Outro dia, parado no sinal, vi uma menina atravessando a rua com um All Star branco, novinho em folha.
Na hora, fui puxado pra longe, direto pra minha adolescência.
Me lembrei dos meus. Da época em que a gente usava até rasgar.
E, no fim do ano, fazia um ritual quase sagrado: pegava o tênis e pedia pros amigos da escola assinarem.
Frases, desenhos, letras de música, promessas. Tudo cabia ali.
Aquele All Star deixava de ser só um tênis.
Virava retrato. Um pedaço da nossa identidade rabiscado em lona.
Marcas como extensão de quem somos (ou queremos parecer)
A gente gosta de pensar que escolhe marcas por gosto ou necessidade.
Mas, na prática, escolhe por identificação.
As marcas falam por nós. Funcionam como espelho (ou disfarce).
Revelam quem somos, ou projetam quem gostaríamos de ser.
A Calvin Klein, por exemplo, surgiu quebrando paradigmas em suas campanhas provocantes.
Nunca foi só sobre roupa, era sobre atitude.
Aquele “ar de interessante” sem precisar fazer esforço.
Quando você vestia uma camisa branca da Calvin Klein, não estava apenas escolhendo uma peça, era como dizer algo sobre você, sua confiança, seu magnetismo.
Como se a marca desse um empurrãozinho, dizendo: “Vai lá, o resto você já tem.”
O que a sua marca faz as pessoas se tornarem?
Essa é uma das perguntas que mais gosto de fazer para empresários locais:
“Quando alguém escolhe sua marca, que tipo de pessoa ela se sente sendo?”
Porque marcas que realmente conectam emprestam atributos.
Elas entregam mais do que produto, entregam papéis sociais.
Veja só:
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A Jeep transforma o dono num explorador, mesmo que ele só enfrente a BR-116.
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A Apple faz o usuário se sentir criativo, conectado, parte da vanguarda, ainda que ele só use o aparelho pra responder e-mail e tirar foto do almoço.
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A Prada envolve quem veste num ar de elegância intelectual, ousadia contida, luxo com personalidade, mesmo que a pessoa só esteja indo até a padaria.
Perceba: nenhuma dessas marcas vende só o que fabrica. Elas vendem um estilo de vida.
Uma ideia de pessoa.
Marca que fica é a que faz sentir
Se você quer construir uma marca de verdade, precisa parar de pensar só no produto.
E começar a pensar na transformação simbólica que você oferece:
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Como o cliente se sente ao consumir você?
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Que traço da personalidade dele sua marca ativa ou reforça?
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Que tipo de pertencimento você está vendendo?
São como aquele velho All Star no fim do ano: cheias de marcas, de histórias, de vínculos. Não porque eram bonitos. Mas, porque eram nossos.