ARACAJU/SE, 1 de maio de 2024 , 12:35:57

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Olimpíadas 2024: pela primeira vez na história, Brasil deve ter delegação com maioria feminina

 

Quase cem anos depois de a nadadora Maria Lenk (1915-2007) se tornar a primeira brasileira a disputar os Jogos Olímpicos, sendo a única mulher na delegação de 66 atletas do país em Los Angeles 1932, o Brasil deverá ter em Paris, pela primeira vez, uma delegação com maioria feminina.

A cem dias para o início da Olimpíada em solo parisiense, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) informa que o país já tem 187 vagas conquistadas, em 32 modalidades, sendo 110 femininas e 61 masculinas, além de outras 15 sem gênero definido (hipismo e revezamentos da natação).

Até o início do megaevento, outros atletas ainda podem conquistar o direito de competir nesta edição dos Jogos, mas é pouco provável que o número de participantes homens supere o de mulheres.

São elas, também, as principais favoritas a conquistarem medalhas pelo país, com destaque para nomes como Rebeca Andrade (ginástica artística), Mayra Aguiar (judô), Rayssa Leal (skate), Ana Patrícia e Duda (vôlei de praia) e Beatriz Ferreira (boxe), mulheres que podem fazer de seu sucesso uma inspiração para outras meninas.

“Quanto mais heroínas tivermos, mais meninas acreditarão que é possível alcançar o sucesso, no esporte, na profissão e na vida. Quanto mais falarmos de mulheres no esporte, mais falaremos de menstruação, de gravidez, de amamentação, de abuso e de assédio. É um ciclo positivo que impactará a vida de homens e mulheres”, diz à Folha Mariana Mello, gerente de planejamento e desempenho esportivo do COB.

O próximo passo, segundo Mariana, é formar mais treinadoras. “Acredito que seja o grande desafio para o próximo ciclo olímpico”, afirma.

Para a professora da Universidade de São Paulo (USP) Katia Rubio, umas referência do Brasil em estudos sobre o movimento olímpico, a falta de mulheres em cargos de liderança tanto esportiva como de gestão também refletiu nos resultados obtidos por elas ao longo da história.

“As mulheres eram mal treinadas, elas eram sub-treinadas, eu diria. Isso tinha um impacto, obviamente, nos resultados. Então, à medida em que o treinamento se desenvolve de forma competente, assim como era dado para os homens, o resultado é automático”, afirma.

Em Paris, o Brasil terá cinco equipes, sendo quatro femininas (futebol, vôlei, handebol e rugby de 7) e uma masculina (vôlei). As principais ausências no masculino são as equipes de futebol, basquete e handebol.

Ainda que as baixas tenham um peso significativo na delegação brasileira, o crescimento da participação das mulheres já reflete uma conquista de movimentos feministas no mundo e no esporte, que levaram ao aumento gradual das atletas nas competições.

Historicamente, houve momentos de pico nessa busca, como nos Jogos de Los Angeles em 1984, com 23% de participação feminina, seguido por 44% em Londres 2012, e 48% em Tóquio 2020 — melhor marca até então —, até chegar aos 50% nos Jogos Olímpicos de Paris, o primeiro da história com esse equilíbrio.

Dos 10.500 atletas participantes da Olimpíada parisiense, serão 5.250 homens e 5.250 mulheres. Este é um cenário bem diferente de há cem anos atrás, quando Paris também sediou os Jogos. Naquela edição, a maioria dos esportes era exclusivamente praticada por homens.

Além de não haver mulheres brasileiras na delegação, somente algumas modalidades dos Jogos incluíam a participação feminina, como saltos ornamentais, natação, esgrima, florete individual e tênis.

A pequena participação feminina refletia a visão do pai das Olimpíadas da Era Moderna, o Barão Pierre de Coubertin. Para ele, não haveria motivo para incluir as mulheres nos Jogos, salvo para aplaudir na entrega dos prêmios.

“A história dos Jogos Olímpicos reflete a sociedade”, diz a gerente de desenvolvimento esportivo e mulher no esporte do COB, Taciana Pinto. “No final do século 19, o esporte não era para toda a sociedade, ele era restrito aos homens brancos das classes privilegiadas. Quando Pierre de Coubertin idealizou os Jogos da Era Moderna, ele entendia que a Olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, inestética e imprópria”, ela explica.

Ao longo de décadas, o Comitê Olímpico Internacional (COI) vem tentando superar essa posição, embora o reflexo disso demore a aparecer. Em 1991, a entidade determinou que todos os esportes a serem incluídos nos Jogos precisariam obrigatoriamente ter participação feminina.

Mais de 20 anos após essa determinação, em Londres 2012, todas as 204 federações nacionais levaram mulheres em suas comitivas, algo inédito na história das Olimpíadas e fundamental para que Paris-2024 pudesse alcançar a equidade de gênero.

“Apesar de chegarmos em uma igualdade numérica de atletas nos Jogos de Paris, não teremos, por exemplo, a mesma quantidade de medalhas distribuídas para homens e mulheres”, critica Taciana Pinto.

“Termos atletas mulheres bem-sucedidas pode impactar na mudança do olhar de pessoas que acham que mulheres não são capazes”, finaliza a gerente de desenvolvimento esportivo e mulher no esporte.

Fontes: Folha de S.Paulo e COB

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