ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 3:48:24

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Consumo de álcool cresce entre homens e mulheres em Aracaju

Da redação CS, Felipe Maceió

As bebidas alcoólicas são consumidas em larga escala pelo mundo afora, nas mais variadas ocasiões. Seja em festas, reuniões de amigos ou de familiares, sempre existe motivo para comemorar. Porém, a questão não está no simples ato de beber, mas na quantidade ingerida pela pessoa, pois dependendo do nível de álcool no corpo é possível que haja contribuição para desenvolvimento de problemas de saúde e situações que podem colocar em risco a vida de quem consome excessivamente o álcool.

A Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel Brasil 2018), um estudo elaborado pelo Ministério da Saúde, avaliou o consumo abusivo de bebidas alcóolicas nas capitais dos 26 estados e no Distrito Federal em 2018. Em Aracaju, 26% dos homens entrevistados afirmaram que consumiram cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma mesma ocasião em relação aos últimos 30 dias anteriores à data da pesquisa. Entre as mulheres, 11% revelaram o consumo de quatro ou mais doses no mesmo período.

Para fins de comparação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima como consumo saudável – sem nenhum dano à saúde – uma dose máxima de bebida alcoólica para o organismo de 30g, número que representa uma lata de cerveja, 100 ml de vinho ou 30 ml de bebidas destiladas. 

Número de doses

Em 2006, primeiro ano da Vigitel, a taxa de homens que afirmaram que consumiram a quantidade de doses de bebidas alcóolicas consideradas abusivas foi de 24,8%, representando assim um aumento de 1,2% na comparação entre as duas pesquisas. Naquele ano, 7,7% do público feminino pesquisado confirmou o excesso, elevando assim em 3,3% a taxa.

O empresário Armando Neto está no grupo dos que abusam conscientemente do consumo do álcool. Ele conta que começou a beber ainda adolescente, por volta dos 13 anos, escondido da família em festas com amigos, hábito que ficou mais frequente com o passar dos anos.

“Não sou muito de beber durante a semana, só às quartas que costumo ‘tomar uma’ com os amigos assistindo ao jogo. Mas nos fins de semana sempre tem as festinhas que a gente pode meter o pé na jaca porque somos filho de Deus e merecemos essa folga. Na segunda a gente está novo de novo”, conta.

O comportamento de exagerar em uma noite também é chamado de beber pesado episódico, ou binge drinking. É quando a pessoa não necessariamente vai para o bar todos os dias, mas muitas vezes passa da conta quando o faz. Essas bebedeiras ocasionais preocupam, pois elevam o risco de dependência química, que hoje atinge até 10% da população adulta e de uma série de doenças crônicas e tipos de câncer, aponta a OMS. 

Apesar de Armando não perceber os males que o excesso do consumo do álcool pode trazer à sua saúde, o médico gastroenterologista Gabriel André Setti alerta que esse é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo.

“No Brasil, o uso abusivo do álcool tem proporções epidêmicas porque ele é a substância psicoativa com maior consumo e dependência no Brasil. Embora a conotação de epidemia seja mais utilizada para se referir a doenças infecciosas que tragam risco à comunidade, o uso abusivo do álcool pode ser considerado como tal por ser um componente importantíssimo no desencadeamento da desestruturação social, com inúmeras consequências negativas para a sociedade. Isso sem falar nos efeitos imediatos, como a maior exposição a comportamentos de risco, como sexo desprotegido e acidentes de trânsito, para citar dois exemplos”, afirma.

Riscos

Dados do  Levantamento Nacional de Álcool (Lenad) reforçam que o consumo de bebidas alcoólicas e os riscos provenientes estão em crescimento. O estudo revela que nos últimos seis anos houve um aumento de 20% no número de pessoas que bebem de forma frequente (uma vez por semana ou mais). Considerando somente as mulheres, o aumento foi de 34%.

Foi somente após sofrer um acidente de carro que a pedagoga Aline Suzzano percebeu que os drinques a mais que tomava em cada saída poderiam causar-lhe danos irreparáveis.

“Sempre gostei de beber e tinha a ilusão que conhecia os meus limites, até que um dia dormi ao volante e bati em uma árvore. Foi aí que me dei conta que estava perdendo totalmente o controle, e a gente só percebe isso quanto algo muito ruim acontece”, lembra a pedagoga.

“A pesquisa mostra que o consumo excessivo de bebida alcóolica cresceu mais entre as mulheres, e isso é preocupante. É muito importante esse novo dado [do Ministério da Saúde] para alertar que a mulher não tolera muito álcool, e isso independe da tolerância psicológica. Não estamos falando de dependência, mas de abuso”, explica Gabriel Satti.

De acordo com a Vigitel Brasil 2018, a frequência de adultos que referiram conduzir veículos motorizados após o consumo de bebida alcoólica, em Aracaju, foi de 14% entre os homens e 2% entre as mulheres. 

A combinação bebida e álcool foi responsável pelas 784 autuações da Companhia de Policiamento de Trânsito (CPTran) registradas no ano passado durante operações da Lei Seca em todo o estado, segundo relatório do Centro de Estatísticas e Análise Criminal da Polícia Militar de Sergipe (CEAC/PMSE).

E como reduzir esse consumo exagerado de álcool tanto entre homens, quanto mulheres? Para o médico gastroenterologista, não existe uma abordagem preventiva específica, mas sim “o controle mais rigoroso e a orientação sobre os perigos do exagero, e de forma mais incisiva”.

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