As terras raras brasileiras podem ter desempenhado um papel desproporcional — e estratégico — na surpreendente mudança na relação entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, segundo análise do Morgan Stanley. O que antes parecia uma escalada de tensões comerciais, com tarifas elevadas e sanções, agora dá sinais de desescalada, com o acesso às reservas minerais críticas do Brasil surgindo como possível moeda de troca.
Conforme aponta o banco, o Brasil detém cerca de 25% das reservas mundiais de terras raras, mas a produção ainda está distante de se tornar realidade. Carlos De Alba, analista de metais e mineração para as Américas, destaca que a exploração em escala comercial ainda levará anos. Mesmo assim, o potencial estratégico desses recursos já começa a redesenhar o tabuleiro geopolítico latino-americano.
A mudança de postura dos EUA em relação ao Brasil se soma a outros movimentos recentes na região, como o apoio do Tesouro americano à Argentina, os debates sobre o canal do Panamá, os direitos de mineração de lítio no México e as políticas sobre Venezuela e Colômbia. Para o Morgan Stanley, esses são sinais de que a América Latina pode estar no início de uma mudança mais ampla de política — ainda incipiente, mas relevante.
Apesar disso, o relatório alerta: não há uma virada rápida no rumo das relações comerciais entre América Latina e China. O Brasil continua aprofundando seus laços com o gigante asiático, o que os torna cada vez mais semelhantes a uma “Texas sul-americana” — rica em recursos, mas com forte dependência externa.
Para os investidores, o impacto pode ser significativo. Tarifas e tensões geopolíticas afetam setores como aço, agricultura, telecomunicações, varejo e aeroespacial. O Morgan Stanley avalia aumentar sua exposição a ações brasileiras desses setores, caso se confirme uma recalibragem comercial com os EUA e uma flexibilização nas tarifas sobre produtos chineses.
Do lado americano, o adiamento das novas restrições à exportação de terras raras pela China reacendeu o debate sobre segurança de suprimentos. Com o monopólio chinês sobre o refino desses minerais, os EUA buscam alternativas — e o Brasil pode ser uma peça-chave nesse novo arranjo.
Assim, o banco aponta a pergunta que fica: estaríamos diante de um novo “playbook” (uma espécie de guia) geopolítico para a América Latina? Ainda é cedo para afirmar, mas as terras raras, antes relegadas ao subsolo, podem agora estar no centro de uma nova era de negociações internacionais.
Fonte: InfoMoney




