ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 14:19:20

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Aprendendo a poupar

A nossa relação com o dinheiro inicia-se cada vez mais cedo, seja via a educação de casa, com os pais; seja a educação formal, nas escolas, sendo uma questão que deve ser priorizada, pois percebe-se que existem efetivas necessidades de compreensão da relação cotidiana das pessoas com os seus recursos financeiros, na perspectiva de que seja possível fazer escolhas cada vez mais conscientes.

Nossas necessidades e desejos, nossas escolhas afetam a qualidade de vida no presente e no futuro e isto depende de um bom controle financeiro do orçamento pessoal e familiar. Já o orçamento pessoal ou familiar é uma ferramenta para a compreensão dos próprios hábitos de consumo das pessoas e, isto implica em aplicarmos os conceitos de receitas e despesas na elaboração do orçamento, numa perspectiva de torná-lo superavitário.

Assim, o primeiro aprendizado que devemos passar aos nossos filhos é sobre a função poupança. Sobre poupar é importante que saibamos que ao acumular valores financeiros no presente, estamos preparando o que iremos consumir no futuro. Mesmo que sejam pequenos valores que poupamos no presente, mas se fizermos de forma contínua, referidos recursos irão fazer uma diferença significativa na sua qualidade de vida no futuro. Assim, são vários os motivos para poupar: precaver-se diante de situações inesperadas, fazer os investimentos desejados, realizar sonhos, preparar para a aposentadoria futura de forma tranquila, e muitas outras possibilidades.

Para poupar é importante buscar gastar menos do que se ganha, é algo difícil, mas não é impossível, pois nossas necessidades e desejos têm levado a um consumo acima de nossos limites e possibilidades e muitas pessoas fazem o inverso, utilizam-se de dívidas com perfil inadequado para continuidade de seu padrão de consumo. É importante entender que o crédito não é uma fonte adicional de renda; ele é uma antecipação de recursos para a realização de desejos, ele tem uma função de alavancagem e antecipação de consumo, mas não pode ser confundido com rendimento, sob risco de endividamento excessivo.

Para que o hábito de poupança inicie cedo é importante explicarmos para as crianças noções de consumo planejado e consciente, inserindo-se na lógica de sustentabilidade e melhoria da qualidade de vida.

Ainda existe para alguns uma tradição de usar o cofrinho para que as crianças aprendam a poupar, isto já foi mais forte em algumas décadas passadas, mas o hábito ainda permanece, claro que alguns cuidados de segurança da criança e também da psicologia da função poupança. É importante informar para a criança que no cofrinho ela irá guardar o dinheiro para comprar algo que deseja, daí uma tradição de quebra do cofrinho que é para a contagem, verificação do valor e efetivação da compra daquilo que foi desejado. É um exercício do imaginário infantil mas que insere o hábito de poupar e o entendimento da função poupança no consumo consciente e adequado do cidadão em formação.

É importante entender que para poupar não devemos fazer privações de necessidades básicas e essenciais, mas precisamos evitar consumo de bens e itens desnecessários, os chamados supérfluos.

A questão é a definição individual do que é um bem supérfluo. A principal lógica é sobre a essencialidade e uso do bem ou serviço. Para alguns, comer fora de casa não seria um gasto supérfluo, mas para outros seria; comprar roupas novas mensalmente, para alguns seria uma necessidade básica, para outros seria supérfluo; realizar viagens e passeios seja no país e/ou no exterior, pode ser supérfluo para alguns e não para outros. Se ultrapassa a sua capacidade financeira e tira recursos que poderiam ser destinados para a poupança, pode ser considerado supérfluo, mas é algo bem individual dos hábitos e costumes de cada um.

Um ponto que é inevitável para pensar em poupança é o de que, se conseguirmos viver mais iremos envelhecer, algo natural, esperado e inevitável, portanto, a poupança deve ser pensada para este momento especial de nossas vidas. Assim, ao falar de poupança estamos estabelecendo uma lógica de cuidados com a saúde física, emocional, mental e financeira, preservando a qualidade de vida presente que irá garantir um futuro melhor.

Interessante que o ano de 2020, em face da pandemia mundial que forçou o isolamento social, percebeu-se uma forte redução dos gastos com viagens, festas, idas a bares e restaurantes, conforme pesquisa divulgada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais           (ANBIMA), e isto favoreceu a formação de uma poupança involuntária para uma parte da população que consequentemente reduziu os seus gastos. Porém, agora com o retorno da abertura de atividades e eventos, os preços das viagens e todas as demais atividades aumentaram de valor e muitos que seguraram o consumo iniciaram um processo retorno ao consumo de forma não tão bem planejada, o que pode resultar em riscos de descontrole financeiro, porém se foram utilizados adequadamente os recursos que foram poupados, referidos riscos serão mitigados.

Segundo a pesquisa da ANBIMA já citada, para 56% das pessoas que conseguiram guardar algum dinheiro no ano passado, a principal motivação foi o isolamento social provocado pela pandemia. Um ano antes, quando não havia pandemia, apenas 34% das pessoas que economizaram apontaram a redução desses gastos como origem dos recursos poupados. Isso significa que, enquanto em 2019 em torno de 12 milhões de brasileiros disseram economizar em razão do corte de gastos, em 2020 o total saltou para mais de 20 milhões de pessoas.

Segundo a ANBIMA, o impacto da pandemia e do distanciamento social sobre a forma como os brasileiros economizaram dinheiro foi tão significativo a ponto de 7% deles, ou algo próximo a 2,5 milhões de pessoas, afirmarem que guardaram porque não tinham onde gastar.

Que o legado do hábito de poupar seja consistente para que as pessoas possam ter uma melhor qualidade de vida e possam realizar os seus sonhos.