A partir do dia 25 de outubro, está disponível nas plataformas de streaming o primeiro disco de Stela Barbieri, “Canoa”. Com 15 faixas compostas por ela, o álbum traz influências musicais que vão das cantigas de infância, cantigas de trabalho, bumba meu boi, coco, maracatu, lelê, entre outras referências.
“Quando meus filhos nasceram, eu cantava muito para eles. E cantava minhas músicas também quando fazia narrativas de histórias, sempre fazia uma introdução minha”. Com mais de 40 músicas compostas, Stela -considerada uma referência brasileira na arte e educação– compõe há mais de 30 anos, mas mantinha suas criações na intimidade, ao contrário de sua trajetória nas artes visuais e na educação, já conhecidas do público.
“O disco é resultado da maneira como Stela enxerga o mundo. Poesias, palavras e sons maturados durante as gestações, maternidade, trabalhos, projetos e a vida dos filhos e a dela pulsando no meio disso tudo”, afirma Edson Natale, músico, compositor, produtor e diretor geral do disco, junto com Stela, o artista plástico Fernando Vilela, e o músico Léo Barbieri.
Alguns músicos que integram o disco têm uma trajetória que já se cruzou com as diversas facetas de Stela, como Ari Colares, Benjamin Taubkin, Sapopemba. Parceiro de longa data em diversos projetos, o artista plástico, ilustrador e flautista Fernando Vilela também participa, com o projeto gráfico da capa (desenvolvido a partir de uma obra da própria Stela), e nas gravações de flauta nas faixas “Moro numa casinha azul” e “Para o Tom”.
A participação dos filhos também pode ser destacada. Nina Barbieri canta a maioria das faixas junto a Stela, e Léo Barbieri toca violão em diversas faixas e fez alguns arranjos das músicas. “Este núcleo também é responsável pela impulsão inicial para ela decidir fazer o disco”, conta Natale. O enteado Luca Lucato toca violão nas faixas “Deitei meu favo n´água”, “Pau de cana”, “Tô preparando”, “Pé de fulô”, “Para o Tom” e “Moro numa casinha azul”. Participam também Cecília Bernardes, Lucila Bernardes e Regina Elisa de Sá Rocha, amigas da artista, cantando em “Bonita” e em “Tô preparando”.
“Canoa” como rede de balanço
O disco abre com a canção mais recente do repertório de Stela, “Canoa”, que dá título ao álbum. “Canoa” é o nome que alguns povos originários dão para ‘redes de balanço’. Sobre o título do disco, Stela afirma: “a princípio havia pensado em “Balanço”, por conta das cadeiras de balanço da minha infância – um objeto muito importante para mim. Mas depois descobri que alguns indígenas chamam as redes de balanço de canoa, então a partir daí ficou claro que o nome seria esse”, conta.
“A cadeira de balanço é uma máquina de imaginar”
A música homônima foi composta depois da decisão pelo nome do disco. Na letra, afirma: “dentro dela eu sonhava com que ia acontecer/ eu bem certo imaginava o que eu queria fazer”. Era numa cadeira de balanço, numa “canoa”, que Stela passava horas e horas balançando durante a infância, e até hoje passa. “Cheguei a ficar seis horas balançado, sem parar. A cadeira de balanço é uma máquina de imaginar para mim”, conta. Na letra, Stela enfatiza a função ‘curativa’ desse movimento: “oh canoa, oh canoa/ eu navego em você/ curo as dores/ curo os males/ e as tristezas do viver”.
Composições maturadas ao longo dos anos
Muitas de suas composições foram feitas ao longo dos últimos 30 anos. Como em “Bonita”, em que ela celebra a chegada da filha Nina, hoje com 28 anos, “bonita, oh bonita/ que bom que você chegou/ para alegrar a festa/ você é nosso amor”. E, 20 anos depois, ela termina a letra, olhando para a filha já adulta: “menina bonita/ você já cresceu/ olho nos seus olhos/ e te vejo nos meus”.
