ARACAJU/SE, 12 de outubro de 2025 , 17:38:55

O Ginásio, alguns pontos negativos e positivos

Vladimir Souza Carvalho

 

Anoto alguns fatos daqueles tempos: primeiro dia de aula. A professora entra na classe, não cumprimenta ninguém. Vai direto à matéria, sem nenhuma explicação para situar o discente. Ausente o calor humano. Em outro, o professor interrompe a chamada porque uma aluna, na última fila, estava consultando o caderno. Um sermão a demonstrar sua força. Todos deveriam ficar atentos à chamada, nada fazendo enquanto Sua Majestade estivesse a procedê-la. O outro lente lê um capítulo do livro. Frase por frase. Nenhuma explicação. A gente terminou se acostumando, a aula se transformando numa leitura, quando a matéria se apresentava com outro título. Acrescente-se a suprema autoridade do bedel de cada turma, a comandar a disciplina, que simbolizava o silêncio e o permanecer o aluno sentado na sua carteira, enquanto o professor não chegava ou faltava. Por aí, o rego por onde os defeitos passavam do afluente para o rio.

De positivo, um saco de novidades não vividas no primário: a farda; a aula de cinquenta minutos; o recreio de dez minutos entre uma aula e outra; o rol de colegas que aumentava assustadoramente, muitos dos quais se transformaram em amigos do coração pela vida afora; um professor para cada matéria; a presença de uma biblioteca que, até certo tempo, funcionou, como ponto de atração para encontros e conversas, onde muito namoro a teve por palco; bebedouro a dispensar a companhia da moringa; a fila que se formava, meninos de um lado, as  meninas de outro, para ingresso na sala de aula, as meninas primeiro, os meninos depois, fila que, pelo menos, na segunda série (ano de 1963) funcionou, a separação pelo sexo como pálida prova de que o século dezenove não estava completamente extinto.

Nem tudo era céu azul. A rosa se constitui de pétalas, mas a roseira espanta os dedos com os espinhos. O Ginásio, reunião de virtudes e defeitos, de salas de aulas e respectivas carteiras, onde dezenas de estudantes trilharam  durante quatro (alguns, cinco) anos, se transformando em estrada direcionada a cidades outras (Aracaju, a maioria), alcançando voos em diversas profissões. Ser oriundo de Itabaiana era marca registrada e respeitada. Alguns  fizeram história. Foi benéfico caminhar na sombra desses gigantes e tê-los como exemplos. Ainda hoje.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras