ARACAJU/SE, 22 de novembro de 2025 , 6:44:37

O crescimento do Crédito no Brasil na Visão do FMI

 

O FMI divulgou recentemente um paper denominado de “Explicando o forte crescimento do crédito no Brasil apesar das altas taxas de juros.” Escrito por  Swarnali A. Hannan, Daniel Leigh e Rui Xu. Swarnali A. Hannan é chefe adjunta de divisão no Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, Daniel Leigh é chefe da missão do FMI para o Brasil, e Rui Xu é economista no Departamento de Mercados Monetários e de Capitais.

No estudo deles, sob a égide do Fundo Monetário Internacional (FMI), o aumento da renda e a expansão das fintechs impulsionaram o crescimento do crédito, mesmo com a política monetária mantendo-se eficaz.

Os autores do estudo apontam que com 15%, a taxa de juros da política monetária brasileira (chamada Selic) é uma das mais altas entre as principais economias. Mesmo assim, em 2024, o crédito bancário cresceu 11,5% e a emissão de títulos corporativos aumentou 30%. Segundo os autores do estudo, essa expansão do crédito, em um contexto de altas taxas de juros, beneficiou muitos indivíduos, famílias e empresas. Mas também levantou questões sobre a eficácia da própria política monetária.

Na análise deles, no contexto da última revisão econômica anual do Brasil feita pelo FMI, conforme normativo de quem é sócio da entidade (a consulta do Artigo IV), mostra que as preocupações foram em grande parte infundadas e que a transmissão da política monetária no Brasil permanece eficaz. Pois os dados recentes indicam que o crescimento do crédito está começando a desacelerar.

Para os autores do estudo, o que aconteceu foi que mesmo com a política monetária cumprindo seu papel, observou-se dois outros fatores desempenhando um papel crucial: o forte crescimento da renda e o sucesso do país na expansão da inclusão financeira. Esses fatores impulsionaram a demanda por crédito e sua oferta.

Eles entendem que temos um Banco Central comprometido, pois o Banco Central do Brasil foi o primeiro grande banco central a aumentar as taxas de juros durante a pandemia. Após um período de flexibilização, iniciou um novo ciclo de aperto monetário em setembro de 2024. Assim, na visão dos autores, essas decisões foram apropriadas e guiadas pela necessidade de reduzir a inflação e as expectativas inflacionárias para a meta de 3%.

A taxa de inflação acumulada em doze meses no país atingiu 5,1% em agosto, uma ligeira queda em relação ao mês anterior, mas ainda bem acima da meta para este ano. As expectativas de inflação também devem permanecer acima da meta em um horizonte de dezoito meses. Isso explica o aumento das taxas de juros desde o início da pandemia, em consonância com os princípios padrão de metas de inflação.

Registre-se que na atualidade, os principais indicadores macroeconômicos do Brasil e que podem ser visualizados nos site do Banco Central do Brasil, apontam os seguintes dados: Taxa Selic (15%); e inflação – no acumulado dos últimos 12 mês (5,17%), a meta é 3,0% mais uma banda de 1,5%.

E os últimos dados do Relatório Focus que apresenta as expectativa do mercado sobre a economia, apontam os seguintes indicadores para 2025 e 2026: 2025 – a expectativa é que a inflação oficial medida pelo IPCA fique em 4,56% (praticamente na meta – pela banda superior); que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha um crescimento de 2,16%; a Selic ficando em 15%; o saldo de conta corrente com um déficit de US$ 70,8 bilhões; a balança comercial com um superávit de US$ 62 bilhões; um investimento direto no país de US$ 70 bilhões; e a dívida líquida do setor público ficando em 65,8% do PIB. Já para 2026 tem-se as seguintes perspectivas: a inflação oficial medida pelo IPCA fique em 4,20% (na meta – pela banda superior); que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha um crescimento de 1,78%; a Selic ficando em 12,25%; o saldo de conta corrente com um déficit de US$ 65 bilhões; a balança comercial com um superávit de US$ 66 bilhões; um investimento direto no país de US$ 70 bilhões; e a dívida líquida do setor público ficando em 70,0% do PIB.

Eles no estudo também buscaram avaliar a eficácia da transmissão da política monetária brasileira. E para avaliar a eficácia do aperto da política monetária brasileira, o relatório deles estima como as mudanças na taxa básica de juros do Banco Central se repassam para as taxas de empréstimo bancário pagas por famílias e empresas.

Eles constaram que um aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros eleva as taxas de empréstimo em cerca de 0,7 ponto percentual após quatro meses. Para elevar as taxas médias de empréstimo na economia em um ponto percentual, a taxa básica de juros deve aumentar em cerca de 1,4 ponto percentual, visto que aproximadamente 40% do crédito total é composto por empréstimos direcionados pelo governo, que são menos sensíveis a alterações na taxa básica de juros.

A análise deles também sugere que, desde 2020, as taxas de empréstimo corporativo tornaram-se mais sensíveis às variações da taxa básica de juros. Isso, segundo eles, pode ser resultado, em parte, da reforma de 2018 do BNDES, o maior banco de desenvolvimento do Brasil, que alinhou suas taxas de juros às taxas de mercado de longo prazo. A análise em nível bancário mostra que os empréstimos corporativos se ajustam mais rapidamente do que os empréstimos ao consumidor, provavelmente devido a margens mais apertadas e tomadores de empréstimo mais experientes. Por sua vez, os empréstimos ao consumidor com garantia em folha de pagamento são os menos sensíveis devido aos tetos de juros.

O que o estudo buscou apresentar e entender é o que impulsionou o crescimento do crédito no Brasil mesmo com uma política monetária mais restritiva. E a conclusão é a de que o crescimento do crédito tem sido forte nos últimos anos, devido tanto a fatores cíclicos quanto a mudanças estruturais. No âmbito cíclico, a economia brasileira cresceu mais rápido do que o esperado, com o baixo desemprego e o aumento da renda impulsionando a demanda por crédito e além disso, o Brasil vem realizando mudanças estruturais significativas que aumentaram a inclusão financeira e a disponibilidade de crédito.