Homenagens, chegadas e partidas
“O disco foi concebido para ter texturas sonoras compatíveis tanto com a trajetória artística dela, quanto pelo fato de terem sido acalantos íntimos ou canções que brotaram da dor, como ‘Meu Pai, Minha Mãe’”, afirma Natale. Nela, Stela homenageia uma grande amiga que morreu na pandemia. “Era uma mulher corajosa e que tinha uma relação muito forte com o pai e a mãe. Então imaginei seus pais e criei a canção como se ela estivesse olhando para eles e pedindo para ser recebida”, afirma. Na letra, afirma “meu pai, minha mãe/ me recebam por favor/ que eu já estou de viagem, vou deixando a terra longe e já lhes peço passagem”. No disco, a música é cantada por Stela ao lado de Alessandra Leão e Rubi.
Ela também compôs para crianças que estavam para chegar na família, como para a sobrinha-neta Flora, filha da também artista Laura Gorski, a quem dedica duas canções, “Me chamaram e eu vim”, em que diz: “Flora flor/que espalha alegria/ você junto com o sol raia todo dia”, e “Flora”, em que celebra “toda sexta-feira ela vem aqui/ com sorriso solto de um colibri”. Em “Para o Tom”, diz “eu saúdo esse menino, que é tão solar/ veio de um lugar de amor para irradiar”.
Única canção não composta por ela, “VunjêKamunã”, do universo banto, aconteceu com o canto de improviso do cantor, ogã e percussionista alagoano Sapopemba. A esperança do futuro chega expressa em “Floriu”, quando diz, “floriu no meio da noite/ um novo Brasil”, e vem do seu olhar para o país. “Sinto que tem um novo Brasil acontecendo nas periferias e ainda vai se revelar, cheio de energia”, finaliza a artista.
O pianista André Mehmari, responsável pela mixagem e masterização do disco, afirma: “Para mim foi um prazer participar deste projeto como engenheiro de mixagem e masterização. Stela nos brinda com belas e singelas canções, transparentes e claras como as águas de um riacho límpido. O rico colorido instrumental e as vozes compõem um álbum que irá cativar muitos corações”.
Sobre Stela Barbieri
Nascida em Araraquara, Stela é uma artista que atua em muitos campos: nas artes visuais, na educação, na literatura e no encontro das áreas do conhecimento. É considerada referência no Brasil em arte-educação. Foi diretora da ação educativa do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, além de curadora do Educativo da Fundação Bienal de São Paulo. Como artista plástica, atua desde os anos 1990, tendo feito cerca de 30 exposições individuais em instituições culturais e galerias brasileiras, além de cerca de 50 exposições coletivas na Alemanha, Brasil, Espanha, Estados Unidos e Portugal.
Publicou materiais educativos para instituições culturais, livros para professores e mais de 30 livros para o público infanto-juvenil. Algumas dessas publicações trazem ilustrações de Fernando Vilela, como “A menina do fio” (2006), “Bumba-Meu-Boi” (2007), e “A casa do tatu” (2021), entre outros. Também escreveu livros sobre arte educação, como “Territórios em transformação”, “Territórios da invenção – ateliê em movimento”, publicados em 2021, “Batuque”, um livro de conversas sobre infância, educação, instituições culturais e arte, e “Interações: onde está a arte da infância?”, publicado pela editora Blucher. Também é contadora de histórias, ministra palestras e participações em seminários, assessorias para escolas, museus e instituições culturais, além ministrar cursos que entrelaçam arte, educação e narração de histórias, no Brasil e no exterior.
Referência na arte e educação, Stela é artista, contadora de histórias, escritora
e apresenta 15 faixas inéditas em sua estreia na música. Com direção artística e produção de Edson Natale e mixagem de André Mehmari, o disco tem participação de músicos como Alessandra Leão, Ari Colares, Benjamin Taubkin, Sapopemba, Renata Mattar, Ivan Vilela, Rubi e Ricardo Herz. Léo Barbieri e Nina B. Lucato, filhos da artista, também estão presentes, com participações no violão e voz. Luca Lucato, seu enteado, também toca violão e canta e Fernando Vilela, artista plástico e seu marido, toca flauta
Stela Barbieri dirige o Binåh espaço de arte, um lugar de educação e invenção, que completa 10 anos agora em 2024.
Foto Ale Catan