ARACAJU/SE, 15 de novembro de 2025 , 11:10:35

O que novembro traz

 

De novembro, a ligação sentimental que terebra o coração. O mês que atrai o de abril, peso que meu coração não aguenta. Mesmo assim, me embrenho em novembro, e, por ordem numérica, o dia 05, óbito de papai, no final da tarde e início da noite, sentado como um soldado prussiano, como Tobias Barreto desejava morrer. Tudo há trinta e seis atrás, um domingo. Dois dias após, 07, aniversário de Iana, dez anos,  comemoração morna, o parabéns abafado pelo luto, o horizonte sem nuvens anunciando tempestade, tudo caminhando bem, sem ninguém poder adivinhar que dez anos e seis meses após, exatamente em 09 de abril [2000], fosse sua vez, igualmente em um domingo, o sol expondo sua luz, que Iana, os olhos fechados em uma UTI, não viu. Nem lhe foi permitido apreciar o azul do céu despido de nuvem. Também não  brotou espaço para as despedidas. Solitariamente se foi, sem causar surpresa. A dor, que a crueza da notícia ensejou, com o tempo se revestiu de outras cores. Ainda queima por dentro.

Hoje, os dois são fotos que ostento em meu gabinete, o olhar obrigatório quando uso o computador, fotografias que, pela posição, parecem me fitar, Iana em várias etapas, menina, as bochechas dando ao rosto um tom arredondado, a pose que aprendeu a fazer para ser fotografada, Iana adulta, o riso aberto, maquiada para as fotos dos quinze anos, quando teve seu dia de princesa. Já papai colorizado, de bigode, a foto do quadro pendurado na sala, e  em preto e branco do acervo que vovó Brasília ostentava ao lado dos retratos dos demais filhos.

Novembro, ah, novembro, não fosse suficiente a carga dos explosivos que carrega, ainda puxa abril para o caldeirão, onde as centelhas de lembranças contaminam o ambiente, em tom provocativo, os dois meses se unindo causam estrago, pela força da radiação que as datas engendram, o dia lembrando um fato, ocorrência outra em dia lá adiante, e daí ajuntam no mesmo saco as datas de nascimento e de morte, reiterando a pancada que, no dia fatal foi dada, cada notícia cheirando a uma nova e forte bofetada na cara, o rosto ainda ardendo, apesar do tempo passado. Felizmente, só existe um mês de novembro em cada ano.