ARACAJU/SE, 27 de novembro de 2024 , 23:35:57

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Tomar remédio e antibiótico de barriga vazia faz mal?

 

Se tomar remédio e antibiótico de barriga vazia faz mal é uma dúvida comum, principalmente porque certos medicamentos devem ser ingeridos em condições específicas, em jejum ou antes ou depois de refeições para o funcionamento correto no organismo. Por isso, a resposta para tal dúvida é depende: há medicamentos que precisam ser tomados em jejum e outros não e efeitos adversos podem ocorrer em caso de ingestão incorreta.

“Alguns medicamentos precisam de um ambiente específico para serem absorvidos corretamente. Por exemplo, certos medicamentos são melhor absorvidos em um estômago vazio. Já outros podem irritar a mucosa gástrica ou necessitam de bile e outras enzimas digestivas para serem absorvidos adequadamente. E ingeri-los com alimentos pode diminuir a irritação gástrica e melhorar a absorção. Portanto, é essencial seguir rigorosamente as orientações prescritas”, ressalta a farmacêutica bioquímica Paula Molari Abdo.

Tomar remédio e antibiótico de barriga vazia faz mal?

Mas, o que acontece se as orientações prescritas pelo médico não forem seguidas? Isso pode fazer mal para a saúde ou apenas faz com que o efeito esperado não ocorra?

“Em geral, não seguir as orientações do farmacêutico ou do médico sobre a administração de medicamentos pode comprometer a absorção adequada do medicamento e, consequentemente, o sucesso do tratamento”, pontua a farmacologista Soraia Costa, presidente da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE).

“Se um medicamento deve ser tomado em jejum e é administrado próximo de uma refeição, a absorção pode ser reduzida e o efeito diminuído. A magnitude desse efeito varia conforme o medicamento. Em alguns casos, a presença de alimentos pode diminuir a concentração sérica do medicamento, embora a absorção total ainda ocorra. No caso da tetraciclina, por exemplo, a presença de alimentos ricos em cálcio, como leite, pode impedir a absorção do medicamento e, assim, comprometer o efeito. Se estivermos falando de uma única vez com a amoxicilina, nada acontecerá. Todavia, se esse antibiótico for a tetraciclina, administrada uma única vez com leite ou alimentos contendo leite, o tratamento anti-infeccioso estará comprometido.”

Sobre eventuais efeitos colaterais na ingestão incorreta dos medicamentos, a farmacêutica bioquímica explica que podem ocorrer consequências a curto e longo prazos. “Tomar um medicamento ou antibiótico de estômago vazio uma única vez pode causar desconforto imediato, como dor de estômago ou náusea, dependendo da sensibilidade individual. Repetir isso várias vezes pode levar a problemas mais sérios, como gastrite, úlceras ou diminuição da eficácia do tratamento, especialmente no caso de antibióticos. O uso incorreto de antibióticos, em especial, pode também levar à resistência, tornando a bactéria ou o fungo insensível àquela medicação, o que complica ainda mais o tratamento.”

Mas, afinal, o que é barriga vazia e depois de quanto tempo considera-se estar em jejum?

O termo “barriga vazia” é o popular, mas os médicos se referem a essa condição como estômago vazio ou em jejum. Barriga vazia significa estar sem alimentos que possam interferir na absorção mdo medicamento pelo organismo.

“Estômago vazio ou em jejum significa que o medicamento deve ser administrado, pelo menos, entre uma ou duas horas antes ou duas horas após a ingestão de alimentos. Portanto, essa preocupação leva-se em conta o processo de ingestão/digestão e absorção, que pode variar entre indivíduos. Uma vez administrado, o medicamento percorre diferentes caminhos (absorção, distribuição, metabolização e excreção). O intestino delgado é o principal local de absorção de medicamentos devido à grande superfície dele”, esclarece a farmacologista.

Os tempos de esvaziamento gástrico e do trânsito intestinal variam conforme o indivíduo (condições fisiológicas entre diferentes idade e estado de saúde) e o tipo de alimento ingerido. Em geral, após a alimentação, o estômago está praticamente vazio em cerca de duas a quatro horas, enquanto o conteúdo alimentar pode levar de três a cinco horas para passar pelo intestino delgado. Já os alimentos líquidos deixam mais rapidamente o estômago, em aproximadamente uma a duas horas.

“Sempre oriento todas as pessoas a seguirem rigorosamente as instruções do médico e do farmacêutico, pois estamos introduzindo substâncias externas ao nosso corpo. Para garantir que o tratamento seja mais curto e eficaz, é crucial não alterar a dose, o horário ou o modo de tomar o medicamento”, conclui Paula.

Fontes:

Paula Molari Abdo é farmacêutica bioquímica, especialista em Farmácia Magistral pela Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag) e Atenção Farmacêutica pela Universidade de São Paulo (USP). É diretora técnica da farmácia de manipulação Formularium.

Soraia Costa é farmacologista e professora associada no Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas, da Universidade de São Paulo (USP). É presidente da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE).

*Publicação do Eu Atleta

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