Mais de 300 casos de varíola dos macacos foram confirmados desde o início do surto em países onde a doença não é endêmica, segundo a plataforma científica Our World in Data. Certos grupos da população correm maior risco de se infectar ou desenvolver casos graves.
Quem está mais em risco de se infectar?
Existem três grupos populacionais com maior risco de serem infectados com a doença, disse o Dr. Richard Kennedy, professor de Medicina e co-diretor do Grupo de Pesquisa de Vacinas da Clínica Mayo, à CNN.
O primeiro é formado por aquelas pessoas que viajam para países onde a doença é endêmica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estes são Benin, Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Gabão, Gana, Costa do Marfim, Libéria, Nigéria, Serra Leone, Sudão do Sul e República do Congo, onde o primeiro caso humano foi identificado em 1970.
As viagens, aliás, são um fator chave nos surtos. Com “pouquíssimas exceções”, segundo o especialista, todos os casos de varíola dos macacos que tinham sido registados antes fora de África eram de viajantes que regressavam daquele continente.
Também correm maior risco aqueles em contato próximo com esses indivíduos que viajaram e os profissionais de saúde que tratam pacientes com varíola sem equipamento de proteção individual adequado.
Por que se fala da comunidade LGBT+?
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos disse nesta semana que qualquer pessoa pode pegar ou espalhar a doença, mas uma “fração notável de casos” no atual surto global está ocorrendo entre homens homossexuais e bissexuais.
“Alguns grupos podem ter uma chance maior de exposição neste momento, mas o risco atual de exposição à varíola dos macacos não é de forma alguma exclusivo da comunidade gay e bissexual nos EUA”, esclareceu o Dr. John Broocks, diretor médico da Divisão de Prevenção do HIV/Aids do CDC.
A esse respeito, Kennedy explica que o surto até agora se concentrou em um grupo de homens homossexuais que compareceram a uma ou mais festas na Espanha. Mas “não é uma questão de vulnerabilidade”, esclarece.“Podem estar em maior risco simplesmente porque são o grupo da população atualmente infectada”.
A UNAIDS, programa da ONU de combate à Aids, por sua vez, manifestou preocupação com o uso de linguagem estigmatizante no contexto da discussão da doença, alertando que a linguagem que pode reforçar “estereótipos homofóbicos e racistas”.
Quem pode desenvolver casos mais graves?
Pessoas imunocomprometidas são mais propensas a serem infectadas e desenvolverem doenças mais graves. Esta categoria inclui, explica Kennedy, pessoas HIV-positivas, pacientes com câncer, receptores de transplante de órgãos e aqueles que tomam remédios imunossupressores.
Algumas doenças da pele, como eczema e dermatite atópica, estão associadas a infecções mais graves devido ao vírus orthohopox, gênero do qual a varíola dos macacos faz parte, mas ainda não se sabe se esse será o caso especificamente da doença.
O que acontece com as crianças? Nos países onde a doença é endêmica, os profissionais de saúde notaram que as crianças desenvolvem a doença de forma mais grave do que os adultos. No entanto, ainda não há certeza de que seja esse o caso da varíola dos macacos, explica Kennedy.
Como o vírus pode sofrer mutação?
Todos os vírus sofrem mutações, uma realidade que estamos muito conscientes no contexto da pandemia do coronavírus. No entanto, de acordo com Kennedy, o vírus da varíola dos macacos, como todos da família orthohopox, “é um vírus de DNA e sofre mutações mais lentamente do que os vírus de RNA, como o SARS-CoV-2”.
Quanto mais pessoas são infectadas, maior a probabilidade de o vírus sofrer mutação.
“A maioria das mutações são prejudiciais ao vírus ou não têm efeito sobre ele (…). De vez em quando ocorre uma mutação que é benéfica para o vírus. Quando isso ocorre, o vírus mutado ainda precisa ser transmitido para mais pessoas para se espalhar. Isso é fácil para vírus altamente infecciosos, que não é o caso”, afirma o médico.
Qual é a situação das vacinas?
Nos Estados Unidos, as vacinas contra a varíola dos macacos já estão disponíveis para alguns profissionais de saúde que tratam pessoas infectadas.
As vacinas contra a varíola são 85% eficazes contra a doença, de acordo com a OMS. No entanto, “muito poucos países têm disponível em grande número desde que a varíola foi erradicada em 1980 e a vacinação de rotina não é feita há décadas”, explica Kennedy.
Atualmente, diz ele, “poucas empresas” têm capacidade para fabricá-las. Sim, poderiam ser produzidos em grandes quantidades, mas levaria muito tempo. “Teríamos que construir a infraestrutura e instalações para fabricação, garantir o controle de qualidade pelos órgãos reguladores e depois distribuir as vacinas”, explica.
Fonte: CNN Brasil