Após a repercussão negativa de suas declarações sobre mulheres CEOs, o empresário Tallis Gomes, sócio e fundador da G4 Educação, foi afastado do conselho da Hope.
A empresa divulgou a decisão em uma nota assinada por sua CEO, Sandra Chayo, neste sábado (21/09):
“Tallis Gomes deixará o conselho consultivo da Hope. Acreditamos que esse é um momento em que ele precisa refletir sobre a importância das lideranças femininas e como essa evolução traz ganhos e benefícios para toda sociedade, que não irá retroceder. A Hope é liderada por mulheres, e liberdade e o respeito em escolher nossos caminhos pessoais e profissionais são valores inquestionáveis para nós. Temos esperança em nossa essência e acreditamos na força da construção em conjunto de uma realidade em que a equidade de gênero não seja mais um tema a ser discutido”.
O episódio já havia levado ao cancelamento de uma palestra que Gomes faria na segunda-feira (23/09) no Instituto Caldeira, um hub de inovação de Porto Alegre.
Entenda o caso
Na noite de quarta-feira (18/09), o presidente da G4 Educação fez um post nos Stories do Instagram que rapidamente viralizou. Nele, o empresário dizia que os homens não deveriam ter relacionamentos duradouros com mulheres CEOs de grandes empresas.
Tudo começou quando um usuário perguntou: “Se sua mulher fosse CEO de uma grande companhia, vocês estariam noivos?” Esta foi a primeira resposta:
“Deus me livre de mulher CEO. Salvo raras exceções, (eu particularmente só conheço 2); essa mulher vai passar por um processo de masculinização que invariavelmente vai colocar meu lar em quarto plano, eu em terceiro plano e os meus filhos em segundo planos.”
Na sucessão de textos que veio em seguida, o empresário continuou argumentado, dizendo que uma pessoa na posição de CEO, como ele, passa por muito estresse e pressão e que, fisicamente, o profissional fica muito abalado. “Psicologicamente, você precisa ser muito, mas muito cascudo para suportar”.
Na sequência, Gomes criticou o feminismo. “O mundo começou a desabar quando o movimento feminista obrigou a mulher a fazer papel de homem.” Mais tarde falou em “energia feminina” e adotou um discurso abertamente sexista. “Homem que tem condição de bancar a sua mulher e não o faz, está perdendo o maior benefício de uma mulher, que é o uso da energia feminina nos lugares certos, lar e família.”
O post repercutiu em muitas redes, especialmente no LinkedIn, com várias respostas negativas. “Na opinião dele, faz mais sentido a mulher direcionar sua energia à construção e gestão do lar e da família. (…) O que ele infelizmente falha entender é que as mulheres que chegam a uma cadeira de CEO não o fazem porque precisam sustentar uma casa ou um marmanjo encostado, mas porque querem – e porque podem”, disse Ana Beatriz Garcia, do Instituto de Tecnologia e Liderança. “Preconceito e discriminação disfarçado de acolhimento. Mais uma estratégia para se manter em evidência. Para ter engajamento hoje vale tudo”, disse Rosane Dantas do Santos, da Energy Industrial.
Ao perceber a repercussão do post, Tallis voltou ao Instagram para fazer uma réplica.
“Minha posição não tem nada a ver com o meu juízo de valor sobre a capacidade ou não de uma mulher ser CEO de uma grande empresa. Eu falei sobre quem eu quero a meu lado como minha mulher. (…) Minha empresa vai fazer R$ 100 milhões de Ebitda esse ano e a minha CFO é uma mulher. Se eu não acreditasse na capacidade de entrega de uma mulher, eu deixaria o caixa da minha empresa na mão de uma?”