ARACAJU/SE, 14 de novembro de 2025 , 11:10:31

De canetas ao longo dos tempos

Vladimir Souza Carvalho

No primário, obrigatório o aluno portar lápis e caneta-tinteiro. O uso do lápis era o usual. Um dia, de raiva, quebrei um nos dedos ao receber uma reprimenda da professora. Da caneta-tinteiro, nenhum registro encontrei nos escaninhos da memória.  A esferográfica só foi aportar em Itabaiana nos tempos do Ginásio. Não esqueci um ancestral qualquer que apareceu, exibindo, como ponto de atração, o desenho do corpo nu de mulher. O movimento da caneta fazia a mulher, aos poucos, ir surgindo. Era um sucesso danado numa época em que as saias eram compridas e as meninas só usavam short nas aulas de educação física.

Um fato lá atrás me convence da Bic se fazer presente já no primeiro ano do curso ginasial, 1962. A caneta de um aluno da primeira série C apresentou defeito, tendo o colega a futucado, e, daí, obteve acesso ao tubo da tinta, despejando-a na parte inferior da carteira – onde se guardavam cadernos e livros -. e, espertamente, a trocou pela minha, que, conhecendo a origem da mudança, não engoli o fato, restaurando a situação anterior. A tinta, meio pastosa, em contato com livros ou cadernos, contaminaria o que tivesse contato, sujeira que sabão algum resolveria.

As primeiras esferográficas Bic decretaram a morte da caneta-tinteiro, que, aos poucos, foram recuando, sem condições de resistir a novidade que surgia, a dispensar o uso do tinteiro, o estoque de tinta gasto era exibido, tinha certa durabilidade, só não resistindo a uma queda com a ponta esferográfica se chocando no chão, seu ponto fraco, a ensejar a morte imediata, reza nenhuma lhe fazia voltar ao que era, a caneta perdendo a capacidade de escrever, o que, infalivelmente, abria a cancela para o seu sepultamento jogada em qualquer lata de lixo.

A esferográfica dominou o mercado, municiada por diversas fábricas, via de várias cores e modelos. A caneta-tinteiro, depois de décadas de separação, retornou às minhas mãos, eu já magistrado, fazendo permanente estoque, as mantendo ao meu lado, dando-lhe serviço, na assinatura de decisórios. Agora, na inatividade, as mantenho em minha frente, na cata de algo para fazer, a fim de lhes dar serventia. Devem ter saudade do estagio que virou passado. Contudo, não abrem a boca para alguma reclamação. Eu me conservo calado.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras