ARACAJU/SE, 18 de maio de 2024 , 12:28:03

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O Messias, a Igreja e a Arquidiocese de Aracaju

Para quem crê (como eu creio), Jesus é o Messias tão esperado por Israel, mas não reconhecido e, enfim, rejeitado pela imensa maioria judaica. O nome Messias tem, claro, uma origem hebraica e seu significado está diretamente ligado à figura messiânica, sendo uma referência ao “ungido” ou “enviado de Deus”.

Porém, na teoria judaica, com seu enfoque rigorosamente monoteísta, Deus não pode se materializar em nenhuma forma. A crença em um Messias divino que é a encarnação de Deus, aceita e proclamada pelos cristãos, contraria o preceito judaico da absoluta soberania e unicidade de Deus.

Compreensões à parte, nos últimos tempos têm aparecido nas redes digitais alguns indivíduos, aparentemente judeus, que se dedicam a desfazer a imagem de Jesus, inclusive negando a sua existência, ou, como dizem alguns, negando o Jesus histórico. Problema de cada um, que é livre para dizer o que bem entender, mas que deveria respeitar as crenças alheias. Falta, em muitas frentes religiosas, reciprocamente, respeito, tolerância e compreensão.

Em 23 de dezembro de 2004, o jornal “Folha de São Paulo” exibiu uma entrevista com o então presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, Rabino Henry Sobel, um dos colaboradores do Projeto “Brasil: Nunca Mais”, que redundou no livro homônimo, publicado pela Editora Vozes, em 1985, no ocaso da ditadura militar implantada com o golpe de 1964, projeto que teve a liderança de Dom Paulo Evaristo Arns, então cardeal-arcebispo de São Paulo, e que contou também com a colaboração do pastor Jaime Wright, além de grande equipe.

Da entrevista, podemos destacar a seguinte parte: Folha:Qual a importância de Jesus Cristo para a sua religião”? Sobel: “Acreditamos que Jesus foi um grande homem, um grande mestre que pregou ideais universais. Porém não o aceitamos como Messias ou Salvador, pois o judaísmo não reconhece um “filho de Deus” que se destaca e se eleva acima dos outros seres humanos. A convicção judaica é a de que todos os homens são iguais. Somos todos “filhos de Deus”, criados à sua imagem, e nenhum ser humano pode ser considerado mais divino do que os outros. Na teoria judaica, com seu enfoque rigorosamente monoteísta, Deus não pode se materializar em nenhuma forma.
A crença em um Messias divino que é a encarnação de Deus contraria o preceito judaico da absoluta soberania e unicidade de Deus. É importante frisar que nós, judeus, não rejeitamos os conceitos de Jesus sobre Deus, pois eles são essencialmente judaicos e derivam basicamente dos ensinamentos do Torá (a Bíblia judaica), com os quais Jesus se criou e os quais jamais negou. Jesus era judeu, nascido de mãe judia. Era chamado de ‘rabino’ e frequentava o Templo de Jerusalém, junto de seus discípulos”.

As pessoas religiosas que respeitam as crenças alheias sabem muito bem conviver com todos, mantendo a sua própria fé, mas compreendendo e respeitando as diferenças.

A Igreja Católica vem a ser a primeira denominação cristã de uma entidade religiosa. Para nós católicos, a Igreja vem de Jesus, no exato momento em que Ele diz a Simão: “Tu és Pedro e sobre esta pedra erguerei a minha Igreja” (Mt 16,18).

O termo grego traduzido como “católico” e romanizado como “universal” foi usado pela primeira vez para descrever a Igreja no início do século II. O primeiro uso conhecido da expressão “Igreja Católica” ocorreu na carta escrita por volta do ano 110 por Santo Inácio de Antioquia. Portanto, não foi uma invenção do imperador romano Constantino, como, erroneamente, sugerem alguns não católicos.

A Igreja Católica interpreta a expressão “esta pedra” referindo-se a Pedro como o início da sucessão apostólica: Jesus instituiu uma linha oficial intacta de sucessores de Pedro e dos outros apóstolos até os bispos atuais da Igreja Católica. Segundo esta visão teológica, o Papa Francisco é agora o vigário de Cristo que, junto com os outros bispos, exerce a autoridade de Cristo no ensino, governo e santificação da Igreja. Este é o magistério da Igreja, que se fundamenta na Palavra e na Tradição Apostólica.

Para os protestantes há outras interpretações para a fala de Jesus, dirigida a Simão Pedro. Cada denominação protestante, ou de outro ramo qualquer, pode apresentar uma versão. Todavia, não há como negar que, de Jesus aos apóstolos, e destes a nós, a Igreja não sofreu solução de continuidade, sofrendo, sim, mais adiante, as cisões dos ortodoxos, protestantes e outros segmentos. Estes todos se separaram. Nós católicos permanecemos na Igreja original. Um exemplo claro da não solução de continuidade está no Novo Testamento, guardado pelos séculos afora pela única denominação cristã então existente, a Igreja Católica, e recebido sem alterações pelas denominações protestantes, além de outras, o mesmo não ocorrendo com o Velho Testamento.

Pouco importa a interpretação que possam dar, fora do magistério da Igreja. Todavia, há, sim, uma interpretação superior: a pedra é Pedro em razão de sua confissão. Ele reconheceu em Jesus, o Salvador “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”! (Mt 16,16). A confissão de Pedro fez com que Jesus o tornasse herdeiro das chaves do céu. O primado a ele foi conferido e dele aos seus sucessores, encarnados nos bispos de Roma, que são os Papas, em sucessão contínua, pelos séculos adiante.

O principal sustentáculo para esta perspectiva pode ser visto no papel histórico-salvífico evidente que Pedro desempenha no Novo Testamento (especialmente nos Evangelhos e na primeira metade do livro de Atos). Sua evidência é perceptível de vários modos. Ele é o primeiro a anunciar o evangelho aos judeus (At 2,14-41). Junto de João, ele confirma a inclusão dos samaritanos na Igreja (At 8,14-25). Enfim, ele é o instrumento para a conversão dos primeiros gentios (At 10,11). Esta narrativa vívida no livro de Atos demonstra como as chaves do Reino foram usadas para edificar a Igreja. E, embora todos os apóstolos fossem ativos (Mt 18,18), o destaque de Pedro em vários pontos cruciais é incontestável. Ao correr ao túmulo vazio de Jesus, João não entrou: esperou por Pedro, que vinha atrás (Jo 20,3-6). João reconheceu, com esse gesto, o primado de Pedro.

Por hoje e por fim, a Arquidiocese de Aracaju encontra-se como sede vacante há seis meses. Esperamos, ansiosamente, quem virá comandar os destinos da cristandade católica aracajuana, considerando toda a nossa Arquidiocese. Que venha logo! E que venha para serenar ânimos, para bem nos conduzir, para bem traçar linhas pastorais e administrativas a serem seguidas pelo Clero e pelo Laicato. Que venha na paz do Senhor, com espírito de pai e de irmão, ao mesmo tempo. Com prudência, sabedoria e firmeza.