O futuro das águas na região mais seca do Brasil começou a ser discutido nesta terça-feira (8) durante o XIII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, no auditório do Hotel Radisson em Aracaju (SE), com a participação de estudantes, pesquisadores e grandes nomes da gestão das águas no Brasil e no mundo. O eventoe é realizado pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) em parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh).
Esta é a primeira vez que Aracaju recebe o simpósio que escolheu como temática principal a ‘Governança da Água – Desafio para a Integração do Nordeste no Presente e Futuro’ e na abertura contou com a conferência magna ‘Nordeste – Desenvolvimento Recente e Desafios para o Futuro’, proferida pelo palestrante Ricardo Oliveira, representante da Universidade Federal de Sergipe.
“A riqueza do simpósio está no envolvimento dos atores locais. Então, se os problemas são específicos, as soluções também são. Queremos buscar aprendizado do presente focando no futuro”, disse o presidente da ABRH, Vladmir Caramori.
“O Nordeste passa por uma longa estiagem, uma escassez hídrica, então a comunidade técnico científica despertou interesse muito grande para trazer conhecimento, trocar experiência, debater todas essas questões de como fazer gestão de água em um momento como este”, explicou o presidente da comissão local do Simpósio, Ailton Rocha.
O secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, Olivier Chagas, ressaltou a importância do privilégio de Sergipe poder sediar um evento desse porte, tão positivo para a questão da água, uma pauta tão importante nos dias de hoje. “Como sergipano e como gestor que busca fazer parcerias, já posso dizer que estamos muito felizes com o Simpósio, que tem caráter técnico científico e ajusta o foco para o nosso Estado no quesito ‘recursos hídricos’. A discussão tem que partir da sociedade, o Estado vai ser o protagonista, mas a população tem que administrar o uso da água e evitar o desperdício”, alertou Olivier.
“Quero dizer a todos que vieram a Sergipe para o Simpósio, que aproveitem a cidade de Aracaju. E ressalto aqui a importância da Orquestra Filarmônica de Itabaiana, que se apresentou na abertura. Além de destacar também o trabalho do superintendente Ailton Rocha, que é um gigante na disposição em colaborar com o sucesso desse evento”, disse o secretário.
Até sexta-feira, o Simpósio contará com 18 palestras, mais de 320 trabalhos apresentados, atividades de educação ambiental, atividades culturais com lançamentos de livro, noite cultural e as cinco oficinas que estão sendo coordenadas pela Agência Nacional das Águas (ANA).
“A água tem que ser vista e tratada com a importância que ela realmente tem. Será que não é a hora de praticar e tirar do papel o reuso dela? Não podemos sair dessa seca da mesma forma. Precisamos repensar os nossos usos da água. Será que não é o momento de pensar na dessalinização? De usar as tecnologias? O caminho do desenvolvimento passa pela trilha da água?”, provocou no discurso da cerimônia de abertura o diretor da ANA, Paulo Varella.
O ministro do Ministério da Integração Nacional (MIN), Helder Barbalho, foi representado pelo assessor especial Irani Ramos, que frisou que sempre houve uma preocupação com a revitalização do Rio São Francisco. “O grande mérito é de termos reorganizado este programa com a perspectiva de continuar e que a gente dê passos do tamanho das nossas pernas, que sejam firmes e permanecem numa caminhada por muito tempo. É um desafio do Governo Federal e também de toda a sociedade”, disse Irani.
Neste quesito, o vice-governador Belivaldo Chagas lembrou que no passado a água passou a ser um recurso natural finito e vulnerável, citando o caso do ‘Velho Chico’. “Fala-se muito em transposição dele. A revitalização está ocorrendo, mas é preciso muito mais. Os municípios ribeirinhos não estão tendo a responsabilidade que poderiam ter”, alertou.
Atividades
Pela manhã foi realizada a oficina ‘Marcos Regulatórios em Sistemas Hídricos do Semiárido Brasileiro’, com a participação de uma equipe da Agência Nacional das Águas (ANA), no Hotel Radisson, na Orla da Atalaia. Uma das preocupações do Simpósio é o uso racional da água como necessidade de sobrevivência para os milhares de nordestinos que já sentem o efeito da longa estiagem. O coordenador de marcos regulatórios da ANA, Wesley Souza, destacou o exemplo de Campina Grande (PB), onde mais de 500 mil pessoas enfrentam o racionamento.
“Sábado à tarde o registro é fechado e abre quarta de manhã. A irrigação foi toda suspensa. Se for necessário, tem que pactuar e formalizar essas regras, porque senão a gente chega numa situação muito pior”, disse o especialista da ANA.
Nesta quarta-feira (9), será a vez do palestrante internacional Diego Berger, de Mekoroto, em Israel, abordar a palestra ‘Governança da Água – A Experiência em Israel’. O representante da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará, Francisco José Coelho Teixeira, vai mediar o debate. Também haverá espaços para atividades de educação ambiental com estudantes de escolas públicas e a exposição do Museu do Rio São Francisco, no Oceanário do Projeto TAMAR.
À noite o encontro será no Museu da Gente Sergipana, onde serão feitos lançamentos de livros técnicos e literários, entre eles ‘Cheias e Enchentes do Baixo São Francisco’, do jornalista e engenheiro agrônomo José Augusto José Augusto Gama da Silva. Haverá ainda exposição fotográfica e apresentações do coral da OAB e do Grupo Renantique.
Temáticas
O Simpósio, que tem o apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Embrapa Tabuleiros Costeiros e outras instituições públicas e privadas, abordará também temas diversificados, como os usos múltiplos das águas do Rio São Francisco; uso e manejo do solo em bacias hidrográficas; gestão participativa (Comitês de Bacias/Conselhos); saneamento básico: eficiência, reuso e reciclagem; águas urbanas e desenvolvimento; segurança hídrica (disponibilidade); erosão e transporte de sedimentos; revitalização, recuperação e conservação hidroambiental.
Os organizadores também vão percorrer os principais pontos de captação de água no estado com visitas técnicas passando pela Barragem do Rio Poxim (Deso) em São Cristóvão, Adutora do São Francisco (Deso) em Propriá, Adutora do Alto Sertão e Semiárido (Deso) em Porto da Folha e Nossa Senhora da Glória e visita a UHE Xingó (Chesf) em Canindé de São Francisco.