ARACAJU/SE, 22 de novembro de 2025 , 5:34:38

Estabilidade Financeira no Brasil

 

Apresentarei adiante, algumas informações que foram apresentadas no Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central do Brasil de novembro de 2025.  O Relatório de Estabilidade Financeira é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil que apresenta o panorama da evolução recente e as perspectivas para a estabilidade financeira no Brasil, com foco nos principais riscos e na resiliência do Sistema Financeiro Nacional (SFN), bem como comunica a visão do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) sobre a política e as medidas para preservação da estabilidade financeira.

Importante apresentar a conceituação do Banco Central do Brasil sobre o que é estabilidade financeira. Para o Banco Central do Brasil é a manutenção, ao longo do tempo e em qualquer cenário econômico, do regular funcionamento do sistema de intermediação financeira entre famílias, empresas e governo.

Com relação ao ambiente externo, o relatório aponta que o cenário se mantém incerto, pois as implicações do reposicionamento das políticas comerciais globais ainda não estão plenamente compreendidas. Apesar da conclusão de acordos comerciais e da entrada em vigor das tarifas recíprocas e setoriais anunciadas pelos Estados Unidos da América (EUA), a incerteza permanece, e tende a permanecer elevada. A visão é de que essa incerteza se consolida em um momento em que o processo de desinflação nas principais economias segue incompleto e avançando lentamente, e a atividade econômica dá sinais de desaceleração. Assim, fica evidenciado que o ambiente externo impõe cautela para o Sistema Financeiro Nacional.

No âmbito doméstico, o relatório do Banco Central, aponta que a atividade econômica terminou o semestre desacelerando, conforme esperado. O mercado de trabalho segue dinâmico. A desaceleração no segundo trimestre concentrou-se nos setores menos cíclicos da economia. A taxa de desocupação manteve a trajetória de queda e atingiu o mínimo histórico, com destaque para a ocupação formal. O rendimento médio do trabalho mantém crescimento elevado em termos reais, com aceleração na margem. Vê-se que a visão no âmbito do Brasil, que é o conceito de âmbito doméstico, é mais favorável para o Sistema Financeiro Nacional.

O Banco Central do Brasil considera que não há risco relevante para a estabilidade financeira. O Sistema Financeiro Nacional permanece com capitalização e liquidez confortáveis e provisões adequadas ao nível de perdas esperadas. Além disso, os testes de estresse de capital e de liquidez demonstram a robustez do sistema bancário. Aqui cabe registrar que este relatório é do 1º semestre de 2025, os dados mesmo com prospecções não trazem fatos recentes, como o caso recente que envolve a liquidação extrajudicial que o Banco Central do Brasil promoveu com o Banco Master, que foi um caso isolado dentro do sistema financeiro.

Esta premissa de solidez do sistema financeiro nacional é confirmada no relatório, ao apontar que a confiança do mercado financeiro na estabilidade do Sistema Financeiro Nacional permanece próxima à máxima histórica. Além disso, em pesquisa na qual o Banco Central do Brasil consulta o mercado sobre suas percepções acerca da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, 80% das instituições financeiras (IFs) manifestaram muita ou total confiança na resiliência do Sistema Financeiro Nacional. E nas menções sobre riscos, destacam-se as preocupações com o risco fiscal, com o risco do cenário internacional e com o risco de inadimplência e atividade. Adicionalmente, vêm crescendo as citações ao risco operacional/cibernético em um sistema financeiro cada vez mais digitalizado.

Um ponto que chama a atenção no relatório é a abordagem sobre a desaceleração do financiamento, de acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira, o financiamento à economia real desacelerou, em linha com as condições financeiras mais restritivas e com a moderação no crescimento da atividade econômica. O crédito arrefeceu na margem em quase todas as modalidades para famílias e portes de empresas. Um menor crescimento ocorreu também no mercado de capitais, que, no entanto, continua crescendo a taxas elevadas e ganhando representatividade no financiamento para empresas.

A informação acima está em linha com o que foi apresentado em um outro documento do Banco Central do Brasil denominado de Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito (resultados de setembro de 2025), na qual aponta que as  instituições financeiras pesquisadas avaliam que: de forma geral, as condições de oferta de crédito continuam se deteriorando e espera-se que esta tendência continue em quarto trimestre de 2025; a demanda observada no terceiro trimestre de 2025 manteve-se igual ou superior à verificada no trimestre anterior. Esse comportamento deve continuar no 4º trimestre de 2025, exceto para financiamentos voltados para Pessoas Físicas no segmento habitacional, que pode apresentar demanda mais fraca.  Some-se ainda, uma situação em que o nível de tolerância ao risco e a inadimplência pioraram em todos os segmentos. Destaque para a inadimplência do segmento Pessoa Física (crédito para consumo), cujo índice do terceiro trimestre de 2025 superou as expectativas. Para o 4º trimestre de 2025, projeta-se aumento adicional de risco/inadimplência em todos os segmentos.

O Relatório de Estabilidade Financeira aponta que as Instituições Financeiras reduziram o apetite ao risco. Com isso, a desaceleração do crescimento do crédito foi acompanhada por uma melhora na qualidade das contratações na maior parte, tanto das modalidades de crédito para famílias quanto de portes de empresas. No entanto, o crédito pessoal não consignado ainda mantém alta taxa de crescimento, com participação relevante de operações sem garantia. Prospectivamente, a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito (PTC) indica oferta de crédito ainda restritiva para o financiamento habitacional e o crédito a empresas.

Este é um resumo do cenário atual da estabilidade financeira do nosso país.