Estudos recentes da Organização das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), apontam que o investimento estrangeiro direto (IED) global caiu 3% no primeiro semestre de 2025, prolongando uma queda de dois anos, à medida que as tensões comerciais, as altas taxas de juros e a incerteza geopolítica mantiveram os investidores cautelosos, afirmou a entidade internacional em seu mais recente Monitor de Tendências de Investimento Global.
Segundo a UNCTAD, a queda foi impulsionada pelas economias desenvolvidas, onde as fusões e aquisições transfronteiriças (M&A) que normalmente representam uma grande parte do seu investimento direto estrangeiro (IDE) caíram 18%, para 173 mil milhões de dólares.
As economias em desenvolvimento apresentaram um desempenho melhor no geral, com os fluxos permanecendo estáveis. No entanto, as tendências divergiram por região. Os fluxos de entrada aumentaram 12% na América Latina e no Caribe e 7% nos países em desenvolvimento da Ásia, mas caíram 42% na África.
Sofrem grande impacto a infraestrutura e o setor manufatureiro, pois os elevados custos de empréstimo e a incerteza econômica continuaram a restringir o investimento na indústria e na infraestrutura no primeiro semestre de 2025.
Os anúncios de projetos greenfield (quando as empresas constroem novas operações no exterior) caíram 17% em número, impulsionados por um declínio de 29% na manufatura intensiva em cadeias de suprimentos, como têxteis, eletrônicos e automotivos, em meio à incerteza tarifária. Além disso, o financiamento internacional de projetos, que é crucial para o desenvolvimento de infraestrutura, também registrou queda, com redução de 11% no número de negócios e de 8% no valor.
A tendência foi mais positiva nas economias em desenvolvimento, onde os negócios de financiamento de projetos caíram apenas 2% após dois anos de fortes declínios. Apesar do menor número de negócios, o valor total aumentou 21%, impulsionado por alguns projetos de grande escala no Panamá, nos Emirados Árabes Unidos e no Uzbequistão, porém uma recuperação generalizada ainda não se concretizou.
Mas este cenário desafiador apresenta um ponto positivo, na visão da UNCTAD, o impulsionamento de novos investimentos gerados pela inteligência artificial (IA). Apesar do número menor de projetos, o valor do investimento global em novas instalações aumentou 7%, impulsionado por grandes projetos em inteligência artificial (IA) e economia digital.
Um exemplo vem dos Estados Unidos que registraram US$ 237 bilhões em novos projetos greenfield no primeiro semestre de 2025, sendo quase o mesmo valor de 2024 e quatro vezes a média do primeiro semestre da última década. Mais da metade desse valor veio de setores relacionados à IA, particularmente semicondutores (US$ 103 bilhões) e data centers (US$ 27 bilhões).
Algo relevante e que precisa ser avaliado pelas sociedades é que o investimento em desenvolvimento sustentável ficou mais enfraquecido. O estudo da UNCTAD revela que o investimento em setores cruciais para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) continuou a cair no início de 2025. Os projetos de investimento relacionados aos ODS em países em desenvolvimento diminuíram 10% em número e 7% em valor no início de 2025, após quedas acentuadas no ano anterior. Os projetos nos países menos desenvolvidos estão a caminho de sofrer uma queda adicional de 5% em 2025, possivelmente atingindo o nível mais baixo desde 2015.
É preocupante que o investimento em infraestrutura tenha permanecido fraco nas economias em desenvolvimento. Isto pode ser percebido porque os projetos financiados internacionalmente, incluindo os de transportes e serviços públicos permaneceram cerca de 25% abaixo da média da década. Além disso, nos países menos desenvolvidos, o financiamento de projetos de infraestrutura caiu mais 85% em valor.
Tem-se também que a atividade de construção de infraestrutura em áreas não exploradas (greenfield) diminuiu 31% em valor e 25% em número, liderada por fortes contrações na América Latina e no Caribe (-78% em valor e -43% em número).
O investimento em energias renováveis, o maior setor relevante para os ODS, também apresentou queda. Globalmente, o financiamento internacional de projetos no setor – que representou quase dois terços do total global nos últimos anos caiu mais 9% em número e 10% em valor.
Os projetos globais de energia renovável em fase inicial também sofreram uma queda de 55% em número e 21% em valor. Nas economias em desenvolvimento, os projetos caíram 23%. Nos países menos desenvolvidos, a queda foi de 31% em número e 18% em valor.
O investimento em água e saneamento caiu 40%, sem novos projetos na África ou nos países menos desenvolvidos e com uma queda de 97% na América Latina e no Caribe.
Apenas os sistemas agroalimentares e a saúde apresentaram tendências positivas nas economias em desenvolvimento, com o investimento a manter-se estável no setor agroalimentar e a aumentar 37% na saúde, impulsionado principalmente por novos projetos na Ásia.
A minha visão ao apresentar estes dados da UNCTAD é de que precisamos entender a movimentação mundial dos investimentos nos países para a criação de uma lógica de atração de recursos que promovam o desenvolvimento local, mesmo em um cenário global de investimentos bastante desafiador neste ano de 2025.