ARACAJU/SE, 26 de setembro de 2025 , 16:59:10

Será que é TDAH? Novo documento da SBP revela sinais de alerta no dia a dia

 

O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) se tornou um assunto popular nas redes sociais, mas também cercado de muitas fake news. Vídeos com informações imprecisas têm levado os jovens a se diagnosticarem com essa condição de forma totalmente equivocada, acendendo um alerta entre os especialistas. Diante desse cenário preocupante, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou um documento científico sobre diagnósticos e tratamento do TDAH.

O lançamento do documento foi um dos temas abordados no 17º Congresso Brasileiro de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) — realizado em Porto Alegre (RS) entre os dias 17 e 20 de setembro. O evento contou com especialistas que discutiram sobre sintomas, tratamento e, sobretudo, a necessidade de acolhimento dos jovens com TDAH.

O que é o TDAH?

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que costuma apresentar sinais na infância que persistem na vida adulta. Em sua apresentação no Congresso no Simpósio Tratamento do TDAH na Adolescência com Atomoxetina, Sérgio Nolasco, psiquiatra, especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência pela Unicamp (SP), explicou que o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade envolve principalmente um atraso do desenvolvimento cortical [processo de formação do córtex cerebral].

A região do córtex pré-frontal é responsável por diversas funções importantes como:

  • Capacidade de organização
  • Planejamento de execução de atividades
  • Controle inibitório
  • Tomada de decisão
  • Autorregulação emocional

O amadurecimento dessa região cerebral ocorre no período da adolescência. “Isso explica porque os jovens têm uma tendência à impulsividade”, explica Lígia Reato, Hebiatra, mestre e doutora em Pediatria pela FMUSP e Coordenadora Técnica do Centro de Referência “Adolescente Cidadão Esperança” (FMABC).

O que acontece com os jovens com TDAH é que esse amadurecimento pode levar dois anos e meio a três anos a mais, comparado com pessoas sem o transtorno, conforme os estudos com ressonâncias magnéticas do Instituto Nacional de Saúde Americana.

Como é feito o diagnóstico de TDAH em adolescentes?

Os critérios diagnósticos para o TDAH são baseados nas orientações da Associação Americana de Psiquiatria (AAP) ou da Organização Mundial de Saúde. É importante entender que não há um exame! O diagnóstico é feito com base na história clínica do paciente.

Para o diagnóstico, é considerada uma lista de nove sintomas de desatenção e hiperatividade: Um jovem com TDAH teria pelo menos:

  1. Seis sintomas de desatenção ou/e
  2. Seis sintomas de hiperatividade e impulsividade, durante um período de pelo menos seis meses.

Abaixo, confira os comportamentos destacados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP):

Desatenção

  1. Frequentemente não dá atenção a detalhes ou comete erros por descuido em trabalhos escolares ou durante outras atividades (por exemplo, negligência ou perde detalhes, o trabalho é impreciso).
  2. Frequentemente tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (por exemplo, tem dificuldade em manter o foco durante palestras, conversas ou leituras longas).
  3. Muitas vezes, parece não ouvir quando se fala diretamente (por exemplo, a mente parece estar em outro lugar, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia).
  4. Frequentemente, não segue as instruções e não termina os trabalhos escolares e tarefas domésticas (por exemplo, inicia tarefas, mas rapidamente perde o foco e é facilmente desviado).
  5. Frequentemente tem dificuldade em organizar tarefas e atividades (por exemplo, dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e pertences em ordem; trabalho bagunçado e desorganizado; tem má gestão de tempo; não cumpre prazos).
  6. Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (por exemplo, trabalhos escolares ou de casa; para adolescentes e adultos mais velhos, preparar relatórios, preencher formulários, revisar trabalhos longos).
  7. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo, materiais escolares, lápis, livros, ferramentas, carteiras, chaves, papéis, óculos, celular).
  8. Muitas vezes, é facilmente distraído por estímulos estranhos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados).
  9. É frequentemente esquecido nas atividades diárias (por exemplo, fazer tarefas domésticas, fazer recados; para adolescentes e adultos mais velhos, retornar ligações, pagar contas, marcar compromissos).

