ARACAJU/SE, 19 de maio de 2024 , 23:17:35

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Enchentes recordes no RS podem elevar preços de alimentos como arroz e laticínios, além do fornecimento de combustíveis

 

A tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul pode ter impacto sobre os preços de produtos importantes para o prato dos brasileiros, como arroz e laticínios, alertam especialistas, que ainda aguardam mais informações sobre a extensão da calamidade para estimarem potenciais reflexos nos índices de inflação.

O estado responde por 70% da produção nacional de arroz, produto que tem o maior peso no subitem do grupo “alimentação no domicílio” do índice de inflação ao consumidor IPCA. Também é um importante produtor de carnes e laticínios.

Uma fonte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela apuração do índice, destacou que, no caso do arroz, boa parte da safra já foi colhida, mas a preocupação é com o escoamento, já que estradas e pontes foram fortemente abaladas pelas chuvas, deixando várias regiões isoladas. “A parte que estiver armazenada nas áreas isoladas pode afetar a inflação”, afirmou a fonte.

Entre as commodities, o Rio Grande do Sul também se destaca na produção de soja e milho, produtos que têm influência mais indireta na inflação do varejo, como componentes de ração animal. Nesse caso, a avaliação inicial é que a demanda pode ser suprida pela produção de outras regiões do país.

Ainda assim, André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca que esses produtos podem ter impacto na inflação ao produtor.

“No nosso caso, que medimos preços no atacado, o impacto será maior porque as safras de milho, soja e arroz não foram todas colhidas. Algum efeito para inflação vai ter”, disse.

Na segunda-feira (6), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou que há dez unidades processadoras de carnes de aves e de suínos do RS paralisadas ou com dificuldades de operar pela impossibilidade de processar insumos ou transportar funcionários, e alertou para o risco de desabastecimento no estado.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, avalia que o principal foco de preocupação é a indústria de leite e laticínios. “Pode haver perda porque a logística para distribuir leite para outros estados cessa, e pode ter um impacto mais expressivo (no IPCA)”, afirmou.

No Ministério da Fazenda, uma fonte disse que ainda não é possível fechar uma análise neste momento porque os problemas no estado ainda estão em desenvolvimento, sendo difícil estimar com precisão gargalos de produção e escoamento de produtos que poderiam gerar pressão de preços.

De acordo com a fonte, a análise inicial que o governo está preparando para medir o impacto do desastre vai focar no impacto sobre a inflação de alimentos. Em avaliação preliminar, ela afirmou que a pressão sobre os preços no país não deve ser grande, mas que é preciso avaliar com mais tempo.

Argenta ainda levantou a questão de como o IBGE, responsável pela coleta dos dados e divulgação dos números do IPCA, irá fazer esse trabalho no estado, em meio ao caos gerado pelas chuvas.

“Porto Alegre tem peso de quase 9% no indicador. A forma como vai ser feita a coleta desses dados pode ter impacto mais expressivo do que a variação propriamente dita. Não existe uma cartilha para proceder em situações como essa”, disse.

Fornecimento de combustíveis

A Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), da Petrobras, no Rio Grande do Sul, tem dificuldades para escoar combustíveis como o diesel, devido a problemas logísticos decorrentes das enchentes, deixando desabastecidas várias regiões, enquanto distribuidoras ainda lidam com os impactos das fortes chuvas.

“A única refinaria que produz diesel no estado está sem acesso. Por conta disso, cidades e regiões do estado começaram a ficar sem diesel, as prefeituras não conseguem trabalhar na limpeza porque não tem mais diesel”, afirmou, nessa terça-feira (7), o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta.

Em nota na véspera, o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) afirmou que a refinaria, com capacidade para processar 32 mil m³/dia de petróleo, estava operando em carga mínima, com retirada de produtos, como diesel e gasolina, abaixo do normal.

As retiradas de gás liquefeito de petróleo (GLP), o chamado gás de cozinha, estavam perto de “zero”.

O presidente da Federação da Agricultura do estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Silveira Pereira, relatou à Reuters a dificuldade para conseguir abastecer.

A Refap, localizada no município gaúcho de Canoas, atende principalmente ao mercado regional, com foco na maximização da produção de óleo diesel.

O diretor institucional da Brasilcom – federação que representa mais de 40 distribuidoras regionais de combustíveis instaladas em quase todos os Estados brasileiros –, Sergio Massillon, afirmou que “a situação está muito complicada com imensas dificuldades logísticas, postos revendedores sem produtos”.

Fonte: Reuters

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