Primeiro vejo uma foto, do ano de 1963, para poder afirmar que a manga da camisa da farda do Ginásio era comprida. Tecido de cor amarronzado. Não me pergunte que tipo, que eu não sei responder. A calça, marrom, de caqui, sapato preto. Das meninas, blusa branca, manga comprida, saia azul, bem rodada, sapato preto, meia branca. Ia esquecendo de um enfeite, tipo gravata, de cor azul, pendurado na blusa. As alunas do curso normal, nos desfiles de Sete de Setembro, usavam um boné branco e luvas igualmente brancas. Os meus olhos, nos seus doze a treze anos, ficam encantados com a boina e a luva. Até as alunas feias se tornavam bonitas. A farda das meninas nada tinha de original, copiada de outros colégios, mas não perdia o encanto, por enfeitar os espaçosos galpões, balançando no caminhar ou no correr, a combinar com o branco das blusas, mesmo que no momento o vento não se fizesse presente. Ou, no instante da entrada de todos depois de dez minutos de recreio, os meninos de um lado, enfileirados, as meninas encostadas à parede, a harmonia que as várias saias produziam, uma a uma entrando na sala, quando o inspetor da turma dava sinal, os meninos depois, a disciplina do silêncio imperando. E aí, docente chegando, a chamada inaugurava a aula.
As fotos, aqui e ali exibidas, dos anos cinquenta, sessenta e setenta, comprovam o afirmado, mesmo que algum aluno não colocasse a camisa por dentro da calça, não fechasse todos os botões, ou usasse sandália. Das meninas, não, obediência total, nada, absolutamente nada, fora do prumo.
Justamente nessas fotos que eu coloco a memória para funcionar, distinguindo os rostos de uns, me enganchando com outros, consultando os do meu tempo na solução das dúvidas, alguns e algumas de outras turmas e séries que via diariamente e nunca falei nem sabia o nome, num verdadeiro teste que mexe com o telhado da gente parindo goteiras, perplexo com a transformação que o tempo proporcionou e mexeu com todos, que seguiram adiante ou dali não arredaram o pé.
Nos anos oitenta, quando vi alunos do Ginásio com calça jeans de cor azul, camisa branca de algodão, parei por custar a acreditar. Foi aí que ouvi uma voz, bem longe, a sussurrar, suavemente, no meu ouvido, que o ginásio do meu tempo não existia mais. Não contestei.