ARACAJU/SE, 4 de maio de 2024 , 2:27:10

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Entenda por que a Geração Z tem dificuldade para se adaptar ao mercado de trabalho atual

 

Uma das muitas revoluções pelas quais o mercado de trabalho passa atualmente tem sido protagonizada pela Geração Z, que tem ditado não só as novas formas de consumo, mas também como as pessoas se relacionam com seus empregos. Isso tem obrigado empresas a se adaptarem para receber essa nova força de trabalho, que traz características diferentes de seus antecessores Millennials.

O professor e especialista em colaboração intergeracional Dado Schneider estuda essa geração desde quando eles ainda eram adolescentes, no começo da década passada, e já alertava que grandes mudanças estavam por vir. O motor dessa grande revolução tem nome. “A internet tirou a informação da mão de poucos e colocou na mão de muitos”, afirmou, durante sua palestra no Gramado Summit, que aconteceu na Serra Gaúcha.

Eles repelem e-mails, carreiras dos pais e materialismo

Schneider crava que a Geração Z é a “mais diferente de seus antecessores” desde o movimento hippie, que marcou os anos 1960. Em pesquisas realizadas com então adolescentes por volta de 2011 e 2012, ele já identificava uma aversão desse público ao e-mail, pela demora na obtenção de uma resposta, e que as carreiras dos pais não os inspiravam a seguir seus passos. “Eles ainda não sabiam o que seriam no futuro, mas tinham certeza de que não trabalhariam no mesmo que seus pais”, disse.

Em 2013, em uma nova rodada de pesquisas com adolescentes, o especialista quis saber por que os mais velhos não eram tidos como exemplos. De acordo com os resultados, a percepção é de que as gerações mais velhas teriam vindo ao mundo apenas para acumular bens, enquanto a Geração Z prezaria pela “experiência”. “O mundo está dizendo para eles terem experiências, porque, se der algum problema, eles voltam para o que eu chamo de ‘porta-aviões’, que são os pais”.

Democratização da informação muda percepção de hierarquia

A Geração Z foi a primeira a ser exposta a múltiplas telas desde a infância. Dessa forma, lida de maneira diferente com o acesso à informação. Enquanto gerações anteriores dependiam de pais, professores e pessoas mais velhas para ter acesso ao conteúdo, a internet ajudou tudo a chegar mais fácil às pessoas, e de forma lúdica. “Se informação era poder, estava concentrada na mão de poucos ‘velhos’. Agora, o poder está democratizado”.

Essa democratização da informação fez com que a geração enxergasse de forma diferente o conceito de “hierarquia”, que não é mais vertical, mas horizontal. De acordo com Schneider, isso não quer dizer que eles não respeitem chefes, mas que buscam um propósito no que lhes é demandado. Em vez do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, a agenda da Geração Z considera temas como sustentabilidade, inclusão, diversidade, cooperação e compartilhamento.

“Eles lidam com a autoridade de uma forma diferente, não dá para se exercer a autoridade da mesma forma que se fazia no passado”.

Em entrevista a PEGN, o especialista esclareceu que há diferenças decorrentes de recortes sociais. Jovens das classes C e D têm menos opções na hora de escolher um emprego e não têm o “porta-aviões”, mas têm o mesmo acesso à informação compartilhada na internet. Ele aposta que os líderes da Geração Z serão pessoas saídas deste estrato social.

“Se esse jovem teve uma avó (o especialista contextualiza que parte dos jovens dessa fatia social são criados ou cuidados por avós) que o incentivou a estudar com garra, ele vai se tornar um líder ainda mais capacitado. Os filhos da classe média não estão mais estudando, e pegaram a época de não repetir mais de ano”, afirmou.

“Adolescência do futuro”

Diferente do que acontecia com novas gerações, até a chegada dos Millennials, quando os trabalhadores se adaptavam ao mercado de trabalho, agora são as empresas que precisam virar a chave para as novas percepções.

“Deveríamos olhar para eles sem o filtro século XX. Eles estão trazendo um recado importante sobre a relação que temos com o trabalho, com essa busca exacerbada por alta performance. Se eles (os pais) não são o modelo, talvez eles venham com força e convicção para instituir outros modelos”.

De acordo com Schneider, o modelo de trabalho atual ainda é muito próximo ao que já se praticava no século XX, mas não caberá em um futuro cada vez mais transformado pelas influências iniciadas na Geração Z. Ele classificou que estamos vivendo a “adolescência do futuro”, ou ainda a “adolescência do futuro do trabalho”. “Daqui a dez ou 15 anos não teremos mais resquício do século XX na rotina de trabalho. Aí, de fato, vivemos o futuro”.

Fonte: Revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios (PEGN)

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