina K, ou seja, pessoas que não consomem alimentos ricos em vitamina K, como produtos fermentados, vísceras, vegetais de folhas escuras, entre outros alimentos citados acima, podem se beneficiar da suplementação. Porém devemos nos atentar que essas são situações raras e devem ser avaliadas por um profissional da saúde qualificado.
- Quais são as possíveis contraindicações ou efeitos colaterais da suplementação de vitamina K2?
A suplementação de vitamina K é geralmente segura, mas há algumas contraindicações e possíveis efeitos colaterais que devem ser considerados como interação com anticoagulantes, reações gastrointestinais em pessoas sensíveis e reações alérgicas. Além disso, em gestantes e lactantes não existem estudos sobre a segurança das doses para suplementação e para pessoas em geral é necessário cautela para evitar a toxicidade.