ARACAJU/SE, 12 de outubro de 2025 , 17:41:13

Alba, três anos depois

Alba, três anos depois – Hoje, 20 de setembro, três anos da morte de Alba. Poderia dizer que foi ontem, ante a rapidez que a vida passa. Mas não foi, por carregar em seu trajeto tempo suficiente para todos se adaptarem a realidade do óbito, da morte ter lhe levado, como esperado era, restando aos que ficaram a lembrança da imensidão de seus atos, deixando em todos, irmãos, filhos, netos, demais parentes e uma infinidade de amigos, a saudade que, se não aumenta no dia a dia, tampouco diminui, como se ela perdurasse viva, como todos nós a mantemos em nosso coração.

Três anos. A filha,  que foi os olhos de papai, em meio a dois valetes, sozinha mais danada que eu e Bosco juntos e multiplicados, ativa, participativa, a espalhar favores aos que lhe eram próximos, chegando a abrir sepulturas de familiares para abrigar corpo dos que não tinham lugar para o eterno repouso. Alba, que acompanhava os doentes amigos nas viagens a Aracaju, na busca de recursos médicos, que arrecadava dinheiro destinado aos necessitados dos que lhe eram próximos. Alba, de paixões políticas, cujas vitórias lhe levavam as ruas para participar da alegria do resultado, e as derrotas lhe escondiam no banheiro, a fim de de não  ouvir os foguetes dos vitoriosos. Apaixonada, fiel a tradição herdada de papai, sem esconder de ninguém, com autoridade suficiente para, sem ofensas, negar o voto a quem não fosse do seu grupo político.

Se não foi mãe de uma filha, criou a neta mais velha, e se cercou, ao todo, de oito netas, extraordinária penca, sua permanente alegria, ventura que os seus varões lhe proporcionavam, amando a todas, sem distinção, da danada, briguenta como ela era, dizia, à mais calada, as paredes da casa exibindo fotos das netas das festas dos quinze anos, a alegria da casa se encher das netas, catalogando entre elas a médica, no orgulho, nas consultas médicas, de se fazer acompanhar desta, para dizer ao médico que era neta e médica, a preocupação com outra neta, que fazia o curso de medicina, se teria vocação para tanto por ter sido muito tranquina.

Morreu na madrugada, silenciosamente. Afianço que, feliz, porque, ali, no apartamento, desde muitos  e muitos dias, estava uma  neta, a médica, que não saia do seu lado, brigando com as enfermeiras que não sabiam colocar o soro, como ela brigaria, topetuda que sempre foi – Correio de Sergipe, 27-28 de setembro de 2025.    

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras