ARACAJU/SE, 12 de outubro de 2025 , 15:30:23

Tecnologia e crianças: os impactos na infância e dicas para ensinar jovens

 

No Dia das Crianças, comemorado neste domingo (12), é importante refletir sobre um dos temas mais urgentes da infância contemporânea: o impacto da tecnologia no desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Com smartphones cada vez mais presentes na rotina desde a primeira infância, especialistas alertam que estamos diante de uma mudança radical no modo como os jovens crescem, e nem sempre para melhor.

O psicólogo social Jonathan Haidt, da Universidade de Nova York, afirma que a infância foi profundamente transformada pela hiperconexão. “A infância antes era sinônimo de brincar na rua, de encontros com os amigos. Agora ela se tornou solitária. Cada criança vai para casa com sua própria tela”, disse durante palestra em São Paulo.

Para ele, o excesso de tempo nas redes sociais está diretamente ligado ao aumento de ansiedade, depressão e uma queda na capacidade de concentração.

Essas preocupações são reforçadas por dados recentes. Uma pesquisa nacional de abril revelou que 90% dos brasileiros acreditam que adolescentes não têm apoio emocional e social suficiente para lidar com o ambiente digital, especialmente com as redes sociais.

Além disso, 70% defendem a presença de psicólogos nas escolas para ajudar no enfrentamento desse novo cenário. O estudo aponta o bullying, a depressão, a ansiedade e a pressão estética como os principais desafios de saúde mental enfrentados por jovens conectados.

Apesar dos riscos, especialistas concordam que as redes sociais não são totalmente negativas. “Com moderação, o uso da rede social pode ser inócuo ou até útil para conexões sociais e acesso à informação”, afirmam os psicólogos Eva Telzer e Mitch Prinstein, da Universidade da Carolina do Norte. Mas, para isso, os adolescentes precisam de educação digital crítica, aprendendo a reconhecer armadilhas dos algoritmos e a diferenciar fatos de desinformação.

A psicóloga Lisa Damour alerta para os sinais de uso não saudável: “Se o uso da rede interfere no sono, nos estudos, nas relações presenciais ou nas responsabilidades em casa, há um problema.”

Também é fundamental observar o tipo de conteúdo consumido: enquanto algumas partes das redes oferecem vídeos educativos e divertidos, outras promovem bullying, misoginia, racismo e transtornos alimentares.

Para iniciar conversas com os filhos sobre esse universo digital, Damour recomenda uma postura aberta e informativa. “Quando adolescentes entendem como estão sendo manipulados pelas plataformas, tornam-se mais resistentes”, diz.

Ela reforça que as empresas de tecnologia buscam lucrar com a atenção dos jovens, muitas vezes os mantendo viciados, polarizados e mal informados.

A orientação não deve ser só técnica, mas emocional e baseada em confiança. O professor Luciano Meira, da Universidade Federal de Pernambuco, defende que a construção de um ambiente seguro começa pelo diálogo aberto entre pais e filhos, com escuta, acolhimento e clareza sobre os valores familiares.

“Sem confiança, nenhuma estratégia de proteção funciona. É preciso manter uma relação próxima e ativa”, afirma.

Nesse contexto, simplesmente proibir o uso de redes sociais pode ser ineficaz. “A proibição autocrática, sem explicação, costuma falhar. Melhor é adotar uma mediação participativa, conhecendo o que os filhos consomem e até utilizando softwares de monitoramento que permitem acompanhar a navegação de forma ética”, sugere Meira.

Outra dica importante é criar regras claras sobre o uso dos dispositivos: nada de celular na hora da lição de casa, na mesa de jantar ou no quarto antes de dormir.

Segundo o médico Vsevolod Polotsky, a luz azul dos eletrônicos prejudica o sono e deve ser evitada pelo menos uma hora antes de dormir. Para crianças menores, é possível começar com dispositivos que não tenham acesso a redes sociais, e liberar gradualmente conforme a maturidade.

Os pais também devem avaliar o próprio comportamento digital. Se adultos estão sempre no celular, será difícil cobrar o contrário dos filhos. “Não seja um hipócrita”, alerta Damour. Vale ainda propor pausas em família das redes sociais, como forma de reconectar com o mundo real e observar o impacto positivo da redução do tempo de tela.

A ausência de regulamentação eficaz também agrava o problema. Atualmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) discute a constitucionalidade do Artigo 19 do Marco Civil da Internet, que trata da responsabilidade das plataformas.

Além disso, o Projeto de Lei das Fake News segue travado no Congresso. “A autorregulação das big techs é insuficiente”, afirma Meira. “Precisamos de regras que protejam os mais vulneráveis, especialmente crianças e adolescentes”.

Enquanto a legislação não avança, o papel da família, da escola e da sociedade é criar pontes entre tecnologia e desenvolvimento humano. “O futuro da inovação depende de como cuidamos dos nossos jovens”, afirma Pierre Lucena, do Porto Digital. “Não basta impulsionar a tecnologia – é preciso humanizá-la”.

Fonte: CNN Brasil

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