ARACAJU/SE, 4 de julho de 2024 , 12:37:53

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Criação de uma quarta luz nos semáforos? Entenda nova proposta defendida por cientistas

 

A Revolução Industrial havia deixado sementes. Em 1868, as carruagens invadiram ruas e avenidas pela Europa. Na Inglaterra, ponta de lança do movimento urbano, os congestionamentos viraram um problemão. E então os britânicos tiveram a ideia de criar o semáforo. O primeiro foi instalado na Praça do Parlamento, para permitir a passagem segura dos pedestres. O experimento funcionou por algum tempo, mas acabou sendo suspenso em razão de uma falha na emissão do gás usado para acender as luzes, que indicavam apenas os sinais de “vá” ou “espere”. Os luminosos de trânsito reapareceriam nos anos 1920, nos Estados Unidos. Desde então, o sistema não mudou: sinais elétricos coloridos — protegidos por tratados internacionais — indicam que os motoristas devem parar (vermelho), ficar atentos (amarelo) ou acelerar (verde). Cem anos depois, enfim, há uma proposta de atualização. Na iminência da popularização de veículos autônomos, cientistas sugerem a adição de uma luz extra, branca.

A ideia é simples. Carros autônomos, sem motoristas, atrelados a algoritmos poderosos, serão capazes de se comunicar entre si e com o sistema de gerenciamento de transporte, tomando decisões em tempo real, com fluxo mais eficiente. Quando houver veículos inteligentes nas ruas, as luzes brancas se acenderão, indicando ao motorista ao volante, em um carro tradicional, logo atrás, que apenas siga o veículo à frente, totalmente computadorizado. Com uma rede de carros capazes de autorregular o vaivém, os atrasos causados pelos congestionamentos poderiam ser reduzidos em até 99%, sugerem os pesquisadores. É uma promessa tentadora. A proposta, testada apenas em cenários virtuais, porém, alimenta preocupações. “Matematicamente, o modelo funciona, mas não dá para deixar de lado o fator humano”, diz o consultor e engenheiro de transportes Sergio Ejzenberg. “Hoje, sabemos que semáforos muito complexos ou com contagem regressiva causam comportamentos prejudiciais aos condutores. O acréscimo da quarta cor, alva, certamente seria mais um complicador”.

Contudo, ainda que a expansão do parque autônomo demore, é certo que logo mais esses veículos invadirão as metrópoles, apesar da descrença atual e dos fracassos. Os engarrafamentos tendem a aumentar e, sobretudo, pode haver confusão resultante da mistura de modelos antigos, com gente de carne e osso no comando, e modelos inovadores. A busca para resolver a equação, portanto, é bem-vinda, em desafio que tira o sono dos profissionais especializados em respostas para fazer a coisa andar, simples assim.

O trânsito é um nó, e atire a primeira pedra quem nunca ficou nervoso dentro de um veículo encurralado. Em parceria com empresas de tecnologia, cidades ao redor do mundo fecham parcerias para utilizar inteligência artificial como atenuador de congestionamentos. No Rio de Janeiro, por exemplo, um acordo da Companhia de Engenharia de Tráfego com o Google promete reduzir em 30% as paradas nos cruzamentos e em 10% as emissões de carbono. Uma outra iniciativa, cada vez mais comum em aglomerações americanas, e que já desembarcou no Brasil, são as rotatórias, pensadas para dar fluência ao desfile em cima de quatro rodas (as motos parecem seguir outras regras).

Nenhuma das estratégias é o santo graal da mobilidade. Apesar de trazerem melhora na eficiência, não solucionam tudo. “Qualquer panaceia que se baseie em continuar usando carros já nasce arcaica”, diz Daniel Guth, diretor da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas. Hoje, cresce a demanda por transporte alternativo nas metrópoles e não há espaço suficiente para sustentar o número de carros nas ruas. Imaginar a circulação apenas de bicicletas, no entanto, é utopia.

A melhor resposta, adotada com sucesso por países como Inglaterra e Alemanha, é óbvia: melhorar o transporte coletivo, em especial o metroviário. “O Brasil prioriza os meios individuais de locomoção, em vez de oferecer boa infraestrutura de transporte público”, afirma Guth. O bom senso, como sempre, deve ser a meta. Reduzir o número de veículos; incentivar o deslocamento ao lado de outras pessoas, em vagões ou ônibus; e, naturalmente, apostar em elétricos, menos poluidores. São posturas saudáveis, o que não significa fazer cara feia para a tecnologia dos autônomos e a invenção de uma nova indicação no semáforo. Tampouco se deve demonizar quem sonha com um carro próprio. É preciso tremular a bandeira branca.

Fonte: VEJA

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