Lembrando que na adolescência os sinais de dificuldade de organização e planejamento são mais acentuados.

Adolescentes com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade podem ainda apresentar prejuízos em seu desempenho acadêmico. No entanto, o psiquiatra Sérgio Nolasco alerta que isso não é uma regra. “Temos evoluções comportamentais e emocionais muito mais graves no TDAH do que o prejuízo acadêmico”, enfatiza o médico.

Hiperatividade

  1. Muitas vezes remexe ou bate nas mãos ou pés ou se contorce no assento.
  2. Frequentemente abandona a cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (por exemplo, abandona seu lugar na sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho, ou em outras situações que exijam permanecer no local).
  3. Frequentemente corre ou escala em situações em que não é apropriado. (Nota: Em adolescentes ou adultos, pode limitar-se a sentir-se inquieto).
  4. Muitas vezes incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer silenciosamente.
  5. Está frequentemente “em movimento”, agindo como se estivesse “conduzido por um motor.
  6. Muitas vezes, fala excessivamente.
  7. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que uma pergunta tenha sido completada (por exemplo, completa as frases das pessoas; não pode esperar pela vez da conversa).
  8. Muitas vezes, tem dificuldade em esperar sua vez (por exemplo, enquanto espera na fila).
  9. Frequentemente interrompe ou se intromete nos outros (por exemplo, se intromete em conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode se intrometer ou assumir o que os outros estão fazendo).

TDAH no Brasil e no mundo

A hebiatra Lígia Reato também chamou a atenção para os números preocupantes da prevalência de TDAH ao redor do mundo:

  • Prevalência mundial: em torno de 5 a 7%
  • Brasil: alguns estudos mostram de 3% a 6%

Além disso, a prevalência do transtorno é maior em meninos do que em meninas. Algumas análises chegam a apontar uma relação de 4 meninos para cada menina. Para os especialistas, isso mostra que há um histórico de subdiagnósticos de meninas — uma vez que as manifestações dos sintomas nesse grupo podem ser diferentes, tendo menos episódios de hiperatividade, por exemplo.

“Na adolescência, as meninas com TDAH costumam ter muito mais problemas de interação do que os meninos com TDAH. Isso é algo pouco divulgado, pouco falado e, muitas vezes, nós não entendemos a razão pela qual estão havendo dificuldades estruturais de interação social”, destacou Nolasco.

Outro ponto que chama a atenção no TDAH é que o transtorno pode vir acompanhado de outras comorbidades como depressão, ansiedade e, sobretudo, Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). Por isso, muitos adultos que não foram tratados descobrem o TDAH posteriormente. “Em geral, a pessoa não procura o psiquiatra por TDAH e, sim, por outras condições; 80% das pessoas não tratadas vão desenvolver outras patologias associadas à psiquiatria”, alerta o especialista.

Tratamento

O tratamento de transtornos do neurodesenvolvimento exige a associação de uma série de intervenções. O primeiro passo é a psicoeducação, ou seja, a família precisa ter informações sobre o TDAH para amparar os filhos da melhor forma possível.

O jovem ainda pode ser encaminhado para uma terapia cognitiva comportamental e se, necessário, recorrer à farmacoterapia. Nesse caso, os especialistas podem indicar — conforme o quadro do paciente — medicamentos estimulantes (metilfenidato e anfetamina) e não estimulantes (Atomoxetina).

Segundo os guidelines das agências de saúde internacionais, a medicação pode ser prescrita em crianças a partir dos seis anos. No entanto, isso também é variável. Nos casos mais graves, a Academia Americana de Neurologia e Psiquiatria já permite o tratamento com medicação no período pré-escolar.

Vale lembrar que o Ministério da Saúde ainda não incorporou os medicamentos para o tratamento do TDAH no SUS. Em março de 2020, a Conitec — Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde — divulgou um relatório com o parecer sobre a incorporação do metilfenidato e lisdexanfetamina para uso de pacientes de 6 a 17 anos com TDAH. A decisão do órgão foi pela não incorporação.

Fonte: Revista Crescer

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