Que Sergipe é um celeiro de escritores e poetas, nós já sabemos. Dessa forma, é bem verdade que a publicação de livros vai até bem. Por outro lado, a distribuição é um ponto a ser melhorado, pois não há, no estado, distribuição comercial da literatura aqui produzida. O que temos, em sua grande maioria, é a produção independente, isto é, o autor é o encarregado da venda dos seus próprios livros. Há o caso de uma ou outra livraria e algumas papelarias que vendem os livros sergipanos, mas estes são levados para o ponto de venda pelos próprios autores.
Assim, o que vemos é uma distribuição circular, tiragem baixa, raramente ultrapassando 500 exemplares por título publicado e, normalmente, para um nicho fechado de escritores e poetas amigos presentes nos lançamentos e nas academias literárias. Abro aqui parênteses para citar a Editora da Seduc, que por obra e graça de editais, publicam dezenas de títulos anualmente. Estes são distribuídos nas escolas e bibliotecas públicas. Atitude louvável para que mais pessoas tenham acesso às produções literárias sergipanas e, por tabela, o incentivo à leitura. Cabe aqui um ligeiro protesto, uma vez que estes livros são editados e impressos fora de Sergipe, desviando para fora a contribuição econômica que poderia ser nossa, além de não prestigiar os editores e gráficas do estado.
Isso posto, entro no assunto das feiras literárias propriamente dito. Uma vez que o acesso ao livro não se dá de forma mais abrangente, como citei acima, as feiras literárias, encontros culturais, bienais do livro cumprem uma demanda fundamental para a disseminação do livro e do autor sergipano e fomento da leitura.
Estou radicado em Sergipe há 15 anos e lembro-me muito bem que, quando cheguei nas terras de Sergipe del Rey, não havia esse movimento. Por iniciativa do empresário Honorino Dias foi criada a Bienal do Livro de Itabaiana, que nasceu a partir de um encontro cultural em um colégio itabaianense. A partir daí não parou mais e o evento foi crescendo mais e mais, chegando a acontecer no Shopping Peixoto com sucesso de público. Pouco tempo depois, em 2017, o primeiro evento de grande porte aconteceu em Aracaju, a FLISE; um evento com características de feira e evento cultural, com um grande fluxo de pessoas e grande interesse geral.
O que temos acompanhado, desde então, é a criação de diversos eventos congêneres como a Festa Literária de Glória – FLIG, principal evento literário para venda de livros no sertão sergipano. Este também é um sucesso de público, com a presença grandiosa de estudantes. Nessa linha foi criada há dois anos a Bienal do Livro de Lagarto, que começou modesta, em uma escola pública e, neste ano, nos dias 24 e 25 de maio, será realizada no campus lagartense da Universidade Federal de Sergipe, sendo, portanto, uma prova da importância do evento na região. Brevemente acontecerá, nos dias 17 e 18 de maio, a I Bienal do Livro e Cultural de Aracaju, no Aracaju Parque Shopping. O evento promete diversas atividades e a presença confirmada de 90 autores.
De forma mais modesta, mas não menos importante, seguindo uma linha que mistura cultura, arte e literatura, com a presença de autores apresentando suas obras, aconteceu em Itaporanga d’Ajuda, Estância e Areia Branca eventos com vendas de livros. Ainda citamos os festivais de poesia falada em Estância e Japaratuba, além dos encontros de escritores em outras cidades como Monte Alegre de Sergipe, por exemplo.
O que apresento aqui é a grande importância desses eventos, que colaboram de maneira exemplar na publicidade das editoras, gráficas, autores e suas obras. O crescente número de eventos a cada ano testifica a procura e essa importância. Junte-se, ainda, a criação de dezenas academias literárias e movimentos culturais, como a União Brasileira de Escritores – UBE, unidade Sergipe, e diversos clubes de leitura que atraem centenas de jovens para os livros. Esse movimento todo é muito interessante de acompanhar e apoiar.
Tudo isso contribui para que o livro esteja presente também, além das academias, das bibliotecas e do círculo habitual, para as grandes massas de forma mais direta, ainda que comercial. Vale lembrar que um dos grandes entraves para a ampla distribuição de literatura é a questão financeira; a maior parte da população sergipana não alcança poder aquisitivo que justifique a compra de livros de forma habitual. Além disso, o pouco hábito da leitura, que é um problema crônico nível Brasil, mas isso já será assunto para outro artigo.
JOSELITO MIRANDA DE SOUZA
Diretor e produtor gráfico da Editora ArtNer.