ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 5:39:06

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A praça dos meus sonhos

Não me incomodaria de morar em frente a uma praça. Não ia impor que fosse enorme, nem que tivesse fonte luminosa. Bastava a presença de várias e várias árvores. Um quadrado ou retângulo assinalado por trilhas calçadas a paralelepípedos ou cimentado, bancos embaixo das árvores, onde pudesse me sentar, sem receio do sol, a fim de ver a vida passar, quando estivesse à toa. Caminhos que entrecortassem toda a área da praça, onde donos de cães pudessem com eles   tranquilamente passear. Talvez exigisse parreiras em algum canto, os galhos se ramificando pelos troncos, a parreira parindo no tempo certo, sem perder o receio desta cair nos olhos e nas mãos de vândalos, acostumados a extrair a fruta antes do tempo certo. É bom pensar e pesar primeiro na conveniência. Quem sabe lá se a cena, que presenciei, de pessoas atirando paus numa mangueira de uma praça, a fim de derrubar uma manga ainda verde, me tenha acendido o sinal vermelho de não se colocar cristais no caminho dos elefantes, nem oferecer talhares a porcos?!.

A necessidade da rua ser calma, sem muito movimento, para permitir a travessia livre de surpresas, entra no projeto. Na praça não exigiria árvores de diversas espécies. Bastavam  oitizeiros que crescem e espalham sombras, os oitis marcando o chão sem ninguém estar a atirar pedras, como vi, menino, na Praça da Matriz, em Itabaiana. Admito que também joguei pedras, sem nunca derrubar nenhum oiti. Alguns jambeiros se faziam oportunos, suas folhas a oferecer largo espaço de sombra, e, ainda, sim, porque que não, mangueiras, para não semear nestas o sentimento de rejeição, tanto fazendo ser rosa como espada, o importante era a mangueira crescer, subir, estender os galhos para todos os lados. Por fim, uma pequena arquibancada, para quem quisesse variar dos bancos. Deixaria de fora viveiro de aves, porque terminariam morrendo de fome, pelo descuido de quem deveria alimentá-las e cuidar de suas acomodações.

Penso que a praça assim já existe. Já me deparei com algumas que me deixaram com água na boca, embora não a descarte só com árvores e bancos, verde para azul nenhum botar defeito. Contudo, fico na minha, traçando meus recantos sem régua e sem compasso, evitando desejar a praça dos outros. Pode ser pecado, embora não conste dos dez mandamentos. Ainda bem.

 

                                                  Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras